Tour de Hainan – Etapas 8 e 9

Marco Zanotti deu a vitória à holandesa Monkey Town

Apesar de ter conquistado, com algum mérito a 7ª tirada da prova chinesa, à entrada para as recta final da competição, ou seja, para as duas etapas finais, a missão de Jacopo Mosca (Willier Triestina – Selle Italia) não se encontrava de todo facilitada, em função da diminuta vantagem alcançada para os mais directos perseguidores na luta pela geral individual. Se ao 2º classificado, o espanhol Benjamin Prades (Ukyo) bastava por exemplo conquistar os 3 segundos respeitantes ao sprint intermédio colocado nos quilómetros finais da etapa pela organização da prova, aos 3ºs classificados na geral, o ucraniano Kononenko da Kolss (ciclista que tem uma boa ponta final) e ao holandês Marc de Maar, o maior agitador da etapa anterior, os 10 segundos relativos à vitória de etapa serviriam para chegar à liderança caso Mosca não viesse a bonificar quer no sprint intermédio quer à chegada.

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Tour de Hainan – 6ª e 7ª etapa

6ª etapa – Mareczko mete a 5ª (mudança) no final da 6ª etapa

Para o sprinter Estónio Martin Laas e para os seus companheiros de formação da Delko Marseille, a sua passagem de final de temporada pela Ilha de Hainan tem sido uma profunda e dolorosa agonia em função dos 4 segundos lugares em etapa averbados pelo velocista de 24 anos. Pode-se até mesmo dizer que, face ao que temos vindo a verificar nas últimas etapas, já não resta na formação gaulesa (formação que é liderada pelo nosso bem conhecido Delio Fernandez, ciclista que se encontra já a cumprir as suas merecidas férias) uma única ideia para bater a Willier Triestina de Jakub Mareczko. A formação gaulesa tem feito de tudo para tentar levar o seu sprinter à vitória, mas há momentos em que “fazer tudo certinho” não chega para o efeito. Nestas 6 etapas, a formação já tentou optar por uma estratégia de corrida mais expansiva quando colocou corredores nas fugas para obrigar a formação italiana a ter que se desgastar, já optou várias vezes por uma estratégia mais calculista quando, deixou todo o esforço de perseguição às fugas a cargo da formação de Mareczko, já optou por fazer entrar o seu numeroso bloco na frente nos últimos quilómetros para anular qualquer possibilidade de Mareczko ser lançado à frente do seu sprinter e já tentou colocar o seu sprinter nas costas do italiano para o surpreender no acto de lançamento do sprint final. Nenhuma das estratégias adoptadas pela formação marselhesa resultou. Na ponta final, com ou sem a ajuda de Eugene Zhupa, Mareczko entra invariavelmente bem colocado na frente, puxa de toda a sua potência, fecha-se naquele eficaz centro de gravidade baixo, e limpa a etapa, deixando as “migalhas” para Laas e para os outros sprinters presentes em prova.

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Tour de Hainan – 2ª etapa

Foi completamente sozinho (sem a ajuda da equipa) com um centro de gravidade muito baixo, com a cabeça projectada para fora do guiador e com o tronco apoiado no mesmo para conferir estabilidade ao processo, naquela que é sem sombra para dúvidas a mais bizarra mas ao mesmo tempo a mais eficaz postura aerodinâmica que um ciclista pode utilizar na ponta final de uma etapa, que o sprinter italiano (de origem polaca) Jakub Mareczko rematou a vitória (disputada ao sprint) na 2ª etapa do Tour de Hainan, depois de ter “perdido” a primeira etapa para o sprinter basco da japonesa Ukyo Jon Aberasturi.

