Bons apontamentos deixados pelo Portimonense de Vítor Oliveira no Estádio do Dragão

Costumo dizer em tom de brincadeira (não quero que subentendam este termo pelo seu sentido pejorativo mas sim pelo seu sentido panegírico) que Vítor Oliveira é uma das verdadeiras “mulas do futebol português” pela competência que tem demonstrado na operacionalização do seu modelo de jogo e no desenvolvimento de jogadores que  em função do estatuto alcançado junto das direcções dos clubes que orienta por força dos bons resultadospela sabedoria e conhecimento profundo sobre o jogo que ostenta e carrega para os clubes que o contratam e pela gestão exímia da sua carreira nos últimos 10 anos, retirando-se estrategicamente para a 2ª Liga, não porque não lhe tenham, na última década, chovido convites de clubes de 1ª porque efectivamente choveram como o técnico veio a confirmar há uns meses nas entrevistas que concedeu a vários órgãos de comunicação social, mas porque o técnico viu no estandardizado futebol de chutão para a frente e de batalha praticado naquele escalão, uma porta de sucesso para a afirmação do seu antagónico modelo de jogo e para a sua própria afirmação profissional depois de anos em que o seu trabalho na 1ª Liga não foi amplamente reconhecido; as primeiras subidas alcançadas em Arouca e Moreira de Cónegos tornaram-no uma referência para todos os clubes que quisessem investir para subir de divisão; a partir das primeiras subidas e da relação de confiança e fiabilidade estabelecida no universo da 2ª liga, ao treinador foi concedida a rara oportunidade de optar em cada defeso pela assumpção dos projectos “mais qualificados e mais endinheirados” e não pelas soluções de recurso que lhe foram apresentadas.

Continuar a ler “Bons apontamentos deixados pelo Portimonense de Vítor Oliveira no Estádio do Dragão”

FC Porto vs Leipzig – 5 breves notas sobre os primeiros 45 minutos

A exibição do Porto nos primeiros 45 minutos foi assente, na minha opinião, em 5 aspectos muito positivos e noutro negativo.

  1. O primeiro aspecto positivo resulta do lance do golo, lance em que Sérgio Conceição voltou a explorar as evidentes deficiÊncias dos alemães neste departamento do jogo, colocando muitas unidades dispersas na área para dificultar o trabalho defensivo dos alemães. Danilo aparece muito bem para colher aquela segunda bola.
  2. O segundo aspecto positivo foi o comportamento defensivo da equipa na primeira parte. Se por um lado, a saída de Marega acarretou a perda de qualidade na saída de jogo (em profundidade, pelos corredores) frente a uma equipa que pressiona organizadamente em terrenos adiantados e que consegue executar um efectivo e até por vezes asfixiante contra-pressing nas zonas onde perde o esférico (em especial, no corredor central), por outro a entrada de André André e a alteração táctica promovida por Conceição deu na minha opinião uma maior robustez ao meio-campo (o Leipzig tem pouco espaço para jogar entre linhas; a execução de uma defesa subida na qual os centrais controlam bem a profundidade) porque tanto André André como Herrera encaixaram bem nos dois médios do Leipzig (Keita e Kampl) embora André André tenha necessariamente que pressionar mais o guineense quando este recebe para lhe condicionar a decisão. No entanto por outro lado percebo que o médio não se queira expor tanto no terreno para não abrir nas suas costas um enorme fosso onde Forsberg pode receber com espaço para criar.
  3. Nas alas, Alex Telles não está a dar um palmo para Bruma receber na direita (levando inclusive o internacional sub-21 a ter que procurar outros canais, mais centrais, para participar no jogo) e Ricardo está a lidar bem com as ameaças que pendem sobre o seu flanco. Quando o Leipzig tenta criar pelo corredor esquerdo (Haltzenberg aparece sempre projectado no último terço) costumam aparecer, para além de Forsberg, Augustin e até por vezes Sabitzer. A formação portista tem conseguido, nessas circunstÂncias colocar muitas unidades para impedir que os alemães procurem levantar bolas para a área ou penetrar na área através de combinações.
  4. O único aspecto negativo que assinalei no primeiro tempo foi a dificuldade que o FC Porto teve para sair a jogar no momento da recuperação do esférico. Danilo, Herrera e André André estão a ter muitas dificuldades para retirar a bola da zona que é pressionada de forma mais intensa pelos alemães (no corredor central). Isto deve-se sobretudo porque Ricardo e Corona nem sempre são rápidos a esticar no flanco direito para oferecerem referÊncias a quem recupera. No outro flanco, Brahimi tem sido mais expedito a abrir para receber mas sempre tem sido alvo de uma marcação impiedosa por parte de Bernardo.
  5. A mobilidade de Aboubakar nos momentos em que a equipa recupera a posse do esférico, oferecendo-se sempre como referÊncia para a equipa esticar o jogo em profundidade. O avançado tem lutado imenso contra Upamecano, batalha que lhe tem permitido a conquista de muitas faltas e por conseguinte a colocação de bolas para a área.

