1ª parte
2ª parte.
Aos 21 anos, os gémeos Ivo e Rui Oliveira já são dois talentos seguros do ciclismo em particular e do desporto português em geral. A aposta realizada no Centro de Alto Rendimento de Sangalhos, infraestrutura inaugurada no ano de 2009 na qual já tive o prazer de correr algumas vezes a título experimental e informal (digo-vos: eu adoro a estrada mas é na pista que eu liberto toda a adrenalina; curiosamente, o velódromo dista a menos de 15 km do local de onde sou natural), está a colher agora os seus frutos. E que frutos! Esperemos que o sucesso do nosso velódromo de alto rendimento, escola de formação na qual habitam e treinam diariamente dezenas de atletas (que este triunfo seja inspirador para todos os atletas que por lá trabalham regulamente) não se fique por aqui e que esta medalha de bronze seja o início de um glorioso ciclo de conquistas para o nosso ciclismo de pista. Como referiu e bem o Rui no final da prova, para nós, país ultra periférico no ciclismo de pista que ainda está a dar os primeiros passos ao mais alto nível, e para ele, em particular, devido às lesões que o tem afectado nos últimos meses e à natural perda de confiança que sentiu nos últimos meses em função dessas mesmas lesões, este bronze “vale por ouro”–
Com um percurso imaculado nos escalões de formação, percurso onde Rui e Ivo, ciclistas que na vertente de estrada actualmente representam um dos melhores projectos de formação e desenvolvimento do cenário velocipédico (a equipa norte-americana Axeon-Hagens Berman; equipa na qual correu nas temporadas de 2015 e 2016 o nosso actual campeão nacional de estrada de elites Ruben Guerreiro) conquistaram um interessante rol de medalhas (algumas delas em campeonatos europeus e mundiais; Ivo já foi por exemplo Campeão Europeu e Mundial de Contrarelógio de Pista no escalão de juniores), e uma introdução precoce (mas muito profícua, como agora viemos a constatar; nas primeiras provas em que participaram os dois gémeos conseguiram alcançar resultados algo surpreendentesw) ao mundo de elites nos últimos 3 anos, toda a gente (um nicho muito reduzido de pessoas, é certo) que segue com um pouco de atenção a vertente de pista sabia que uma medalha numa grande competição internacionais lhes iria cair no peito mais tarde ou mais cedo, porque ambos são ciclistas de uma enorme fibra, de um enorme sentido táctico e de um imensa fome de vencer.
Rui Oliveira festeja efusivamente a medalha conquistada. Uma saborosa medalha que nós, bairradinos, festejamos como se fosse nossa!
Na dura prova da disciplina de eliminação, prova de resistência, alguma táctica (na qual os ciclistas são obrigados a procurar o melhor posicionamento possível para escapar aos últimos lugares) e potência corrida em pelotão na qual a cada 2 voltas o último ciclista a cruzar a meta é eliminado da corrida, Rui Oliveira cumpriu uma brilhante (muito personalizada; fruto da experiência obtida noutras provas) estratégia de corrida, na qual revelou toda a sua clarividência táctica. Nas primeiras voltas, o ciclista natural de Vila Nova de Gaia sentiu algumas dificuldades para persistir na corrida, visto que foi obrigado quase sempre votado a ter que posicionar-se no meio do pelotão pelo lado de fora da pista. Assim que o Rui decidiu, a meio da prova, atacar com firmeza os primeiros lugares do pelotão (nunca saíndo dos primeiros 5 lugares até ao final) compreendi imediatamente que a medalha poderia estar ao nosso alcance. Foi aí que o Rui, fazendo jus às declarações que proferiu no final da prova, compreendeu que a sua respiração e as suas “pernas” lhe permitiam lutar um grande resultado. Esse cenário foi confirmado quando, restando apenas 4 corredores em prova, o atleta decidiu, inteligentemente, atacar para assegurar a conquista de uma medalha. Esse esforço viria naturalmente a ser cobrado mais à frente, a 4 voltas do fim (1 km) quando os 2 corredores mais experientes que seguiam na sua peugada, o belga Gerben Thijssen (corredor que se sagrou campeão europeu) e o russo Maksim Piskunov, o alcançaram. No entanto, não se podia pedir mais ao jovem gaiense: estava escrita uma nova página de história no nosso ciclismo, modalidade cujos feitos alcançados pelos nossos atletas nos enche o peito de imenso orgulho!