Como já pude referir noutra ocasião, a 1 de Agosto, a propósito de uma vitória do sprinter australiano Caleb Ewan na Volta à Polónia, com esta posição na bicicleta, qualquer corredor consegue reduzir a sua exposição a ventos frontais na ordem de 10% relativamente ao grau de exposição de outros ciclistas que utilizam uma postura aerodinâmica mais clássica, de tronco aberto. A redução da exposição a ventos frontais permite ao corredor que utiliza esta postura ganhar 3 metros (mantendo-se a potência utilizada por todos os ciclistas numa condição coeteris paribus) de vantagem sobre os adversários num sprint com a duração de 14 segundos (250 metros). Esta é portanto uma técnica muito válido para a tipologia de chegadas similares aquela que vimos, ou seja, em chegadas disputadas em zonas muito próximas do mar em situações conjunturais nas quais existe uma maior incidência (pressão e força) de ventos frontais.  Continuar a ler “Tour de Hainan – 2ª etapa”

Tour de Hainan – 1ª etapa

Hainan

Da Presidencial Volta à Turquia, prova na qual infelizmente, por motivos que me são alheios (os incêndios; o facto de ter ficado 3 dias sem internet) não consegui realizar a cobertura desejada (apenas postei por aqui 3 das 6 etapas) e cuja geral individual foi conquistada nas montanhas pelo italiano Diego Ulissi da UAE, depois de 3 vitórias de etapa conquistadas ao sprint por Sam Bennett da Bora e 1 conquistada também ao sprint (em pelotão compacto) pelo sprinter belga Edward Theuns da Trek, passamos para as cenas dos últimos capítulos no que a provas de 1 semana da temporada de 2017 diz respeito. Da região da Anatólia rumamos para a China, mais concretamente para a belíssima Ilha de Hainan para acompanhar aquela que será a última prova por etapas da temporada e a penúltima de 2017. A última (Critério de Saitama; prova organizada pela ASO na qual irão participar várias equipas do escalão World Tour) irá disputar-se no próximo domingo, dia 5 de Novembro, em Saitama (Japão).

A 12ª edição da prova chinesa, prova organizada pela Administração Geral dos Desportos daquela República Popular, em estreia colaboração com a Federação Chinesa de Ciclismo com vários organismos daquela região, categorizada pela UCI como UCI Asia Tour 2HC (a mais alta categorização da nomenklatura Continental; sub-divisão Asiática) conta com um percurso longo dividido em 9 etapas, sub-divididas entre etapas de plano (as primeiras) e algumas etapas de pequena e média montanha. A subida ao ponto mais alto da Ilha (Wuzhi; 1800 metros de altitude) será o ponto mais alto da prova.

Sem qualquer formação de World Tour presente (À última da hora a UAE de Rui Costa decidiu informar a organização que não iria marcar presença na prova) estão presentes na prova 4 formações da divisão UCI Pro Continental – a Delph Marseille, a Bardiani, a Willier Triestina Selle Italia e a Team Voralberg – para alguns dos corredores destas formações, em especial para aqueles que ainda não conseguiram arranjar colocação no pelotão para a próxima temporada, esta prova poderá constituir-se como uma interessante montra para mostrar serviço! Por outro lado

As maiores figuras da prova serão Asbjorn Kragh Andersen (Delph Marseille; irmão do sprinter Soren, corredor da Sunweb), Jakub Mareszcko (Willier Triestina-Selle Italia), Anthony Giacoppo (Isowhey) Jon Aberasturi (da japonesa Ukyo) o trepador Edoardo Zardini (Bardiani),  Enrico Barbin e Mirco Maestri (Bardiani), o campeão ucraniano Vitaly Buts (Kolss) e Eugene Zhupa da Willier Triestina.  Continuar a ler “Tour de Hainan – 1ª etapa”

Fizemos História nos Europeus de Pista – Rui Oliveira conquista a primeira medalha da nossa História numa prova de elites de Pista

1ª parte

2ª parte.

