Contra-pressing – o exemplo do lance do 2º golo do Sporting frente ao Olympiacos

via O Artista do Dia

Um momento de contra-pressing considera-se um momento do jogo no qual toda a equipa ou um conjunto de jogadores de determinadas linhas sectoriais da equipa (por exemplo: os jogadores da linha avançada; os jogadores da linha avançada mais os jogadores da linha média) ou de linhas intersectoriais (por exemplo: os laterais, os médios alas e os médios interiores, jogadores que embora fazendo parte de linhas sectoriais distintas – os laterais fazem parte da linha defensiva; os médios alas e os médios interiores fazem parte da linha média – podem ser chamados a ter que se organizar para poderem efectuar pressão sobre uma saída de jogo adversária para os corredores, p.e) organizam-se especificamente no terreno de jogo para poderem reagir à perda do esférico de forma a recuperá-lo. Para o efeito, os jogadores devem agrupar-se em torno do jogador que efectuou a recuperação…

Bruno César 4

Assim que vê o seu remate desviado pelo defensor grego, a primeira coisa que Bruno César faz é acercar-se do portador de forma a:

  • Impedir que este pudesse iniciar a transição para o contra-ataque.
  • Tentar roubar-lhe o esférico para eventualmente poder criar uma situação privilegiada de ataque à baliza adversária.

e dos apoios que este tem disponíveis (por perto, “inseridos” no centro do jogo, ou seja na zona onde se está a disputar o esférico; ou mais distantes; fora do centro do jogo) para dar sequência ao lance, de forma a pressionar o portador (cortando-lhe tempo e espaço para pensar e executar, ou seja para tomar uma decisão) e fechar-lhe o maior número de linhas de passe, para o conduzir ao erro (passe para fora, passe para os pés de um jogador da equipa que está a realizar o contra-pressing) ou à tomada de uma decisão que facilite a recuperação da bola (o passe para um jogador que esteja marcado por um adversário, situação que poderá permitir ao jogador da equipa que está a realizar o contra-pressing a recuperação da bola em virtude de um movimento de antecipação ou de um tackle).

bruno césar

Battaglia pressiona o portador enquanto Bruno César tenta fechar a linha de passe para o apoio que Fortunis tem disponível de forma a poder recuperar o esférico com um movimento de antecipação. 

O contra-pressing é por defeito um momento de organização da pressão na qual as equipas ao invés de recuar, tentam avançar no terreno de forma a pressionar imediatamente o portador no sentido de o obrigar a cometer erros. A pressão deve imediata, deve ser feita preferencialmente em superioridade numérica e jamais deve descurar a marcação ao jogador-referência que a outra equipa utiliza para sair para o contra-ataque porque há grandes probabilidades do portador vir a procurar esse jogador. No caso dos gregos do Olympicos, as referências eram o falso 9 Fortunis e os extremos Pardo e Carcela.

Vantagens de um bom contra-pressing:

  • A formação que o realiza estanca a saída adversária para o ataque, ataque rápido (supondo que nas suas linhas atrasadas, a equipa esteja bem organizada) ou contra-ataque.
  • A recuperação da bola em sectores adiantados do terreno poderá permitir a criação de uma plataforma de ataque à baliza adversária, podendo ou não apanhá-la descompensada no momento da recuperação.

Riscos decorrentes do uso ou abuso da estratégia de contra-pressing:

  • Se a equipa ultrapassar a pressão, poderá ter espaço para jogar entre a linha ou as linhas que pressionam e a linha que não está a pressionar (espaço nas costas do meio-campo; espaço nas costas da defesa).
  • Se a equipa ultrapassar a pressão, pode iniciar um contra-ataque em superioridade numérica sobre o adversário.
  • Uma maior sobrecarga física sobre os jogadores.

Resta-me agradecer todo o apoio e carinho. Se ainda não segue o Meu Caderno Desportivo nas redes sociais está na hora de seguir aqui.

 

Mathieu, Piccini, Bruno e Bruno César ultrapassaram o labirinto grego!

