O Aves de Lito Vidigal

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Ao longo da vida, é natural ou pelo menos deve ser considerado como natural a simpatia ou a preferência por determinadas pessoas ou personagens em detrimento de outras, cuja personalidade, carácter ou feitio choca directamente com a nossa(o), ou com aquelas cujas atitudes ou comportamentos praticados não se enquadram nos moldes dos valores éticos ou nos comportamentos que acreditamos, defendemos, ensinamos e praticamos. No entanto, o facto de não gostar da personalidade de determinada pessoa ou dos comportamentos que esta pratica, não me tolda ao ponto de não reconhecer a grandeza dos seus feitos, o luminoso brilho do seu pensamento ou a grandeza da sua obra. Ao contrário do português comum, o sucesso alheio não me cria qualquer espécie de confusão nem sequer uma pontinha de inveja. Infelizmente sei que vivo em completa contra-corrente em relação à realidade do país. Os portugueses têm uma certa tendência para idolatrar deuses com pés de barro que nada de útil tem para oferecer à sociedade e para ferrar o seu mesquinho bico naqueles que realmente tem conteúdo para oferecer. O português tem uma natural tendência para querer ter em igual marca e espécie o carro que o vizinho comprou. Se não consegue igualar o seu fato ou o seu feito, o português não descansa enquanto não descer o vizinho ao seu nível de mediocridade. A propósito disto um dia escreveu Torga nos seus diários:   “Só há uma solução quando se vive num ambiente medíocre, entre medíocres: recusar a mediocridade” – ao longo destes últimos meses, tenho-a recusado insistentemente, “afastando de mim esse cálice” – como um dia cantaram Milton e Chico Buarque. Continuar a ler “O Aves de Lito Vidigal”

Keita e Forsberg – as chaves do sucesso do Leipzig. Um conjunto de notas sobre a derrota do FC Porto na Alemanha

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A deslocação do FC Porto ao reduto do Leipzig antevia-se naturalmente difícil, não obstantes as boas (e sólidas) exibições protagonizadas pelos portistas nos dois anteriores testes de exigência máxima realizados frente ao Mónaco e Sporting, partidas nas quais Sérgio Conceição conseguiu arranjar uma forma de suplantar o descarrilamento verificado frente ao Besiktas no Dragão, com uma profícua mudança no onze (a colocação de Herrera perto de Aboubakar) que tem permitido à formação da Invicta uma maior acutilância no capítulo da pressão à saída de jogo adversária e uma maior eficácia defensiva a meio-campo. A deslocação dos portistas ao terreno do 2º classificado da Bundesliga 2016\2017 e actual 3º classificado (a 3 pontos da liderança) da actual edição do principal escalão do futebol alemão, antevia-se difícil por várias razões: a primeira e mais destacável reside na qualidade dos processos de jogo da equipa orientada pelo austríaco Ralph Hasenhuttl. A segunda e não menos importante era ditada pela necessidade de somar pontos. As duas derrotas somadas frente ao Mónaco e ao Besiktas, obrigavam os alemães a vencer para acalentar o sonho de ainda poderem vir a discutir o apuramento para os oitavos-de-final. A terceira e também não menos importante, reside na qualidade individual de alguns dos seus artistas.  Continuar a ler “Keita e Forsberg – as chaves do sucesso do Leipzig. Um conjunto de notas sobre a derrota do FC Porto na Alemanha”

Frente a uma equipa extremamente competente, o empate foi um mal menor

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Confesso que estive aqui meia hora a sistematizar o jogo na minha cabeça para que nenhum pormenor me pudesse escraver na altura de escrever este post. O meu exercício acarreta porém, quase sempre uma inevitabilidade. Por mais que a tente fintar, o meu exercício acaba sempre gorado: a multiplicidade quase milionária de acções, posicionamentos, processos, situações, frames muito específicos nos quais virtudes e forças, erros e fraquezas, impedem-me de conseguir escarrapachar tudo no teclado.  A minha sistematização ajudou-me porém a compreender que o Sporting não fez contra o Porto um jogo tão bom quanto o que foi realizado contra o Barcelona. Já o FC Porto fez um jogo tão bom quanto o que fez no Mónaco, claudicando apenas na hora de finalizar. Muito mais fortes e mais competentes que os leões no primeiro tempo (no segundo tempo padeceram do estado físico que acompanhou a formação leonina durante os 90 minutos), a exibição do onze portista faz-me lembrar aquelas partidas de bilhar nas quais, em 7 tacadas, um jogador limpa o bolo de uma assentada mas não consegue finalizar a partida por falta de engenho para meter a bola preta à tabela.