Aos 21 anos, os gémeos Ivo e Rui Oliveira já são dois talentos seguros do ciclismo em particular e do desporto português em geral. A aposta realizada no Centro de Alto Rendimento de Sangalhos, infraestrutura inaugurada no ano de 2009 na qual já tive o prazer de correr algumas vezes a título experimental e informal (digo-vos: eu adoro a estrada mas é na pista que eu liberto toda a adrenalina; curiosamente, o velódromo dista a menos de 15 km do local de onde sou natural), está a colher agora os seus frutos. E que frutos! Esperemos que o sucesso do nosso velódromo de alto rendimento, escola de formação na qual habitam e treinam diariamente dezenas de atletas (que este triunfo seja inspirador para todos os atletas que por lá trabalham regulamente) não se fique por aqui e que esta medalha de bronze seja o início de um  glorioso ciclo de conquistas para o nosso ciclismo de pista. Como referiu e bem o Rui no final da prova, para nós, país ultra periférico no ciclismo de pista que ainda está a dar os primeiros passos ao mais alto nível, e para ele, em particular, devido às lesões que o tem afectado nos últimos meses e à natural perda de confiança que sentiu nos últimos meses em função dessas mesmas lesões, este bronze “vale por ouro”

Com um percurso imaculado nos escalões de formação, percurso onde Rui e Ivo, ciclistas que na vertente de estrada actualmente representam um dos melhores projectos de formação e desenvolvimento do cenário velocipédico (a equipa norte-americana Axeon-Hagens Berman; equipa na qual correu nas temporadas de 2015 e 2016 o nosso actual campeão nacional de estrada de elites Ruben Guerreiro) conquistaram um interessante rol de medalhas (algumas delas em campeonatos europeus e mundiais; Ivo já foi por exemplo Campeão Europeu e Mundial de Contrarelógio de Pista no escalão de juniores), e uma introdução precoce (mas muito profícua, como agora viemos a constatar; nas primeiras provas em que participaram os dois gémeos conseguiram alcançar resultados algo surpreendentesw) ao mundo de elites nos últimos 3 anos, toda a gente (um nicho muito reduzido de pessoas, é certo) que segue com um pouco de atenção a vertente de pista sabia que uma medalha numa grande competição internacionais lhes iria cair no peito mais tarde ou mais cedo, porque ambos são ciclistas de uma enorme fibra, de um enorme sentido táctico e de um imensa fome de vencer.

rui oliveira

Rui Oliveira festeja efusivamente a medalha conquistada. Uma saborosa medalha que nós, bairradinos, festejamos como se fosse nossa!

Na dura prova da disciplina de eliminação, prova de resistência, alguma táctica (na qual os ciclistas são obrigados a procurar o melhor posicionamento possível para escapar aos últimos lugares) e potência corrida em pelotão na qual a cada 2 voltas o último ciclista a cruzar a meta é eliminado da corrida, Rui Oliveira cumpriu uma brilhante (muito personalizada; fruto da experiência obtida noutras provas) estratégia de corrida, na qual revelou toda a sua clarividência táctica. Nas primeiras voltas, o ciclista natural de Vila Nova de Gaia sentiu algumas dificuldades para persistir na corrida, visto que foi obrigado quase sempre votado a ter que posicionar-se no meio do pelotão pelo lado de fora da pista. Assim que o Rui decidiu, a meio da prova,  atacar com firmeza os primeiros lugares do pelotão (nunca saíndo dos primeiros 5 lugares até ao final) compreendi imediatamente que a medalha poderia estar ao nosso alcance. Foi aí que o Rui, fazendo jus às declarações que proferiu no final da prova, compreendeu que a sua respiração e as suas “pernas” lhe permitiam lutar um grande resultado. Esse cenário foi confirmado quando, restando apenas 4 corredores em prova, o atleta decidiu, inteligentemente, atacar para assegurar a conquista de uma medalha. Esse esforço viria naturalmente a ser cobrado mais à frente, a 4 voltas do fim (1 km) quando os 2 corredores mais experientes que seguiam na sua peugada, o belga Gerben Thijssen (corredor que se sagrou campeão europeu) e o russo Maksim Piskunov, o alcançaram. No entanto, não se podia pedir mais ao jovem gaiense: estava escrita uma nova página de história no nosso ciclismo, modalidade cujos feitos alcançados pelos nossos atletas nos enche o peito de imenso orgulho!