Bruno César 3

Já se sabe que o homem na Champions é fera! Bruno César transcende-se por completo nos jogos grandes. A voracidade com que o brasileiro atacou o homem a que coube o azar de receber o ressalto do seu remate foi, na minha opinião, a melhor acção individual praticada no tapete de Alvalade. A reacção à perda do esférico é cada vez mais importante nos dias que correm. Como pudemos constatar no lance do 2º golo, obra do brasileiro, uma boa reacção à perda não só mata por completo uma eventual transição que possa criar problemas defensivos à equipa, como garante, conforme a posição do terreno em que a recuperação é efectuada, um precioso matchpoint, que devidamente aproveitado, pode ajudar a decidir um jogo. A reacção de Bruno decidiu uma partida oferecendo à equipa 45 minutos para descansar com bola.

O bem organizado bloco baixo defensivo dos gregos não foi a tormenta criada por Dédalo para encurralar o minotauro mas foi quase. Não fosse aquele passe longo de Jeremy Mathieu a descobrir Cristiano Piccini bem projectado na ala direita, acção que foi deveras rara no lateral italiano até aquele preciso momento do jogo, em virtude das necessidades ditadas pelo adversário nas suas rápidas saídas em contra-ataque pelos corredores, necessidades que obrigaram Jorge Jesus mais uma vez a pedir muita contenção nas subidas aos laterais, para não serem apanhados em falso no lançamento do contra-ataque adversário, em especial nos momentos em que o adversário recuperava a bola, e a história do jogo poderia ser um verdadeiro cabo do Bojador para a formação leonina.

Na primeira meia hora eu compreendi a necessidade sentida pelo técnico do Sporting, mas por outro lado também deduzi que Jesus queria o melhor de dois mundos: a estabilidade defensiva da equipa e a criação de lances de perigo através da exploração do jogo interior. O problema é que que o adversário teve o mérito de congestionar o corredor central com a colocação de muitas unidades e de ser ali, naquela zona do terreno, extraordinariamente pressionante às investidas leoninas, não obstante a presença dos extremos, a sua mobilidade (tentando baralhar as marcações) e a sua procura pela posse do esférico. O único lance de perigo dos gregos, surgido precisamente numa transição em contra-ataque montada pelos corredores, surge de uma falha na abordagem ao adversário de Fábio Coentrão.

Embora as imagens não mostrem a jogada completa e o momento ao qual queria dar enfase, este lance surge na sequência de uma recuperação de bola efectuada pelos gregos no seu meio-campo seguida de um rápido lançamento para Felipe Pardo. Coentrão adiantou-se para tentar roubar a bola ao colombiano sendo surpreendido com um toque do colombiano para a sua rectaguarda, toque que permitiu a Diogo Figueiras, mais rápido que Bruno César, aquela enorme avenida para correr.

Fora este lance, foram 40 minutos de boa organização defensiva do Olympiacos e nada mais. A ideias de jogo do treinador grego pass única e exclusivamente, à falta de um homem na área (embora Kostas Fortunis tenha em um ou dois momentos ajudado a ligar o jogo entre o centro e as alas) por explorar, em acções de contra-ataque, as poderosas e eficazes acções 1×1 de Felipe Pardo e uma ou outra situação de overlaping que pudesse ser criada nos corredores. Foram no fundo essas as situações que motivaram Jorge Jesus a pedir aos laterais para se conterem nas subidas. Imaginem o que é que poderia ter acontecido em meia dúzia de lances se Piccini e Coentrão se tivessem aventurado no terreno.

