Dois puros momentos de rock and roll!

Continuo ainda debruçado em alguns dos pormenores da vitória alcançada pelo City na noite de ontem frente ao Southampton. Como fiz questão de referir no post anterior, os lances de bola parada, em especial os pontapés de canto (na defesa aos livres laterais que o Southampton dispôs a mais de 30 metros da baliza, livres em que a equipa aproveita naturalmente para tentar criar situações de finalização para os seus 3 centrais, todos eles bons cabeceadores, Pep voltou a pedir à equipa para se posicionar em linha, subida, no exterior da área; executando uma estratégia cujos objectivos eram, em primeiro lugar, como não poderia deixar de ser, impedir situações de finalização e promover a recuperação da posse\iniciativa de jogo, e em segundo lugar, caso não fosse possível impedir a finalização adversária, dificultá-la ao máximo ou seja, assegurar que o adversário nunca dispusesse de situações de finalização demasiado próximas da baliza e flagrantes. Como Ederson é um guarda-redes que sabe medir muito tempo o tempo de saída a um cruzamento, o catalão confia ao brasileiro a rectaguarda da sua defesa caso o jogador que vai cobrar a falta tente bombear a bola para além do ponto até onde a defesa poderá previsivelmente descer) foram uns dos vários problemas colocados para formação orientada por Maurizio Pellegrino. Posso até afirmar, com conhecimento de causa que esta fase do jogo tem sido o verdadeiro tendão de aquiles da equipa de Manchester na presente temporada.

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Os golos da jornada (1ª parte)

Face à muralha de jogadores que o adversário colocou na área, Wijnaldum foi obrigado a sacar dos galões para encontrar espaço para disparar aquela bomba. No entanto, no início da jogada, com aquele pequenino toque de excelência técnica, o holandês teve o mérito de desmontar por completo a linha média adversária, abrindo espaço para a saída para o contra-ataque.

Depois de um arranque algo irregular na Premier, arranque no qual, pesem os interessantes e bem trabalhados pormenores demonstrados pela equipa no capítulo da organização da pressão (“a menina dos olhos de Jurgen Klopp”) e da transição para o contra-ataque (pormenores que permitiam à equipa passar rapidamente de uma mentalidade defensiva para uma mentalidade ofensiva, procurando servir, com pragmatismo em profundidade, em cada recuperação, as velozes investidas dos seus homens da frente, em especial as de Sadio Mane e Mohammed Salah) acabou por sobressair (pela negativa) a fragilidade defensiva do quarteto defensivo orientado pelo técnico alemão, o Liverpool vai começando a “despertar” para uma fase de maior regularidade quer em termos de resultados, quer em termos exibicionais, embora os 12 pontos de diferença para o City e a mais que evidente diferença de qualidade entre os planteis e o futebol das duas equipas, não permitam aos reds dizer que estão em condições de atacar o quer que seja pelo menos na presente temporada. Para reforçar esta ideia, sirvo-me da miserável exibição realizada por Dejan Lovren frente ao Tottenham, exibição no qual o croata e o seu colega de sector, o camaronês Joel Matip demonstraram possuir muitas dificuldades no controlo à profundidade adversária.  Continuar a ler “Os golos da jornada (1ª parte)”

Os golos do dia

Começamos mais uma vez pelo capítulo das bolas paradas e pelos erros defensivos que não se devem cometer neste departamento do jogo. 

Começo este round de análise pela vitória alcançada pelo Bournemouth frente ao Middlesbrough (3-1), formação cujo regresso ao Championship (após 1 curtíssima e inglória temporada de convívio passada entre os grandes do futebol inglês) está a ser algo irregular (13º lugar com 17 pontos fruto de 4 vitórias, 5 empates e 4 derrotas). Frente ao Boro, em jogo a contar para a Taça da Liga Inglesa, o 11 escolhido por Eddie Howe, só conseguiu desbloquear o resultado na segunda parte na sequência de um lance de bola parada, depois de um primeiro tempo em que os manifestos esforços ofensivos arrolados pelos jogadores que compõem a sua ala esquerda (diga-se em abono da verdade, os jogadores mais talentosos desta equipa: o lateral esquerdo Charlie Daniels e o ala esquerdo Marc Pugh) não foram suficientes para que a formação do condado de Dorset (Sul de Inglaterra), actual 19ª classificada da Premier com apenas 7 pontos, se pudesse instalar em vantagem no marcador. Nas duas oportunidades de golo criadas por Pugh e Daniels na primeira parte, o avançado Callum Wilson e o médio ala direito Ryan Fraser falharam dois golos cantados à boca da baliza.