A frase do dia

tom dumoulin 6

“With doping, I don’t know how you’d feel about a victory if you doped. I couldn’t imagine that you’d have the same amazing feeling that I had at the Giro or the Worlds. I can’t see me doing that. Also when you look back at your career after, and if you doped, then all these people that started cycling because of you, they’d be so disappointed. It would be heart-breaking. And in the present, everyone relies on riding clean. There are more than 100 people on the team and it would be fucked up. That’s a responsibility.” 

Tom Dumoulin em entrevista ao Podcast Semanal da Cycling News. Vale a pena ouvir aqui. Na entrevista, o campeão do mundo de contra-relógio também aborda o próximo Tour, acusando a imprensa de ter vindo a promover nos últimos meses, na sua perspectiva, uma narrativa muito linear em relação ao que vai acontecer na próxima edição do Tour. Descartando a possibilidade de vir a trilhar uma luta a 2 contra Froome na prova francesa (prova que irá regressar ao que tudo indica na sua edição de 2018 a dois pontos míticos: ao Alpe D´Huez e ao velódromo de Roubaix – não se conhecendo porém se os ciclistas irão correr a totalidade do traçado da mítica clássica da primavera ou apenas partes desse mesmo traçado) o ciclista da Sunweb optou por um discurso muito humilde que lhe assenta muito bem e que tem sido de resto a chave de sucesso para surpreender todos aqueles que há 5 anos não acreditavam na possibilidade deste vir a desenvolver competências para a alta montanha. O ano de 2017 provou que Dumoulin tem condições para vencer a Volta a França. O holandês perdeu peso (os seus 71 kg permitem-lhe a morfologia ideal para abordar a alta montanha) sem ter perdido as suas qualidades no departamento do contra-relógio, trabalhou muito bem quer na pré-temporada quer nos estágios em altitude que realizou na preparação para o Giro e desenvolveu estratégias de corrida muito interessantes na prova italiana, prova onde recorde-se, com uma postura muito cautelosa e muito ciente dos seus limites energéticos, nunca optou por ir ao choque nos ataques de Nibali, Pinot e Quintana, mas também nunca lhes deu espaço para cavar grandes diferenças na montanha. 

Volta à Turquia – Sam Bennett conquista a sua 3ª vitória de etapa

Os últimos quilómetros da curta tirada de 128 km que ligou Fethiye a Marmaris foram deveras interessantes de seguir. Constando no perfil geral da prova como a última oportunidade que esta oferecia para os sprinters que se apresentaram na prova turca antes das 3 etapas de média montanha que se seguirão, à partida, não era 100% líquida a possibilidade desta vir a ser disputada na sua ponta final em sprint massivo ou até com a presença de sprinters na frente. Os dois obstáculos montanhosos não categorizados (na minha humilde opinião, a não categorização daquelas subidas por parte da organização foi um verdadeiro crime que tirou alguma espectacularidade à prova – a primeira merecia talvez uma 3ª categoria e a última uma 2ª – dada a sua extensão de aproximadamente 4 km e a sua pendente média de 6,5%) desenhados pela organização nos últimos 30 km poderiam efectivamente vir a retirar de combate os vários sprinters em prova da discussão se a corrida fosse atacada pelos corredores que irão lutar pela vitória na geral individual nas montanhas nos próximos dias. Nos últimos 10 km, fiquei com a impressão de que o cenário final acima conjecturado poderia concretizar-se quando vi Darwin Atapuma e Diego Ulissi ao ataque e David Arroyo a rondar a frente do pelotão. Continuar a ler “Volta à Turquia – Sam Bennett conquista a sua 3ª vitória de etapa”