Até aos 40″ o bem montado bloco recuado montado em 4x1x4x1 pelo novo treinador da formação grega, Takis Lemonis, organização defensiva totalmente antagónica aquela que vimos na primeira jornada com o anterior técnico dos gregos, o albanês Besnik Hasi, teve o condão de dificultar a penetração leonina. Estando os espaços centrais completamente congestionados e preenchidos por 3 médios de cobertura (Romao, Gillet e Tachsidis; este último tinha a missão de vigiar as entradas de jogadores entre linhas) com o auxílio directo de Fortunis, a estratégia de jogo teria obrigatoriamente que passar pela retirada do esférico das zonas de pressão adversária, circulando rapidamente para as alas de forma a chamar os laterais ao jogo para obrigar a equipa grega a esticar a toda a largura do terreno, dificultando-lhes as acções de cobertura e obrigando-os a ter se deslocar para as alas para abrir mais espaços para jogar no corredor central. Caso os laterais continuassem descidos, só haveriam três ou quatro situações capazes de cumprir os propósitos do jogo: uma ou outra combinação que se pudesse fazer pelo meio, um lance de bola parada (André Pinto e Dost foram profundamente infelizes logo aos 2″ na finalização aquele sublime lance de laboratório) ou um remate de meia distância. Até ao primeiro golo, o Sporting só conseguiu penetrar no interior do bloco adversário uma vez naquela combinação realizada por Bruno e Battaglia na qual Bruno colocou o argentino em zona de finalização. Pelo meio há aquela fantástica acção de Dost na sequência de um lançamento lateral na esquerda, acção que deverá certamente ter agradado a Jesus porque é efectivamente isso que Jesus pede ao seu ponta-de-lança naquela situação específica.

O jogo pedia portanto menos rendinhas de bilros a meio, e mais circulação directa, dos centrais para os flancos, devendo os laterais subir mais no terreno (preferencialmente por fora, bem abertos juntos às laterais) para magicar mais combinações com os alas, ancorados por dentro, pelo interior do terreno.

Quando os laterais sobem no terreno, o futebol do Sporting ganha outra dimensão.

Com aquele passe longo para Piccini, Mathieu abriu a arca de pandora, fazendo jus às qualidades de organizador que lhe reconhecemos. O francês viu a subida no italiano no terreno, numa fase em que Gelson tinha regressado a terrenos exteriores, meteu aquele esbelto pé esquerdo a funcionar, e o italiano, criou o desequilíbrio quando passou por 2 opositores para servir a desmarcação de Gelson, calando todos aqueles (eu inclusive) que duvidaram do seu potencial ofensivo. Com aquela espantosa rotação, o extremo serviu a entrada de Bas Dost. Mais uma vez, à killer, vindo de gazão pela rectaguarda do central, antecipou-se e enfiou a bolinha lá dentro.

Se Piccini, Gelson e Dost fizeram o meu dia, Bruno César completou o dia do meu gato. A euforia foi tanta que o pobre Cocas, decidiu no momento do golo do brasileiro, passar a sua pata por cima do comando da televisão, desligando-a por momentos. Ambos corremos pela casa: eu de felicidade e o Senhor Cocas com algum receio, não fosse o dono fazer-lhe aquilo que faz regularmente com as setas ao esgaçado poster do plantel do Benfica 2004\2005.

O recital de Bruno, de Bruno César, de Battaglia e dos laterais – um cheirinho a bom futebol

Com os 2 golos, os gregos amoleceram por completo e viram-se impotentes para ir lá à frente criar lances de perigo, não obstante as modificações realizadas pelo seu treinador. A desintensificação da pressão efectuada no corredor central e a maior pendente ofensiva demonstrada pelos laterais, aparecendo mais vezes inseridos nos processos ofensivos, pontuadas com alguns movimentos divergentes de Bruno Fernandes para as alas, em especial para a direita para esticar o jogo quando a bola saia pela direita por Piccini ofereceram-nos jogadas de alguma beleza que certamente terão empolgado muitos sportinguistas. Este é o futebol que Jesus quer certamente praticar com esta equipa. Um futebol combinativo, enleante, bem trabalhado (no qual até Dost é de vez em quando chamado pelos médios para ceder apoios frontais que, por força dos arrastamentos promovidos pelo holandês abrem linhas de passe para a colocação da bola em profundidade nas costas da defesa para a corrida dos homens dos corredores, como veio acontecer num lance na 2ª parte).

