A Avenida de Moscovo


rui vitória 4

A derrota sofrida pelo Benfica em Moscovo colocou definitivamente Rui Vitória no fio da navalha. O cenário de despedimento, cenário que até à noite de ontem não passava de um mero cochicho murmurado debaixo das arcadas (nas barras de comentários de blogues; na língua viperina de um comentador mais rebelde e\ou abutre; é nesta última espécie que se insere por exemplo Rui Gomes da Silva) partilhado por um conjunto de adeptos descontentes com a prestação da equipa na presente edição da Liga dos Campeões e até no próprio campeonato, prova em que a equipa encarnada tem conquistado pontos aos solavancos (ora conseguindo vincar a sua supremacia sobre os adversários por força de acções individuais; ora ajudada por um ou outro erro de arbitragem) tornou-se uma hipótese bem real se a equipa encarnada não obtiver um bom resultado no próximo dia 1 de Dezembro na deslocação ao Estádio do Dragão. Independentemente dos feitos alcançados no passado (por mérito de quem? – é uma das perguntas que se deve colocar. Pela lavra de Rui Vitória ou pelo que foi deixado construído por Jorge Jesus?) feitos que o treinador encarnado faz questão de recordar estrategicamente na hora da derrota, para tentar justificar e salvaguardar a sua permanência no presente, passando um verdadeiro paninho quente sobre o que não fez e o que possivelmente não virá a fazer até ao final da temporada por manifesta falta de matéria-prima ou por manifesta incapacidade, quem anda pelo futebol sabe que para salvar a sua pele num momento de aperto, qualquer presidente acossado não hesita em culpabilizar o treinador pelo mau momento da equipa, despedindo-o.

A direcção da SAD encarnada possui obviamente as suas culpas no cartório. Não é que Rui Vitória também não possua a sua quota parte porque efectivamente possui. Os resultados alcançados pela formação encarnada neste primeiro terço de temporada não são, somente, o fruto da sobranceria demonstrada pelos dirigentes da SAD no defeso, mais concretamente quando não colmataram devidamente as vagas deixadas em aberto pelas saídas de Nélson Semedo e Victor Lindelof (acreditando que Lisandro, Jardel, Eliseu e André Almeida chegavam e sobravam para os gastos) ou quando venderam o grego Mitroglou ao desbarato (descurando os seus próprios interesses e objectivos em prol dos interesses particulares do cabecilha da organização de lavagem de dinheiro que opera desde há largos anos na Luz, Jorge Mendes) mas também, o fruto do trabalho que ficou por realizar pelo treinador em diversos aspectos fundamentais do jogo. Não posso de todo ignorar que uma fatia do insucesso ofensivo dos encarnados se deve sobretudo ao facto da equipa possui dois laterais profundamente incapazes de dar largura e profundidade à manobra ofensiva, mas este parâmetro não explica per se o fraco desempenho ofensivo da equipa. Se repararem atentamente, uma generosa fatia das jogadas de perigo que a equipa realiza são fruto de desequilíbrios criados através de acções individuais de condução e não de um futebol combinativo, e outra grande fatia deve-se sobretudo aos desequilíbrios provocados pelas movimentações de Jonas. A propósito disto, partilho convosco, com a devida autorização do autorização do autor, a análise certeira escrita pelo nosso autor convidado Pedro Sousa na sua página de facebook:

“No primeiro ano de Rui Vitória no Benfica falei, escrevi e comentei que a equipa começou a perder referências colectivas que tinha anteriormente, mas como alguns processos ainda estavam assimilados por alguns jogadores treinados anos a fio, e onde qualidade individual era tremenda, ganhou e encantou os menos exigentes, que mesmo sem grande critério colectivo especialmente defensivo, mas com outros factores adicionais como a motivação, qualidade criativa acima da média, uma eficácia tremenda na finalização e com uns ou outros apontamentos, conseguiu iludir todos os que hoje honestamente estão desiludidos com tudo o que já a muito tempo tinha adivinhado, não porque acredito em bruxas, mas porque o que observava na altura não me deixava optimista de melhoras quando a menor qualidade individual e a perda de referências colectiva, ou motivação fosse outra!

Sempre atento, neste texto, o Pedro diz tudo. Rui Vitória foi ganhando não à custa do inexistente trabalho defensivo ou ofensivo realizado (o comportamento defensivo da equipa tem piorado a pique nas últimas semanas) mas sim à custa da qualidade das suas individualidades e dos processos colectivos deixados por Jorge Jesus.