Um interessante exemplo de transição defensiva, espírito de equipa e solidariedade colectiva por Moussa Marega

Na minha ronda diária pelo Youtube à procura de “momentos, situações, palavreado do bom, palavreado do mal do xenófobo e boifiquista do André Ventura e cenas” (como perguntam agora os putos e também alguns graúdos: “ó João, viste aquela cena no Youtube?” – Como é que um gajo que raramente vê televisão, porque a televisão não lhe acrescenta nada de especial pode dizer que não viu se a cena ou que foi o último a ver a cena quando a cena de tão propagandeada que está, nas redes sociais, na imprensa escrita, na rádio praticamente entra pelos nossos olhos a dentro, devorando-nos as pálpebras, a retina, o lobo fontral e o Sulco de Rolando por esta ordem sequêncial e não por outra; claro que vi a cena, pá; quando não vi, finjo que vi e sigo em frente, já a pensar noutra cena qualquer com mais propósito para os meus interesses) apanhei esta, captada e muito bem esgalhada porque quem é de Olhão.  Continuar a ler “Um interessante exemplo de transição defensiva, espírito de equipa e solidariedade colectiva por Moussa Marega”

Os casos de Casillas e Maxi – uma oportunidade de ouro para reforçar o plantel de Janeiro?

casillas 2

Isolemos o que se passou em Leipzig. Isolemos mesmo o que se passou em Leipzig porque a imprensa extrapolou para além do aceitável (dos limites do bom senso) a falha de José Sá no lance do primeiro golo da formação alemã. O lance é inequívoco, não deixando margem para dúvidas: qualquer guarda-redes corre o risco de sofrer aquele golo. Não é preciso ver o lance duas vezes para o compreender: em primeiro lugar, naquele lance concreto, não passaria pela cabeça de qualquer jogador do FC Porto (muito menos pela cabeça do guarda-redes) a possibilidade da bola vir a ser rematada naquelas circunstâncias específicas (na sequência de um canto batido de maneira curta, no qual dois jogadores do FC Porto fizeram a aproximação para dificultar as acções dos três jogadores do Leipzig; o remate sai de uma zona altamente desfavorável para o rematador, com um emaranhado de pernas à sua frente – qual era efectivamente a probabilidade daquela bola não ser desviada a meio do percurso por um jogador? Estou certo que era bastante diminuta; a decisão mais provável para o desfecho daquele lance, seria, em virtude da presença de vários jogadores alemães na área portista, o cruzamento e nunca o remate). Em segundo lugar creio que a muralha que está à frente do guarda-redes portista impede-o de ver a bola partir, diminuindo-lhe claramente o tempo de reacção. Em terceiro lugar, o ressalto do esférico no relvado (molhado) aumenta significativamente a sua velocidade. José Sá só poderia efectivamente ter resolvido com eficácia aquele lance se tivesse optado por desviar a bola para o lado, fazendo-a ultrapassar a linha final. O guarda-redes confia na possibilidade de vir a agarrar aquela bola.  A partir do momento em que não a agarra e a bola bate caprichosamente no rosto, saltando para a sua frente, abre-se outra equação: a corrida ao ressalto. Sá ainda emenda o erro com um toque para frente. O guarda-redes errou porque confiou nas suas capacidades. Mas a defesa também errou no momento do ressalto porque ninguém fez questão de atacar devidamente o ressalto. Continuar a ler “Os casos de Casillas e Maxi – uma oportunidade de ouro para reforçar o plantel de Janeiro?”