Não posso de forma alguma terminar este post com três curtíssimas notas:

  • A primeira está relacionada com o exímio posicionamento de Battaglia nos momentos de transiçãoSs defensiva. O argentino é um verdadeiro olho de falcão desta equipa, o homem que tudo adivinha, que tudo sabe da intenção adversária. O homem que sabe quando é que tem de sair para pressionar, quando e para onde é que tem de correr para ganhar aquela segunda bola. O homem que sabe quando é que tem que cair para uma ala para impedir que aquele lançamento longo chegue ao destinatário. O homem que sabe que linhas tem de fechar, que movimento tem de seguir, que zona é que precisa da sua preciosa ajuda, do seu precioso músculo. Batta foi sem dúvida alguma a melhor aquisição desta época. Eu gosto muito de o ter por Alvalade e já referi noutra ocasião em tom de brincadeira que se Azeredo Lopes tivesse Batta a vigiar o paiol de tancos, muito dificilmente lhe roubavam o armamento.
  • As ganas de Bruno. Bruno foi o jogador que mais correu em campo num total de 12 km. Bruno construiu, Bruno veio atrás quando a equipa precisava do seu esforço de construção, Bruno avançou quando sentiu que a equipa precisava da sua presença mais próximo da área. Bruno serviu em zona interior, Bruno combinou, Bruno conduziu, Bruno estendeu para a ala, Bruno pensou sempre em dar profundidade à ala quando viu os laterais a subir que nem galgos, Bruno cruzou, Bruno colocou a bola na cabecinha de Dost e está no lance do golo de Bruno César e na 2ª parte mereceu o golo. Bruno é no fundo os valores que consubstanciam o Sporting. Obrigado Bruno!
  • Sinal negativo mais uma vez para o mestre da Alta Definição: com o resultado mais que controlado, Jesus tardou imenso a mexer na partida para dar descanso aos homens que tem sentido limitações físicas. Esperemos que os minutos a mais que deu a Mathieu, a William e a Coentrão não lhe tragam dissabores em Paços de Ferreira.

O pré-Gelson e o pré-Bruno, o pós-Gelson e o pós-Bruno.

bruno fernandes 4

Houve um jogo antes da entrada de Gelson (um futebol completamente amorfo, acabrunhado, sem ligação entre sectores) e um jogo ligeiramente diferente após a entrada na partida de Gelson, pesem no entanto as dificuldades sentidas até à entrada de Bruno Fernandes aos 59″, pela dupla de centrais e de médios (Battaglia e Petrovic no capítulo da saída de jogo e da primeira fase de construção, dificuldades essas que naturalmente foram agudizadas pela disposição compacta e pela agressividade demonstrada no capítulo da pressão (montada à entrada do meio-campo) pelos jogadores da formação minhota (há que dar mérito à organização defensiva exemplar demonstrada pelos comandados de Dito), pela inserção forçada de Bruno César nos flancos face à ausência de Acuña (esperemos que Ruiz venha com vontade para colmatar essa lacuna de plantel), pela falta de velocidade, de mobilidade de algumas unidades (não se desmarcando convenientemente para abrir linhas de passe), de paciência na circulação e até de inteligência por parte de Petrovic, dificuldades que por outro lado foram amenizadas com as constantes (e habituais) entradas do extremo em zonas interiores para vir buscar jogo atrás, de forma a auxiliar a ligação do jogo entre sectores, em especial a ligação e a parceria com Daniel Podence.

Jorge Jesus continua na sua onda experimental, naquela onda experimental que só traz desgraças aos clubes que vai orientando. Casar no meio-campo um médio de cariz mais defensivo (Petrovic) que sente efectivamente muitas dificuldades para discernir o que é que deve fazer com a bola em cada lance concreto (se deve passar, se deve arriscar um passe para um jogador entre linhas, se deve procurar os laterais, se deve progredir com a bola para o espaço livre que lhe é oferecido pelo adversário para atrair jogadores para libertar outros espaços para jogar nos corredores; chegou a existir ali um período em que os jogadores famalicenses ignoraram-no por completo, deixando de pressionar o sérvio, quando Dito apercebeu-se  da natureza inofensiva de Petrovic ou seja, da sua evidente incapacidade em gerar progressão à equipa através do transporte de bola) com outro, Rodrigo Battaglia, que, embora tendo registado melhorias neste aspecto desde que entrou pela Porta 10A, continua a ter muitas dificuldades no capítulo do passe e na partida de hoje decidiu, para cúmulo das dificuldades criadas pelo adversário, assumir menos o esférico no momento de construção para realizar movimentações completamente distintos que lhe são habituais (procurando entrar muitas vezes entre linhas ou até mesmo nas costas da defesa contrária), foi uma decisão de génio. Na minha opinião, Bruno Fernandes deveria ter entrado de início para resolver este jogo cedo, fazendo-o descansar quando o jogo (e o próprio adversário) estivesse totalmente dominado.