O sistema táctico 4x4x2 utilizado por Rui Vitória foi (não podemos escamutear) é um sistema muito válido para os jogos das competições internas, ou seja, para os jogos em que a equipa passa 70% do jogo útil a atacar em ataque posicional no meio-campo adversário, precisando apenas de ter um médio de cobertura para matar as transições adversárias para o contra-ataque mas não serve para os jogos das competições europeias porque efectivamente é um sistema que expõe defensivamente a equipa. Isto é: tendo um organizador de jogo de propensão mais ofensiva (de pouca propensão defensiva; manifestamente lento a recuperar na transição defensiva) como o é Pizzi e um jogador de cobertura defensiva (Fejsa), nas primeiras 2 partidas da Champions vimos este Benfica a actuar em inferioridade numérica neste sector do terreno – mesmo internamente, contra equipas que consigam ter médios hábeis na saída para o contra-ataque, Fejsa pode ser (não quero com isto dizer que é e\ou é sempre porque efectivamente não é; há jogos em que Fejsa sozinho dá conta do assunto) insuficiente.

Em algumas das partidas (este défice já não é de hoje) o Benfica é uma equipa que abre um enorme fosso entre a linha defensiva e a linha média, fosso que é aproveitado pelos centrocampistas adversários para armar o contra-ataque e para jogar entre linhas. A mudança táctica executada por Rui Vitória para o 4x3x3, mudança na qual o técnico benfiquista acrecentou Felipe Augusto à dupla do meio-campo visou anular esse fosso, ou seja, visou ter um 2º médio de cariz mais defensivo próximo do sérvio para o auxiliar nos momentos da transição adversária para o contra-ataque (trancando a transição; caíndo para uma ala para fazer a devida compensação às subidas dos laterais;) e para o auxiliar a fechar espaços no corredor central à frente da defensiva quando a equipa tivesse que recuar o bloco. A entrada de um 2º médio de cariz mais defensivo retirou Jonas da zona em que o brasileiro provoca mais estragos. Com Jonas a jogar sozinho na frente de ataque, perdem-se as movimentações que o brasileiro realiza até ao exterior da área (arrastando consigo adversários) para vir buscar jogo aos médios, de forma a ligá-lo com os outros sectores do terrenos, procurando servir desmarcações em profundidade do avançado que joga à sua frente ou dos extremos para as costas da defesa. Sozinho na frente, o avançado não pode recuar tanto no terreno para auxiliar os processos de construção e criação sob pena da equipa não ter ninguém na área para finalizar as jogadas construídas.

O problema dá-se quando as alterações efectuadas não produzem quaisquer efeitos, ou seja, nem a equipa constrói bem porque lhe falta o critério dado por um jogador, nem defende bem porque o jogador a quem é incubida a missão de auxiliar Fejsa a realizar os movimentos de cobertura e compensação não o faz.

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Acção de contra-ataque armada pelos russos na sequência de uma perda de Felipe Augusto a meio-campo.

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Sozinho, Fejsa não consegue travar a marcha do jogador nem tão pouco impedir que este consiga, com um passe, prover à entrada da bola em zona interior. Como podemos ver a azul, os espaços centrais à frente da defesa estão completamente desguarnecidos, faltando ali um jogador capaz de fechar aquela linha de passe.

https://dailymotion.com/video/x6afv2e

benfica 9Os 3 médios “em linha quando” deveriam estar organizados num triângulo. Momento de completa desorganização posicional. Mais uma vez os espaços centrais à frente da defesa continuam desguarnecidos. Os russos manobram à vontade naquele sector de terreno, fazendo a bola entrar num jogador entre linhas, que, através de uma tabela com o lateral vai romper pelas costas da defensiva encarnada.

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Dos 3 jogadores que se encontram na ala esquerda a observar o desenrolar da jogada, nenhum se preocupou em vir ao corredor fechar aquele canal de comunicação existente entre o portador e os 3 jogadores que se encontram à entrada da área a pedir o passe. Esta disposição dos encarnados é um verdadeiro convite à entrada da bola na meia-lua. Os russos poderiam facilmente ter resolvido esta jogada com um remate de meia distância se o portador tivesse tomado outra decisão.

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2?!! Independentemente da existência ou não de fora-de-jogo no momento em que sai o passe (pessoalmente creio que o jogador está ligeiramente adiantado): como é que aquele passe entra ali? 

https://dailymotion.com/video/x6afw0g

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Péssima transição defensiva. Até o velhote e carunchoso Vasily Berezutski consegue, aos 35, ser mais rápido a progredir com bola do que qualquer jogador do ataque do Benfica a recuperar no terreno sem bola. O central cria uma situação de contra-ataque em igualdade numérica, na qual o espaço central à frente dos defesas é mais uma vez entregue à bicharada porque Fejsa é obrigado a fazer a devida compensação ao lateral e Felipe Augusto não recupera a tempo de impedir a reentrada da bola no corredor central.

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