No segundo tempo, uma falha de marcação ridícula dos forasteiros na sequência de um pontapé de canto, permitiu aos jogadores de Howe festejar o primeiro tento da partida.

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O futebol de altíssimo quilate praticado pelo Manchester City frente ao Burnley

Para preencher as horas mortas dos aficionados que visitam diariamente este blog, (o meu obrigado!) deixo-vos aqui alguns momentos do meu “atípico” sábado (confesso que neste sábado só vi “partida e meia”; felizmente, pude ver, na íntegra, os 90 minutos da partida disputada entre o Manchester City e o Burnley e a primeira parte do FC Porto frente ao Paços de Ferreira) pouco desportivo:

Jogada 1

No meu humilde entendimento esta foi a jogada que melhor resume a filosofia de jogo  operacionalizada por Pep Guardiola nos Citizens. Em 22 segundos, 4 passes e 16 toques na bola (contando com os 9 toques dados por Bernardo Silva naquela admirável arrancada na qual o internacional português meteu a linha média do Burnley no bolso) os citizens fizeram chegar a bola da entrada da sua área à área adversária? Futebol minimalista? Não. Este futebol muito que se lhe diga ao nível de dinâmicas:  Continuar a ler “O futebol de altíssimo quilate praticado pelo Manchester City frente ao Burnley”

A suprema inteligência de Heung-Min Son e Christian Eriksen

Só os grandes médios, aqueles que fazem efectivamente a diferença num jogo de futebol, são capazes de ter um grau de compreensão tão elevado sobre o que fazer num lance em específico. No lance do primeiro golo do Tottenham frente ao Bornemouth, equipa cuja organização defensiva apresentada em Wembley em bloco baixo 5x3x2 (boa cobertura e rigor posicional, ou seja, a equipa nunca se desmanchou, nunca cedeu à tentação de pressionar alto; a verdade é que a circulação paciente executada pelos centrais do Tottenham à entrada do meio-campo adversário convidava os forasteiros a pressionar mais alto para abrir espaços para jogar entre linhas; linhas muito próximas para fechar o jogo entre linhas; 3 homens no corredor central com a missão de fechar as linhas de passe para o surgimento de Eriksen, Dele Alli, Kane ou Min entre linhas; pressão dos alas quando o esférico era circulado para as pontas; tentativa de ter sempre superioridade na zona para onde o esférico era circulado) dificultou e de que maneira a entrada dos spurs no último terço.

son 2

Aos 47″, aproveitando um momento de relaxamento da formação adversária após o regresso das cabines, Son entrou bem entre linhas pela interior directa para receber o passe frontal de Davinson Sanchez.

son

Com um “giro” na recepção, o coreano atraiu dois defensores (obrigando um dos centrais a sair da cabeça de área para pressionar), arranjando o espaço (assinalado a azul) para Eriksen penetrar no último terço pelo corredor central. A simbiose entre os dois jogadores é perfeita. O coreano cria o espaço. O dinamarquês apercebe-se que tem que entrar nesse espaço para receber.

O dinamarquês é feliz no ressalto, finalizando a jogada com o garbo técnico que lhe é amplamente reconhecido.