Nos primeiros 20 minutos assistimos a um Sporting com muitas dificuldades para construir. Frente a uma equipa que se organizou num bloco compacto bastante bem organizado, e bastante producente, com uma 1ª linha de pressão efectiva à entrada do meio-campo e um sistema de coberturas muito bem montado no qual todos os jogadores demonstraram o mínimo de intensidade e agressividade nas disputas, era preciso abordar esta partida de outra forma completamente diferente. O que vimos foi uma mão cheia de jogadores verdadeiramente impacientes na saída de jogo, de processos lentos, tentando despachar o jogo rapidamente para as costas da linha média famalicense, ao invés de tentar circular pacientemente e em velocidade entre flancos e\ou de ter um jogador capaz de romper coma bola pelo centro para obrigar a estrutura defensiva famalicense a dançar, ou seja, a ter que deslocar mais unidades para o miolo quando um jogador entrasse com o esférico em condução pelo meio (atraindo jogadores para abrir naturalmente espaços para jogar nas alas; o que até poderia resultar numa 2ª fase na entrada da bola no jogo interior em Podence ou em Dost) ou a ser atraída para um flanco para rapidamente se executar uma variação para o outro de forma a criar espaço para os jogadores da ala esquerda progredir.

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Oh Fortuna, maldita Fortuna!

bas dost 5

Há 15 dias atrás, deixei aqui um conjunto de interrogações que, face ao que aconteceu esta noite em Alvalade, ainda se mantém válidas (quem sabe para Nou Camp; embora a esperança já não seja por motivos óbvios muita) visto que as respostas não foram finalmente encontradas. Creio que nos voltou a faltar a sorte em alguns lances e é um pouco por isso que a derrota de Turim e o empate agora conseguido frente aos italianos me sabem a pouco e me custam um mundo inteiro (talvez um feriado inteiro) a digerir.  Custam-me a digerir porque pior é a sensação de ter perdido um jogo onde fomos competentes do que ter perdido um jogo onde não podemos salientar um único aspecto positivo do rendimento da equipa. Sorte. Faltou sorte.

Faltou sorte para tamanha competência, para tamanha organização defensiva, para tamanha organização demonstrada em cada saída para o contra-ataque, para recompensar a garra exibida por Gelson, Acuña, e Bruno em cada saída para o contra-ataque, para recompensar cada pausa realizada por Bruno para pensar bem a construção de jogo (embora o Ristovski ainda esteja certamente a pensar porque é que o Bruno não lhe canalizou mais jogo na primeira parte quando o esvaziamento do flanco idealizado por Allegri lhe poderia ser benéfico; bastava por vezes ao médio olhar antes de receber para ler aquele sui géneris contexto apresentado pelos italianos na ala direita) e por Dost para o ligar convenientemente, para garantir posse de bola (retirando-a ao adversário; fazendo-o correr atrás do jogo; fazendo-o temer o leão), para tamanho espírito de batalha (interceptando cada bola, lutando por cada dividida como se fosse a última das nossas vidas e das vidas dos nossos jogadores – neste capítulo Rodrigo Battaglia foi enorme) para tamanha fome de vencer. Tamanha competência defensiva, apenas quebrada, como vamos ver mais à frente pela única falha defensiva grave cometida durante todo o jogo no capítulo do controlo à profundidade, numa fase em que a falta de força nas pernas já se alastrava para o foro psicológico. No único lance em que os enormes Gelson e Ristovski, jogadores que foram abnegados em todos os sentidos, correndo uma verdadeira maratona para por aquele flanco num verdadeiro lustro (até mesmo quando Allegri deu significado ao ditado “quem tem cú tem medo” – retirando o lateral direito para colocar toda a carne no assador com a entrada de um dos “nossos carrascos” de Turim, Douglas Costa, colocando Manduzkic na área para ver se o croata voltava a colher louros da burrice de Jonathan Silva) não subiram no terreno, colocando Higuaín em jogo no momento do redondinho passe de Cuadrado para a desmarcação do argentino. Faltou sorte naquele lance construído na direita por Bruno ao qual Bas Dost não chegou por uma unha negra. Se o holandês tivesse mais 35 cm de perna ou um arranque superior ao que tem, aquela tão desejada vitória seria certamente nossa. Continuar a ler “Oh Fortuna, maldita Fortuna!”