Volta à Turquia – 1ª e 2ª etapa

turquia

De ontem, dia 10, até domingo, dia 15, a Turquia será palco para uma das últimas provas por etapas do calendário world tour e até mesmo do calendário internacional do pelotão internacional. Num percurso com início em Alanya e final em Instambul que será realizado na sua totalidade (por razões quiçá relacionadas com a promoção turística da belíssima costa turca, objectivo do principal financiador da prova: a Presidência da República Turca; em função da transmissão televisiva da prova para todo o mundo, a promoção turística de determinadas zonas de um país é em muitas provas o critério primordial que norteia o desenho do percurso da prova) junto à costa mediterrânica daquele país ao longo de 6 etapas, a organização decidiu contemplar-nos com um desenho para todos os gostos e para todo o tipo de características que prevê 1 etapa totalmente corrida em terreno plano e 5 etapas de perfil mais acidentado, sem que nenhuma termine em alto. As restantes 4 terão alguma montanha nas suas fases iniciais ou finais (eu destaco as abordagens finais à montanha no final da 3ª e da 5ª etapa como os momentos que podem ser aproveitados por todos os trepadores para marcar a diferença na luta pela vitória na geral individual) embora a montanha existente (essencialmente 2ªs e 3ªas não tenha um altivo grau de exigência. A prova só terá uma contagem de primeira categoria nos primeiros quilómetros da etapa 4.

Como tem sido apanágio desde que a prova subiu ao topo da nomenklatura de provas da UCI, a prova turca volta a receber nas suas estradas algumas figuras com algum estatuto no actual panorama do ciclismo, pese embora o facto da prova ter sido descartada em 2017 do planeamento de algumas das equipas de World Tour. No que concerne a sprinters, não correndo o risco de poder ser spoiler, visto que irei abordar de seguida as primeiras etapas da prova, apresentaram-se na Turquia nomes interessantes como os de Riccardo Minali da Astana, Edward Theuns da Trek, Justin Jules da Veranclassic\Aqua Protect e Sam Bennett da Bora. Em termos de trepadores, a coisa está mais preenchida. Leopold Konig da Bora, Jarlinson Pantano da Trek, Darwin Atapuma e Diego Ulissi da UAE, David Arroyo da Caja Rural, e Sergey Firsanov da Gazprom poderão ser alguns dos vários candidatos à vitória na geral individual.

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Rigoberto Uran conquista a Milão – Turim

O facto de estar inserida no calendário a menos de 72 horas do arranque da última grande clássica da temporada, mais concretamente da última prova (Giro da Lombardia) que compõe os designados “5 monumentos do ciclismo” (epíteto que serve para qualificar as mais históricas e prestigiantes clássicas do calendário internacional: o Tour de Flandres, a Milão – São Remo, a Paris-Roubaix, a Liège-Bastogne-Liège e o Giro da Lombardia) e de ser uma prova categorizada com uma modesta classificação de 1.1 (para a sua história, grandeza e percurso ajustava-se claramente um aumento da categorização para 1HC ou até mesmo para evento integrante da World Tour) não transforma a Milão – Turim numa simples prova de aquecimento ou de aferição para o que vai acontecer no domingo na prova que se disputa na região lombarda.

Dotada de uma individualidade própria aromatizada pela agradável fragrância de média montanha fornecida pelos ares da rampa final de 4,9 km a 9% de pendente média de inclinação (a pendente máxima é de 14%) que conduz os ciclistas até ao alto da montanha de Superga (a trágica montanha onde, em 1952, a histórica equipa da década de 40 do Torino perdeu a vida num desastre aéreo – na viagem de regresso de Lisboa, cidade onde tinha disputado no dia anterior o jogo de homenagem organização pelo Benfica para a despedida do seu capitão Francisco Ferreira) a prova que liga as duas maiores cidades do norte de itália, é desde há alguns anos a esta parte uma prova muito apetecível para os maiores puncheurs e trepadores do mundo. Prova disso foram as presenças, presenças que de resto tem sido habituais nos últimas 6\7 edições (desde que a organização da prova decidiu, em 2012, modificar o percurso para colocar a chegada no final da subida para Superga) de nomes como Nairo Quintana, Thibaut Pinot, Dan Martin, Rigoberto Uran, Primoz Roglic, Tom Dumoulin ou Julian Alaphillippe.