Keita e Forsberg – as chaves do sucesso do Leipzig. Um conjunto de notas sobre a derrota do FC Porto na Alemanha

forsberg

A deslocação do FC Porto ao reduto do Leipzig antevia-se naturalmente difícil, não obstantes as boas (e sólidas) exibições protagonizadas pelos portistas nos dois anteriores testes de exigência máxima realizados frente ao Mónaco e Sporting, partidas nas quais Sérgio Conceição conseguiu arranjar uma forma de suplantar o descarrilamento verificado frente ao Besiktas no Dragão, com uma profícua mudança no onze (a colocação de Herrera perto de Aboubakar) que tem permitido à formação da Invicta uma maior acutilância no capítulo da pressão à saída de jogo adversária e uma maior eficácia defensiva a meio-campo. A deslocação dos portistas ao terreno do 2º classificado da Bundesliga 2016\2017 e actual 3º classificado (a 3 pontos da liderança) da actual edição do principal escalão do futebol alemão, antevia-se difícil por várias razões: a primeira e mais destacável reside na qualidade dos processos de jogo da equipa orientada pelo austríaco Ralph Hasenhuttl. A segunda e não menos importante era ditada pela necessidade de somar pontos. As duas derrotas somadas frente ao Mónaco e ao Besiktas, obrigavam os alemães a vencer para acalentar o sonho de ainda poderem vir a discutir o apuramento para os oitavos-de-final. A terceira e também não menos importante, reside na qualidade individual de alguns dos seus artistas.  Continuar a ler “Keita e Forsberg – as chaves do sucesso do Leipzig. Um conjunto de notas sobre a derrota do FC Porto na Alemanha”

Frente a uma equipa extremamente competente, o empate foi um mal menor

gelson

Confesso que estive aqui meia hora a sistematizar o jogo na minha cabeça para que nenhum pormenor me pudesse escraver na altura de escrever este post. O meu exercício acarreta porém, quase sempre uma inevitabilidade. Por mais que a tente fintar, o meu exercício acaba sempre gorado: a multiplicidade quase milionária de acções, posicionamentos, processos, situações, frames muito específicos nos quais virtudes e forças, erros e fraquezas, impedem-me de conseguir escarrapachar tudo no teclado.  A minha sistematização ajudou-me porém a compreender que o Sporting não fez contra o Porto um jogo tão bom quanto o que foi realizado contra o Barcelona. Já o FC Porto fez um jogo tão bom quanto o que fez no Mónaco, claudicando apenas na hora de finalizar. Muito mais fortes e mais competentes que os leões no primeiro tempo (no segundo tempo padeceram do estado físico que acompanhou a formação leonina durante os 90 minutos), a exibição do onze portista faz-me lembrar aquelas partidas de bilhar nas quais, em 7 tacadas, um jogador limpa o bolo de uma assentada mas não consegue finalizar a partida por falta de engenho para meter a bola preta à tabela.

Ao contrário do que aconteceu na partida realizada na quarta-feira frente aos culés, o Sporting não se exibiu a um nível tão eficiente no quadro da fase de organização defensiva (razão que explica em parte as 3 ou 4 situações de golo que os portistas tiveram no primeiro tempo) e ofensivamente voltou a padecer de vários males, males que de resto têm atormentado as exibições da equipa nos últimos jogos: os erros cometidos na transição ofensiva (uma amálgama de passes falhados e de decisões mal tomadas na hora de sair a jogar), indefinição na criação ofensiva (mais uma vez, o Sporting criou poucos lances de perigo real junto à área adversária) e dois matchpoints capitais desperdiçados por falta de engenho dos respectivos intervenientes. Se Bruno Fernandes… Se Bas Dost… Se William… se se se – uma equipa que quer praticar um futebol mais cínico nos jogos contra equipas grandes não se pode dar ao luxo de perder oferta que seja nem pode viver do se nos poucos lances que constrói. Tem que ser eficaz, segura e mais ousada do que aquilo que foi.

Continuar a ler “Frente a uma equipa extremamente competente, o empate foi um mal menor”

Perfeito, perfeito! – o génio de Brahimi

A criar uma situação total de ruptura na defesa adversária com aquela incrível saída em drible e com o passe para Marega. Momento de puro brilhantismo do argelino na partida (um dos vários; à excepção de um ou outro passe falhado à saída da área, sempre que o argelino pega na bola cria progressão), a que se junta claramente a adopção de um sistema táctico por parte de Sérgio Conceição de maior utilidade para os jogos europeus (na primeira parte a colocação de Hector Herrera posicionamento mais adiantado no terreno, próximo de Aboubakar, e muito próximo dos construtores do Mónaco, foi muito importante para não deixar que Fabinho e Moutinho, pudessem ter liberdade para colocar critério na construção de jogo dos monegascos), de rapidez nas transições defensivas e de uma organização defensiva fantástica, na qual, quase todos os jogadores, estão bem posicionados, orientam-se bem para as zonas de presença da bola, fecham bem as linhas de passe, e são reactivos e agressivos quando a bola entra nos pés dos adversários nas suas zonas de defesa.