Sporting 5-1 Chaves – Uma vitória categórica.

bas dost

O quão importante para nós sportinguistas foi ver, nesta altura tão sensível do ponto de vista ofensivo da temporada (onde a equipa demonstrou, quer nos jogos realizados para a Champions, quer nos jogos realizados contra FC Porto, Marítimo ou Tondela, ter enormes dificuldades para decidir bem no último terço do adversário) um sorridente, afinado e lutador Bas Dost de regresso ao exemplar despacho do seu expediente? Estou certo que para todos os sportinguistas foi demasiado importante, foi uma verdadeira catárse em relação a tudo o que nos tem acontecido nos últimos jogos! Está tudo bem, o nosso “flying dutchman” está de volta, VAMOS COM TUDO PARA SERMOS CAMPEÕES, CARALHO! Para mim, verdadeiro apaixonado da cabeça aos pés deste clube há 30 anos, 132 dias, 16 horas e 56 minutos, (que fique bem sublinhado para que não restem dúvidas), e aficionado do futebol do ponta-de-lança desde o primeiro minuto em que o vi jogar no Heerenveen, foi um momento emocionante. Nestas coisas do desporto eu emociono-me com muita facilidade. Só Deus ou qualquer outra dividade sabe o quanto custa a um ponta-de-lança passar jogos inteiros a seco e digerir estas mesmas prestações na semana seguinte de trabalho –  sem golos e sem oportunidades para exercer o seu nobre mister, a confiança vai-se esvaindo. Por outro lado só Deus ou outra divindade qualquer sabe o quanto custa a um adepto ver que a sua equipa defende bem, transita bem, circula bem, movimenta-se bem, sabe como tornear correctamente a organização defensiva do adversário, faz chegar a bola à bica da área adversária mas, nesse momento não aborda correctamente o momento da decisão. Só Deus ou outra divindade qualquer (eu cá actualmente só acredito no Deus Acuña; isto é, antes do Deus Acuña também acreditava em Ala por obra e graça do Espírito Santo Slimani; um gajo por golos, títulos e bom futebol vende-se ao primeiro que o faça sonhar!) 

Bas Dost soube, no final, na flash interview reconhecer que o seu jogo (e que jogo! 3 golos, 1 formidável assistência para calar todos os “sábios da sinagoga” que o acusam de ser “uma parede sem retorno” e de não saber ligar o jogo quando é preciso; em dois dos cinco golos, Dost sai da marcação para vir receber o jogo, ligando-o com uma pinta, desculpem-me o uso do calão, do caralho!;) também dependeu da prestação do seu pequenino compincha, do génio de Daniel Podence. Aproveito esta transição para passar da primeira para a segunda de várias notas que tenho aqui projectadas para este post.  Continuar a ler “Sporting 5-1 Chaves – Uma vitória categórica.”

Os sinais positivos e negativos da exibição do Sporting em Oleiros

Da exibição de Oleiros, destaco como positivas 3 exibições individuais:

A de Daniel Podence  – Em Oleiros, o segundo avançado começou a ganhar forma, podendo-se dizer que está finalmente pronto para se constituir como alternativa a Bruno Fernandes ou até mesmo para abraçar a titularidade quando o médio for obrigado a recuar no terreno devido a qualquer impedimento que não permita a Jorge Jesus utilizar William ou Battaglia. Em forma ou fora de forma, não tenham dúvidas que Podence é, em todas as dimensões do jogo (técnica, física, táctica, psico-cognitiva) um grande craque. Continuar a ler “Os sinais positivos e negativos da exibição do Sporting em Oleiros”

Sporting – Findo o segundo ciclo, o que é que se perspectiva?