Ao contrário do que aconteceu na partida realizada na quarta-feira frente aos culés, o Sporting não se exibiu a um nível tão eficiente no quadro da fase de organização defensiva (razão que explica em parte as 3 ou 4 situações de golo que os portistas tiveram no primeiro tempo) e ofensivamente voltou a padecer de vários males, males que de resto têm atormentado as exibições da equipa nos últimos jogos: os erros cometidos na transição ofensiva (uma amálgama de passes falhados e de decisões mal tomadas na hora de sair a jogar), indefinição na criação ofensiva (mais uma vez, o Sporting criou poucos lances de perigo real junto à área adversária) e dois matchpoints capitais desperdiçados por falta de engenho dos respectivos intervenientes. Se Bruno Fernandes… Se Bas Dost… Se William… se se se – uma equipa que quer praticar um futebol mais cínico nos jogos contra equipas grandes não se pode dar ao luxo de perder oferta que seja nem pode viver do se nos poucos lances que constrói. Tem que ser eficaz, segura e mais ousada do que aquilo que foi.

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Perfeito, perfeito! – o génio de Brahimi

A criar uma situação total de ruptura na defesa adversária com aquela incrível saída em drible e com o passe para Marega. Momento de puro brilhantismo do argelino na partida (um dos vários; à excepção de um ou outro passe falhado à saída da área, sempre que o argelino pega na bola cria progressão), a que se junta claramente a adopção de um sistema táctico por parte de Sérgio Conceição de maior utilidade para os jogos europeus (na primeira parte a colocação de Hector Herrera posicionamento mais adiantado no terreno, próximo de Aboubakar, e muito próximo dos construtores do Mónaco, foi muito importante para não deixar que Fabinho e Moutinho, pudessem ter liberdade para colocar critério na construção de jogo dos monegascos), de rapidez nas transições defensivas e de uma organização defensiva fantástica, na qual, quase todos os jogadores, estão bem posicionados, orientam-se bem para as zonas de presença da bola, fecham bem as linhas de passe, e são reactivos e agressivos quando a bola entra nos pés dos adversários nas suas zonas de defesa.

 

75 minutos de categoria, 5 minutos de terror e muita liberdade para Brahimi criar

brahimi

Brahimi fez uma joga de outro mundo. Ao longo dos 90 minutos não me recordo sinceramente de uma acção onde o extremo do Porto tenha decidido ou definido mal. Dar espaço ao argelino para criar é um verdadeiro veneno que qualquer equipa deve evitar, dadas as melhorias que este está a ter no capítulo da tomada de decisão. Acelerando quando necessitava de acelerar o jogo, pausando quando precisava que a equipa subisse mais no terreno, partindo para o drible quando tinha que partir e soltando a bola no momento certo para a opção mais correcta no momento, o argelino fez tudo bem. 

No Dragão, Vítor Oliveira decidiu cumprir o plano de jogo prometido na conferência de imprensa de antevisão à partida do dragão. O treinador do Portimonense não colocou o autocarro à frente da baliza, mas optou por uma arrojada organização defensiva que lhe causou muitos dissabores na primeira meia-hora.

A disposição de um bloco de 4 linhas relativamente subido terreno, compacto em aproximadamente 40 metros (pouco pressionante e com algum espaço entre linhas para os “interiores” poderem receber e definir; no drible ou no passe vertical; com muito espaço entre a linha defensiva e o guarda-redes) acabou por ser, na minha opinião, um plano de organização defensiva bastante arrojado face a uma equipa cujos médios estão sempre à coca da possibilidade de colocar a bola em profundidade para as desmarcações em velocidade dos seus pontas-de-lança (fortíssimos no ataque à profundidade) e cujos laterais se projectam bem no terreno na tentativa de criarem superioridade numérica nos corredores. A evidente falta de pressão dos algarvios a meio-campo permitiu aos portistas, em especial a Brahimi e Corona, o tempo e o espaço necessário para receber e criar livremente sem qualquer pressão, quer através do drible (rasgando o bloco adversário) quer através de combinações com o adversário quer através de inflexões para o miolo seguidas de variação de flanco.  Continuar a ler “75 minutos de categoria, 5 minutos de terror e muita liberdade para Brahimi criar”

Conceição e a “mudança do chip” para as competições europeias

sérgio conceição

“Se alguém é culpado desta derrota sou eu. A abordagem estratégica a este jogo não foi boa.»

Conceição deu a cara pela derrota mas não revelou, por motivos óbvios, aquilo que toda a gente pode ver à vista desarmada no jogo desta noite: uma equipa de meio-campo partido, no qual Danilo foi demasiado exposto a situações de inferioridade numérica em função das subidas de Oliver no terreno e do expresso apoio que é dado pelo médio ofensivo espanhol ao sector mais avançado, facto que o tornou o trinco incapaz para apagar todos os fogos na saída para o contra-ataque do adversário.  Continuar a ler “Conceição e a “mudança do chip” para as competições europeias”

4 lances sintomáticos do trabalho que tem sido desenvolvido por Sérgio Conceição

Como já pude referir há bem pouco tempo, noutros posts, o futebol deste “novo” FC Porto de Sérgio Conceição agrada-me muitíssimo e posso até afiançar que está muito perto da preferencial forma de jogar que eu tenho vindo a formular na minha mente nos últimos meses.

