Aspectos positivos
- O comportamento defensivo demonstrado pela equipa no primeiro tempo. Com o seu bloco defensivo recuado no meio-campo a equipa melhorou ao nível de comportamento defensivo. Mas, como irei realçar nos aspectos negativos, piorou ao nível do comportamento ofensivo. Em abono da verdade, também se deve dizer que a equipa de Stefano Pioli foi praticamente inofensiva durante os primeiros 45 minutos, porque se limitou a fazer circular a bola para os corredores. Pioli quer implementar um modelo de jogo que dá mais ênfase à criação de jogo através dois processos: as triangulações nas alas e o aparecimento de jogadores no espaço existente entre a linha média e a linha avançada. O técnico italiano não tem porém, pura e simplesmente, um bom meio-campo. Carlos Sanchez não dá para todas. O colombiano tem uma capacidade de passe interessante mas é quase sempre obrigado a variar o centro de jogo para as alas porque não joga com um elemento próximo. Tanto na alas, terrenos onde Gelson e Acuña deram uma preciosa ajuda aos respectivos laterais como no espaço central, terreno onde Battaglia foi rei e senhor com a ajuda pontual de William Carvalho em alguns lances (uma interessante exibição a central; sempre bem posicionado, sempre correcto e limpinho na marcação e nos duelos contra Babacar; boas antecipações sempre que a Fiorentina tentava servir o seu avançado na fase de construção), a equipa do Sporting teve um comportamento francamente positivo. Esta equipa demonstra que é capaz de ter um comportamento defensivo mais assertivo em bloco baixo. Em bloco médio\alto a equipa tem duas enormes lacunas: se a linha de pressão é ultrapassada, existe muito espaço para jogar entre a linha do meio-campo e a linha defensiva, e tem sérias dificuldades no controlo à profundidade. A exibição de Battaglia destacou-se precisamente porque o argentino foi clarividente a anular o espaço entre linhas, a recuperar e a lançar-se nas suas famosas cavalgadas com bola. Claro está que o controlo à profundidade está sempre dependente da pressão que é realizada a meio-campo. Se as unidades do meio-campo pressionam bem, cortam espaço e tempo para o armador pensar o lançamento, podem gerar-se duas situações: o lançamento não sai redondinho para as costas da defesa ou pura e simplesmente não sai porque o jogador perde a oportunidade de lançamento e por conseguinte é obrigado a procurar outra solução. Não creio que Jesus vá alterar assim de repente as suas ideias de jogo apesar de ter vindo a testar durante a pré-temporada um novo sistema táctico, sistema em que continua a privilegiar um sistema de pressão avançado no terreno.
- A exibição de William Carvalho. Ainda pode sair a jogar com uma natural tranquilidade. É um assombro de jogador.
- A exibição de Battaglia. Leitura posicional perfeita, agressividade, recuperação e lançamento do ataque. Estão desfeitas as dúvidas em relação ao jogador. É forte, é craque, é abnegado. Precisa apenas de aprender a soltar a bola no tempo correcto quando se lança ao ataque.
- Melhorias na exibição de Piccini. De jogo para jogo, o italiano está a melhorar ao nível posicionamento (já não dá tanto espaço para o adversário directo manobrar, é incisivo no 1×1) e já começa a mostrar mais serviço no ataque. Na 2ª parte, protagonizou o melhor lance individual do encontro quando rasgou pela direita para ganhar a linha de fundo, entrar na área e servir Daniel Podence à boca da baliza.
- Gelson. Soberbo. Quando o extremo entra no corredor central traz muita velocidade ao jogo e cria uma informação adicional ao adversário, à qual este nem sempre tem capacidade de se adaptar rapidamente e de forma eficaz. O internacional português consegue em todo o lado (até na esquerda) sem nunca comprometer defensivamente.
- Um lance de mestria técnica por parte de Daniel Podence na primeira parte. Com um movimento de antecipação para a direita, o avançado deu a entender a Davide Astori que iria cair para a direita. O central acompanhou-o e o avançado, de forma inteligente, deu um passo atrás para receber a bola e pregar um valente nó no rígido central Viola antes de almejar a baliza de Marco Sportiello.
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- Um interessante passe de ruptura de Bruno Fernandes para o inteligente Bas Dost. Libertando-se da pressão realizada pelo adversário com uma subtil rotação, o médio percebe imediatamente o movimento de desmarcação (em diagonal) de Bas Dost para as costas da defesa. O holandês revela uma enorme inteligência na gestão da sua posição face a linha defensiva adversária. Não foi porém eficiente a receber no lance em questão de forma a poder finalizar na cara de Sportiello.
Aspectos negativos
- O recuo do bloco defensivo diminui o poderio ofensivo deste Sporting. Durante o primeiro tempo, a equipa saiu meia dúzia de vezes em contra-ataque e só conseguiu sair porque os italianos demonstraram pouquíssima força nas pernas. Bruno Fernandes (2 movimentos em diagonal para o flanco direito nos quais recebeu e disparou que nem uma flecha) Acuña e Gelson só puderam criar perigo no contra-ataque porque o meio-campo Viola não teve capacidade para fazer uma rápida transição defensiva. Nesse punhado de situações, a desorganizada defensiva Viola ficou exposta. Foi o que valeu à equipa leonina para construir os maiores lances de perigo da partida.
- Coentrão. Continua sem me convencer. Algo se passa efectivamente com o lateral. Cumpre defensivamente, mas contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que o lateral se aventurou no ataque. Não é o mesmo jogador expressivo que vimos sair de Portugal, revelando até algum medo de subir no terreno.
- Tobias Figueiredo. Transpirou nervosismo durante toda a partida. Entradas fora-de-tempo e um ai Jesus sempre que teve que sair a jogar a partir de trás. Não é solução para uma equipa que pretende ser campeã.
- A gestão da vantagem. A jogar com a equipa jogou no 2º tempo, não irá segurar qualquer vantagem em jogos a contar para as competições oficiais. A equipa adormece por completo. Por vezes dá-me a sensação que o único jogador acordado em campo é Adrien Silva.
- Alan Ruiz. Continuo sem perceber o que Jorge Jesus vê no argentino. Nos poucos minutos em que esteve em campo, não colocou velocidade nas transições às quais foi chamado a participar e falhou passes atrás de passes (de ruptura, tabelas)…
- Bruno César: continua a ser importante nas acções defensivas, acções em que funciona como um 3º médio, mas ofensivamente, o médio brasileiro é um jogador nulo. Passa a vida no chão a queixar-se das cargas que sofre porque não é rápido a soltar a bola.
- Doumbia. O avançado precisa nitidamente de se moldar ao equipa espera dele em vez de obrigar a equipa a moldar-se ao seu estilo de jogo. Continua ficcionado no jogo em que se sente mais confortável: a desmarcação para as costas da defesa. Os passes nem sempre entram e o costa-marfinense nem sempre consegue sincronizar os seus movimentos de desmarcação para as costas da defesa com o timing das acções dos colegas. Existem tempos e tempos. Para guardar a bola, para a soltar, para arriscar o passe de ruptura. Por vontade do avançado africano, a equipa jogava exclusivamente para o tipo de jogo onde se sente mais à vontade. Quando o Sporting tiver de jogar contra equipas mais fechadas o avançado costa-marfinense não terá tantas oportunidades para realizar os seus movimentos de base. Nesses jogos terá que se adaptar ao contexto do jogo.