Por Miguel Condessa*

sporting 101

Findo o segundo ciclo, o que se viu, o que se perspectiva…

Depois de 2 jogos, em casa, de enorme grau de dificuldade, creio que a maioria dos adeptos conscientes ainda não terá percebido bem se temos realmente uma equipa para ganhar títulos este ano ou não. Todos nós, sportinguistas, temos essa esperança mas uns acharão que ainda nos falta algo e outros já pensam que estão reunidas todas as condições – ainda por cima com o VAR! – para ser este ano o nosso ano!

Eu, confesso, inicialmente pensei que sim, contrariando até a minha ideia inicial que nunca seremos campeões com o Jesus, mas agora penso que ainda nos faltam algumas coisas… Tivemos já dois grandes ciclos de jogos – entre o início da temporada e os jogos da selecção. No primeiro ciclo, em Agosto, fizemos 6 jogos – Aves (f), Setúbal (c), Steaua (c), Guimarães (f), Steaua (f) e Estoril (c) – com 5 vitórias e 1 empate. Neste segundo ciclo, em Setembro, em 7 jogos – Feirense (f), Olympiacos (f), Tondela (c), Marítimo (c), Moreirense (f), Barcelona (c) e Porto (c) – conseguimos 3 vitórias, 3 empates e 1 derrota, sendo que nos últimos 4 jogos não vencemos nenhum!

É da minha opinião que temos um bom plantel, o melhor das 5 épocas do Bruno de Carvalho, com algumas lacunas, que nos dá uma boa base para trabalhar daqui para a frente. Este ano as aquisições foram bastante assertivas – a excepção será o Matheus Oliveira que não tem, nunca teve, e acho que dificilmente terá, andamento para jogar num clube como o Sporting – e tivessem sido assim nos dois anos anteriores de certeza que não tínhamos as limitações que temos e seriamos muito mais fortes. Continuar a ler “Sporting – Findo o segundo ciclo, o que é que se perspectiva?”

Frente a uma equipa extremamente competente, o empate foi um mal menor

gelson

Confesso que estive aqui meia hora a sistematizar o jogo na minha cabeça para que nenhum pormenor me pudesse escraver na altura de escrever este post. O meu exercício acarreta porém, quase sempre uma inevitabilidade. Por mais que a tente fintar, o meu exercício acaba sempre gorado: a multiplicidade quase milionária de acções, posicionamentos, processos, situações, frames muito específicos nos quais virtudes e forças, erros e fraquezas, impedem-me de conseguir escarrapachar tudo no teclado.  A minha sistematização ajudou-me porém a compreender que o Sporting não fez contra o Porto um jogo tão bom quanto o que foi realizado contra o Barcelona. Já o FC Porto fez um jogo tão bom quanto o que fez no Mónaco, claudicando apenas na hora de finalizar. Muito mais fortes e mais competentes que os leões no primeiro tempo (no segundo tempo padeceram do estado físico que acompanhou a formação leonina durante os 90 minutos), a exibição do onze portista faz-me lembrar aquelas partidas de bilhar nas quais, em 7 tacadas, um jogador limpa o bolo de uma assentada mas não consegue finalizar a partida por falta de engenho para meter a bola preta à tabela.

Ao contrário do que aconteceu na partida realizada na quarta-feira frente aos culés, o Sporting não se exibiu a um nível tão eficiente no quadro da fase de organização defensiva (razão que explica em parte as 3 ou 4 situações de golo que os portistas tiveram no primeiro tempo) e ofensivamente voltou a padecer de vários males, males que de resto têm atormentado as exibições da equipa nos últimos jogos: os erros cometidos na transição ofensiva (uma amálgama de passes falhados e de decisões mal tomadas na hora de sair a jogar), indefinição na criação ofensiva (mais uma vez, o Sporting criou poucos lances de perigo real junto à área adversária) e dois matchpoints capitais desperdiçados por falta de engenho dos respectivos intervenientes. Se Bruno Fernandes… Se Bas Dost… Se William… se se se – uma equipa que quer praticar um futebol mais cínico nos jogos contra equipas grandes não se pode dar ao luxo de perder oferta que seja nem pode viver do se nos poucos lances que constrói. Tem que ser eficaz, segura e mais ousada do que aquilo que foi.