Estes 4 são lances são sintomáticos do extraordinário trabalho de construção de um modelo, dos princípios e das dinâmicas de uma equipa. Qual é o motivo que me leva a classificar como extraordinário o trabalho que tem sido desenvolvido nas últimas 7 semanas por Conceição? Continuar a ler “4 lances sintomáticos do trabalho que tem sido desenvolvido por Sérgio Conceição”

O golo do dia

Muitos deverão ter sido aqueles que ao ver estas imagens deverão ter pensado nos benefícios que o novo modelo de Conceição ganharia com André Silva na área. Muitos. Inimagináveis benefícios. Com Óliver muito próximo da área ou até a entrar dentro da área nos espaços livres que constrói com movimentos que provocam situações de ruptura nas defesas adversárias, seja através de movimentos divergentes ou verticais conforme aqui pudemos ver contra o Estoril, com o intuito expresso de criar situações para os pontas-de-lança, ou até para as entradas (de trás) de um jogador como Brahimi, com um Aboubakar que sai muito bem da área para participar no momento de construção (promovendo os arrastamentos que permitem a um avançado mais de área entrar nos espaços deixados em vazio pelo arrastamento promovido), podendo porém vir a ter outro papel, o de municiador do ponta-de-lança (bastará receber, tentar rodar sobre o defesa e procurar servir a desmarcação para as costas) e com dois laterais que cruzam extraordinariamente bem, André Silva teria muito a ganhar e o próprio Porto poderia ter ganho mais do que o valor que ganhou com transferência.

P.S: Pelos vistos, o jogador perdeu em Itália alguns dos vícios adquiridos no Porto. Se este lance se passasse em Portugal, André Silva jamais teria marcado o golo. Teria caído ao chão e teria ficado a pedir grande penalidade ao árbitro. 

Os golos do dia

Como já tive oportunidade de dizer, tenho apreciado a construção de equipa que Sérgio Conceição tem realizado nas primeiras semanas da nova temporada. Este Porto aparece em Agosto com mais sumo de futebol do que aquele que alguma vez teve com Nuno Espírito Santo. Os princípios de jogo pelos quais a equipa está a reger o seu plano ofensivo são bem elaborados (muitas entradas dos dois médios centros no bloco adversário em ataque organizado, em especial, nos momentos em que Brahimi é chamado a construir; entrada dos extremos no jogo interior; Aboubakar sempre disponível para se mover no sentido de participar na construção das jogadas; laterais sempre bem projectados, boa interligação entre Óliver e Alex Telles; se os extremos assumem um posicionamento mais interior, a entrada dos laterais cria momentos de sobreposição se estes não forem devidamente acompanhados pelos extremos\médios ala adversários; a equipa ganhou outra profundidade com a entrada de Marega) e no capítulo defensivo, existe uma especial preocupação para sair imediatamente na pressão quando a equipa perde (ou simplesmente não tem) a posse de bola para anular as investidas adversárias e voltar à carga. Continuar a ler “Os golos do dia”

Hoje Escreve o Mister #8

Por Pedro Sousa. 

Por muita qualidade colectiva que uma equipa tenha, sem individualidades que tragam a qualidade desejada para criar desequilíbrios ofensivos numa estrutura, as dinâmicas colectivas ficam demasiado limitadas do seu jogo, faltando a alternância na forma como resolve muitos momentos de jogo seja na construção, definição, ou na criatividade do seu colectivo!!

Cada jogador traz dinâmicas diferentes ao jogo, mas uns aumentam consideravelmente a qualidade colectiva de uma equipa com a sua qualidade individual, enquanto outros não acrescentam nada ao colectivo porque a sua qualidade individual não trás variação e imprevisibilidade no jogar da mesma ordem de ideias colectivas, que uma equipa em muitos momentos de jogo necessita no modelo adoptado.

Sem jogadores como Podence, Gelson, Salvio, Jonas, um Brahimi ou Corona, entre muitos outros com determinadas características numa equipa, a sua capacidade criativa num determinado padrão de jogo fica muito mais debilitada e torna-a regular na forma de jogar e muito mais fácil para os adversários anularem, afastando-a mais, por conseguinte, do sucesso desejado!
Por muita qualidade ao nível da organização que se tenha… fica como uma salada sem o tempero certo, e por muito bom cozinheiro que a tenha confeccionado, nunca integrará os melhores cardápios.

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