Bloco de Notas da História # 35 – Ossie Ardiles – os primórdios da magia do futebol argentino

No ano de 1975, Lionel Messi ainda era um projecto da criação que boiava nos testículos de Jorge Messi. Diego Armando Maradona, El Pibe, El Diez, El Ché, o grande e verdadeiro Deus da Igreja Maradoniana, o maior e mais virtuoso ilusionista e ladrão da história do futebol mundial (“Marcar aquele golo com a mão aos ingleses foi como roubar a carteira de um inglês! Naquele jogo jurámos vingar todos os milhares de mortos das Falklands. Quando o príncipe Carlos me quis conhecer, disse, eu é que não o quero conhecer porque não aperto a mão a uma pessoa que tem as suas mãos manchadas de sangue” – Kosturica: Maradona – 2009) estava a um ano de embarcar, nos Argentinos Juniores, naquele louco carrossel de vedeta de rock and roll que o conduziria tão rapidamente ao topo do futebol mundial quanto aos portões do submundo da existência humana. Juan Román Riquelme, o homem que encareceu o preço por metro quadrado daquela pista de 10 metros quadrados de aproximação à área adversária, pequena box de terreno que é explorada por todos os detentores de veludo nos pés para escrever sucessivas composições musicais para a equipa, ainda demoraria 22 anos a surgir ao mais alto nível, e Pablito Aimar, herói incontestável do Monumental de Nuñez e do Estádio da Luz, a maior analogia futebolística de Edgar Morin pela forma complexa mas ao mesmo tempo tão simples como pensava o jogo (não menos brilhante que qualquer obra literária de Morin – simples mas ao mesmo tempo complexa) haveria de nascer 5 anos depois, para encanto de duas “torcidas” que ainda hoje suspiram e choram quando ouvem o seu nome. Uma, a hinchada do River, legal. A outra, completamente fora-da-lei, por legalizar.

Em 1975, o futebol argentino ainda aguardava pelo seu grande momento de afirmação internacional (a escola italiana tinha oferecido aos argentinos a dureza e a organização defensiva e a verdade é que até aos anos 70 as suas selecções eram no fundo somente conhecidas internacionalmente pela sua viril entrega ao jogo. A partir dos anos 70 tudo se modificou – os argentinos começaram a trabalhar mais os aspectos técnicos na formação – esse desenvolvimento trilhado vertiginosamente num curto para de anos ficará para sempre cravado na história como a Grande Revolução dos Enganches – dos 10 argentinos) momento que viria 3 anos mais tarde, naquele controverso Mundial, prova na qual, de certo modo, no “país das pampas” se jogava muito mais que futebol – jogava-se a imagem internacional de um regime sangrento que torturava os seus opositores a poucos metros dos palcos onde os argentinos comemoravam os golos da sua selecção. Jogava-se o futuro de um conjunto de ditadores-vassalos de Henry Kissinger. No fundo, jogava-se toda a americanização da América Latina, status quo que ainda hoje é um tema sensível da geopolítica. Qualquer crónica ou análise mais ou menos detalhada aquele mundial é definitivamente uma taréfa hérculea, pela multiplicidade de factos, de pequenas históricas e de teorias particulares da conspiração que foram sido formuladas ao longo das últimas décadas pelos historiadores e demais curiosos desse marcante acontecimento histórico.

Em 1978, Ossie Ardiles atingia o estrelato do futebol mundial. O jogador do então grande Huracán (vice-campeão argentino no ano de 1976) atingiria o topo da cadeira, a marquise do estrelato. A sua importância vai bem para além da escola de enganches que auxiliou a formar no seu país natal. Ardilles Revolucionou o futebol inglês.  Continuar a ler “Bloco de Notas da História # 35 – Ossie Ardiles – os primórdios da magia do futebol argentino”

Stoke City vs Chelsea – 2 erros, vida descansada para a formação de Conte

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Bastaram 2 minutos e um erro partilhado a meias por Glen Johnson e Martins Indi na cobertura ao avançado espanhol para a formação londrina tomar o controlo total de uma partida, aborrecida, diga-se em abono da verdade, na qual, a formação de Antonio Conte, confortável no seu meio-campo vai dando mais iniciativa ofensiva aos homens da casa.