Numa prova bastante atacada nos seus 20 km finais (no circuito final que contemplou duas passagens pela subida final), na qual não podiam faltar as habituais manobras tácticas e o “cerrar de marcações” entre ciclistas, verdadeiros clássicos desta estirpe de provas, Rigoberto Uran acabou por conseguir levar mais um triunfo para casa com um mortífero ataque a 3 km da meta.

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A imagem do dia

samuel sanchez

Que miserável final de carreira, Samu!

No momento da verdade, todos dizem o mesmo: “eu, dopar-me? não é possível. não acredito. juro que nunca tomei nada em toda a minha carreira para alterar o meu rendimento. estou incrédulo. juro que é verdade. nunca me dopei. juro. juro. juro”

Depois vem o resultado da amostra B e cai o carmo e a trindade. Porque a verdade também é esta: nesta questão em particular do doping, o ciclismo (no fundo, o desporto) espanhol é um autêntico regabofe, no qual só 1 em cada 10 atletas dopados são controlados positivamente (as autoridades anti-dopagem espanholas passam a vida literalmente a dormir a siesta; as federações espanholas deixam passar estes casos, preferindo a exposição internacional que é granjeada pelas vitórias dos seus atletas à verdade) e no qual gravitam centenas de agentes (médicos, fisiologistas, alegados nutricionistas) que trazem na algibeira todo o tipo de soluções miraculosas para os atletas, em especial, para todos os atletas que apresentam alguma descrença em relação às suas capacidades no epílogo das suas carreiras. Não tenham as mínimas dúvidas meus caros: grande parte do sucesso que o desporto espanhol obteve nas últimas 2 décadas, do futebol ao atletismo, passando pelas modalidades de pavilhão, deve-se em grande parte ao doping,  à aceleração que o Dr. Eufemiano Fuentes deu à investigação neste sector e ao verdadeiro laissez-passer que foi garantido quer pelas federações quer pela agência antidopagem de Espanha. 

O que é que levou um ciclista consagrado de 39 anos a dopar-se no final da sua carreira com uma hormona de crescimento (GHRP-2, uma hormona de crescimento que ajuda o atleta que a toma a diminuir a densidade de massa gorda presente no organismo; que aumenta a massa muscular; que ajuda o atleta a descansar melhor; que auxiliar a um reparo mais rápido dos tecidos celulares, auxiliando a uma cicatrização mais rápida de feridas provocadas por quedas, p.e) que altera significativamente o rendimento de um atleta? O corredor voltou a defender-se, 1 mês depois de ter negado determinantemente o uso da substância em causa: “I am 39, I have been a professional for 19 years, and I am at the point of retiring, “Why would I get into this?” – a vontade de voltar a lutar pela geral da Grande Volta que lhe escapou em várias ocasiões, quando as pernas eram efectivamente outras e o corpo precisava de um menor tempo de descanso para recuperar na perfeição para a etapa seguinte. Este controlo positivo por parte do ciclista espanhol é, na minha opinião, uma verdadeira parvoíce que não faz o mínimo sentido porque um mau desempenho na Vuelta não lhe retiraria um pingo da estima pelo que Samuel Sanchez fez ao longo de 19 anos. Ao terminar desta forma (como um verdadeiro cadáver andante; a negar as evidências controladas em duas amostras; como eu odeio a negação de factos comprovados) uma carreira de sonho, será normal acreditar que ao longo destas duas décadas nem tudo foi limpo na ficha deste corredor. Se com os métodos de despistagem e controlo que actualmente estão activos, o corredor foi apanhado, como é que poderemos ter a certeza que nos tempos da “drogaria generalizada”, os seus resultados foram conseguidos à custa das suas reais e naturais capacidades?

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