Nota prévia: a análise ao jogo de ontem será dividida em duas partes por manifesta falta de tempo: uma mais teórica e outra mais prática que será publicada mais logo, a seguir à partida entre o Boavista e o FC Porto
1 – As novas exigências que são ditadas aos clubes grandes na visita aos pequenos emblemas do futebol português.
Nos últimos 20 anos o futebol português mudou. Em alguns aspectos, pode dizer-se que mudou para melhor, ou seja, o futebol português trilhou, vertiginosamente, um enorme caminho de evolução. Noutras pequenas questiúnculas, aquelas que irracionalmente são discutidas diariamente na nossa praça de pura desinformação e fanatismo clubista exacerbado, nos últimos 20 anos, o futebol português retrocedeu para níveis profundamente anacrónicos, repletos de atitudes e comportamentos facciosos, para um nível de pensamento quase tribal que em nada o benefícia. O que é que quero com isto dizer? Quero dizer que em alguns departamentos do jogo (na sua vertente técnico-metodológica) o futebol português melhorou imenso nos últimos 20 anos. O estado de evolução a que actualmente chegou o futebol português permite-nos dizer que globalmente somos um país que forma melhores treinadores (de acordo com as mais modernas concepções metodológicas) e que estes treinadores não trabalham apenas nos clubes grandes – os clubes pequenos também já possuem nos seus quadros técnicos, em ambos os departamentos, sénior e de formação, treinadores de enorme valia (de igual ou superior valia em relação aos que trabalham nos grandes), autênticos estudiosos do jogo, que aplicam diariamente, no trabalho que realizam com os jogadores que formam (jovens) ou desenvolvem, as fabulosas percepções hermenêuticas fenomenológicas e o rigoroso conhecimento validado que vão adquirindo, aprendendo e apreendendo nas suas sessões de estudo. A aplicação prática desse mesmo conhecimento redundou obviamente no aumento da qualidade dos jogadores portugueses nas diversas dimensões do jogo – o jogador português é hoje, sem qualquer ponta de dúvida, um jogador muito mais completo do que era há 20 anos atrás; é um jogador com um conhecimento muito mais profundo sobre o jogo, conhecimento que se traduz num melhor rendimento táctico e psico-cognitivo; é um jogador tecnicamente mais apurado; é um jogador mentalmente mais forte – Por outro lado, a formulação de alternativas ideias de jogo que vingaram (outras não vingaram, mas o treinador é um agente que está constantemente sujeito à experimentação, ao erro e às consequências do erro experimental!), e a constituição de equipas corajosas que são capazes de enfrentar os grandes olhos nos olhos, valorizaram a nossa competição interna e o nosso futebol e permitiram ao jogador português sonhar com outros palcos. Há 20 anos atrás seria impensável a possibilidade de um jogador do Marítimo ou do Estrela da Amadora, equipas que habitualmente lutavam ano após ano por um lugar nas 5 primeiras posições do campeonato, se transferir desses clubes para uma das melhores equipas das principais ligas. Essa possibilidade é, hoje uma realidade. As melhores equipas procuram talento. O talento que alimenta esta industria, o talento que arrasta as massas para os campos de futebol. Esse talento tanto se pode esconder numa equipa sénior como numa equipa de iniciados de uma equipa como o Anadia, formação que nos últimos anos tem conseguido chegar às fases finais dos campeonatos nacional de iniciados, e que tem exportado camiões cheios de talentos para os maiores emblemas do futebol português. O talento vale ouro porque é neste momento a ignição que confere sustentabilidade ao negócio. Continuar a ler “3 muito breves sobre a vitória do Sporting em Vila do Conde (1ª parte)”