 

75 minutos de categoria, 5 minutos de terror e muita liberdade para Brahimi criar

brahimi

Brahimi fez uma joga de outro mundo. Ao longo dos 90 minutos não me recordo sinceramente de uma acção onde o extremo do Porto tenha decidido ou definido mal. Dar espaço ao argelino para criar é um verdadeiro veneno que qualquer equipa deve evitar, dadas as melhorias que este está a ter no capítulo da tomada de decisão. Acelerando quando necessitava de acelerar o jogo, pausando quando precisava que a equipa subisse mais no terreno, partindo para o drible quando tinha que partir e soltando a bola no momento certo para a opção mais correcta no momento, o argelino fez tudo bem. 

No Dragão, Vítor Oliveira decidiu cumprir o plano de jogo prometido na conferência de imprensa de antevisão à partida do dragão. O treinador do Portimonense não colocou o autocarro à frente da baliza, mas optou por uma arrojada organização defensiva que lhe causou muitos dissabores na primeira meia-hora.

A disposição de um bloco de 4 linhas relativamente subido terreno, compacto em aproximadamente 40 metros (pouco pressionante e com algum espaço entre linhas para os “interiores” poderem receber e definir; no drible ou no passe vertical; com muito espaço entre a linha defensiva e o guarda-redes) acabou por ser, na minha opinião, um plano de organização defensiva bastante arrojado face a uma equipa cujos médios estão sempre à coca da possibilidade de colocar a bola em profundidade para as desmarcações em velocidade dos seus pontas-de-lança (fortíssimos no ataque à profundidade) e cujos laterais se projectam bem no terreno na tentativa de criarem superioridade numérica nos corredores. A evidente falta de pressão dos algarvios a meio-campo permitiu aos portistas, em especial a Brahimi e Corona, o tempo e o espaço necessário para receber e criar livremente sem qualquer pressão, quer através do drible (rasgando o bloco adversário) quer através de combinações com o adversário quer através de inflexões para o miolo seguidas de variação de flanco.  Continuar a ler “75 minutos de categoria, 5 minutos de terror e muita liberdade para Brahimi criar”

Os golos da jornada (1ª parte)

A importância de uma boa saída na transição para o contra-ataque: o segredo da vitória do FC Porto em Vila do Conde. 

Começo este post com um par de notas sobre a vitória dos portistas em Vila do Conde.

A equipa de Sérgio Conceição teve na primeira parte algumas dificuldades para contrariar a bem montada estratégia de jogo por parte de Miguel Cardoso, estratégia que diga-se de passagem é a mais verdadeira matriz identitária desta equipa. À imagem e semelhança daquilo que fez contra o Benfica, nos primeiros 45 minutos, o treinador do Rio Ave (agente cujo “berço de treino” foi precisamente a formação do FC Porto) apostou nos habituais e bem trabalhados\apurados processos de construção da equipa (iniciados a partir de trás, dos pés do guarda-redes Cássio) para dominar a posse de bola, acima de qualquer outro aspecto, conseguir ultrapassar as duas primeiras linhas de pressão do 4x3x3 subido escalonado por Conceição para colocar os seus médios ofensivos, Tarantini e Barreto de frente para o jogo e com espaço para acelerar a construção ofensivo no meio-campo adversário, aproveitando o espaço existente entre a linha média e a linha defensiva da formação portista.  Continuar a ler “Os golos da jornada (1ª parte)”

Conceição e a “mudança do chip” para as competições europeias

sérgio conceição

“Se alguém é culpado desta derrota sou eu. A abordagem estratégica a este jogo não foi boa.»

Conceição deu a cara pela derrota mas não revelou, por motivos óbvios, aquilo que toda a gente pode ver à vista desarmada no jogo desta noite: uma equipa de meio-campo partido, no qual Danilo foi demasiado exposto a situações de inferioridade numérica em função das subidas de Oliver no terreno e do expresso apoio que é dado pelo médio ofensivo espanhol ao sector mais avançado, facto que o tornou o trinco incapaz para apagar todos os fogos na saída para o contra-ataque do adversário.  Continuar a ler “Conceição e a “mudança do chip” para as competições europeias”

Blogue Insónias

Blogue Insónias onde o livre pensamento tem lugar!

The Daily Post

The Art and Craft of Blogging

WordPress.com News

The latest news on WordPress.com and the WordPress community.