De uma bola recuperada por Bakoyoko no seu meio-campo, acelerada por Kanté com uma variação para Cesar Azpilicueta, nasceu o primeiro golo dos Blues. Os franceses tiveram o mérito de tirar a bola da zona de maior concentração de adversários para lançar o ataque e o defesa espanhol (jogador que tem procurado constantemente a ligação com o avançado através do lançamento em profundidade; nem sempre bem, despejando bolas para a frente que não são pedidas pelo avançado espanhol) tratou de procurar o seu compatriota com um passe longo para as costas da defesa. Bem vivo no meio de Martins Indi e Glen Johnson, Morata só teve que ir na peugada do passe de Azpilicueta para abrir o marcador.

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Bloco de Notas da História #30

A propósito do post anterior e da animada conversa que se gerou na barra de comentários minha página de facebook, alguém teve o bom gosto de relembrar Gianfranco Zola, artista de cabelo desgrenhado “à italiana” (recebe, olha, penteia, remata por cima do guarda-redes; grande chapelada; grande arco na bola), estrela dos tempos em que o melhor futebol do mundo passava em canal aberto (sem ser necessário, para o efeito, o pagamento de uma taxa adicional na conta da luz) e em que tudo para nós, mais concretamente para mim e para a minha geração, pré-adolescente, era o nosso guilty pleasure semanal (a Premier na 2 ao sábado; a Bundesliga na SIC durante os dias da semana; La Liga e Serie A ao domingo, uma a seguir à outra, em diferido ou em directo, com um direito a uma pizza ou a um geladinho da Family Frost pelo meio, ao intervalo) que dava que falar durante toda a  semana. Muitos eram aqueles que aproveitavam estas ocasiões para preparar as vhs para apanhar as habituais e inocentes calinadas de Gabriel Alves.  Continuar a ler “Bloco de Notas da História #30”

A perfeição

54 toques, 2 minutos e meio com a posse de bola e um golo a abrir, sem que o adversário tivesse oportunidade para acariciar a redondinha. Quem não gostaria de ter na sua equipa estes processos de circulação? Quem não gostaria de ter uma equipa com jogadores com este nível de mobilidade, abrindo sempre linhas de passe a quem tem bola, e entregando a bola a quem se desmarca para receber? Quem é que não gostaria de ter uma equipa capaz de abrir o posicionamento defensivo adversário uma, duas e três vezes por cada jogada? Isto é ter controlo absoluto sobre tudo – sobre a bola, sobre o adversário, sobre o tempo, sobre a vantagem (alcançada), sobre tudo! Simplesmente magnífico. Vem do génio de guardiola e de um elenco que finalmente dá todas as garantias ao treinador catalão.

A arte de um bom médio

Receber o esférico, levantar a cabeça para ler o cenário de jogo na sua totalidade (o posicionamento adversário e o mar de movimentações dos seus companheiros na abertura de linhas de passe) e procurar sempre a melhor solução de passe (a que acrescente progressão no terreno, criação de situações de desequilíbrio ou a que permita à equipa continuar a ter a posse de bola) nem que para o efeito tenha que contemporizar, guardando a bola nos seus pés (mesmo que a pressão adversária chegue, Matic tem mecanismos para a suplantar) até ao momento em que um companheiro oferece a solução ideal, ou seja, a solução que proporciona ganhos à equipa.

O sérvio cumpre as mais elementares regras da “boa definição de lances” quando tem a bola nos seus pés. A circulação de bola do United ganhou imenso com a chegada do sérvio. É ele que liga o jogo entre sectores, que faz a bola circular de flanco a flanco (processo tão necessário contra equipas bem organizadas num bloco recuado; caso do Everton na primeira meia-hora do jogo de domingo) e que liberta todos os jogadores que jogam à sua frente para funções mais criativas, sem nunca, se expor muito no terreno para não prejudicar o equilíbrio defensivo da equipa de Mourinho. Se a equipa perde o esférico (mesmo nas situações em que o sérvio falha um passe) Matic está lá rapidamente para tentar matar a transição adversária.

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