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Tudo errado! – Uma dúzia de pensamentos soltos e factos sobre o empate do Sporting em Moreira de Cónegos

jorge jesus 3.jpg

Estava profundamente enganado. Quando há algumas semanas atrás escrevi neste preciso espaço a ideia de que Jorge Jesus estaria, na presente temporada, mais consciente e mais criterioso na gestão que faz do seu plantel, escolhendo com prudência e mestria as soluções ideais para cada “tipo de adversário” estava profundamente enganado: os erros básicos de percepção e análise dos pontos fortes e fracos do adversário e a incapacidade evidente que o treinador do Sporting possui para “pensar um jogo de cada vez”, leva-o a cometer erros desnecessários (dados os objectivos traçados para a temporada e ao contexto do grupo de Champions no qual está inserido) que custam pontos e que custam, acima de tudo, títulos ao clube. Sempre que Jesus inventa, o Sporting perde pontos. Sempre que a equipa vem de um jogo contra um grande europeu, a equipa perde pontos. Só um treinador com uma enorme (inabalável) fé na(s) (falta de) qualidades de um jogador cuja prática (ou falta dela), perdoem-me a expressão, mete, a cada dia que passa, os adeptos leoninos à beira de um ataque de nervos, leva o treinador leonino a prescindir (num jogo em que era mais que “certo e sabido” que o adversário iria tentar complicar ao máximo a circulação leonina com uma boa prestação defensiva, com um enorme espírito de combate e com processos de jogo essencialmente formatados para a saída em contra-ataque) de um jogador de combate, colocando no seu lugar um jogador que não acrescenta nada a esta equipa. Nada. Volto a repetir. Nada.  Continuar a ler “Tudo errado! – Uma dúzia de pensamentos soltos e factos sobre o empate do Sporting em Moreira de Cónegos”

Empate merecido num jogo de teste em que Jorge Jesus ganhou algumas opções

ristovski

De todas as alternativas ao plano principal que Jorge Jesus fez subir ao tapete de Alvalade os únicos que me convenceram verdadeiramente foram Ristovski, Petrovic e André Pinto. Jonathan fez um jogo interessante, sem muitas falhas. Já Iuri e Matheus Oliveira destacaram-se pela negativa. Ao brasileiro, Jorge Jesus passou até um atestado de incompetência para a sua posição quando o passou para o flanco esquerdo a meio da primeira parte, colocando Bruno César no miolo. O macedónio provou mesmo que está disponível para lutar pela titularidade com Piccini ao longo da temporada. Veloz na condução (imprimindo velocidade ao jogo sempre que é chamado a participar) e nos momentos de recuperação defensiva, o combativo macedónio é dono de um óptimo posicionamento (foram várias as bolas que interceptou ao longo do jogo), é bastante raçudo na abordagem às acções 1×1 do adversário e nas divididas, projecta-se bem no terreno (dando profundidade ao jogo) e arrisca o 1×1 sempre que pode. 

O jogo de estreia na Taça da Liga serviu para Jorge Jesus rodar jogadores. Sem pressão (creio que Jesus terá dado de barato o resultado ao adversário em detrimento do crescimento do colectivo; do conjunto de soluções de banco que podem dar uma resposta imediata em caso de impedimento de qualquer um dos titulares) o treinador do Sporting aproveitou a ocasião para dar minutos aos jogadores menos utilizados com o intuito expresso de perceber se estes tem entrega suficiente para merecer a sua confiança num futuro próximo e se conseguem entrar nas dinâmicas exigidas pelo seu modelo de jogo. Se alguns jogadores responderam afirmativamente à chamada, aproveitando a oportunidade para dar novas opções ao seu treinador, outros não. Matheus é, como já pude referir no início do post, uma carta cada vez mais fora do baralho. O brasileiro não tem nada de Sporting: não tem intensidade, não é rápido a pensar e a executar, não é eficaz no passe, não pressiona. Nada. Depois do que vi da exibição do jogador, se fosse presidente do Sporting, mandava a factura dos ordenados e das comissões de transferência do jogador para o Bebeto pagar ou então pedia-lhe encarecidamente, em troca de uma compensação financeira, a sua presença em Alcochete para ensinar o filho a jogar e para ensinar ao Doumbia os movimentos que um avançado deve fazer na área para facilitar a vida de quem está nas linhas a cruzar.

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