Bloco de Notas da História #32 – Poderemos repetir este momento amanhã, Rui?

Firenze, 29 de Setembro de 2017. Dia de eleições autárquicas em Portugal Fazendo jus a um ditado tão lusitano, nessa manhã\tarde, choveu literalmente o que “Deus tinha para dar” aos mais de 200 ciclistas que iniciaram, em Lucca, no coração da belíssima região Toscânia, região que recebe uma das mais vibrantes clássicas do calendário velocipédico internacional, a Strade Bianche, a 80ª edição da prova de estrada dos Campeonatos do Mundo de ciclismo.

À partida, a selecção da casa, o fortíssimo esquadrão de ataque comandado por Vincenzo Nibali (esta equipa continha entre outros o falecido Michele Scarponi e Filippo Pozzatto), constituía-se como a mais bem apetrechada e preparada formação para atacar a vitória na prova, tirada que era, à semelhança do que vai acontecer amanhã em Bergen, dividida entre um sector inicial corrido em linha e um circuito fechado final corrido nos arredores da capital daquela região. Outras selecções com pretensões, mais concretamente a Bélgica de Phillippe Gilbert (corredor que na altura estava a passar pelo maior período de ocaso da sua carreira) e Greg Van Avermaet, a Espanha de Alejandro Valverde e Purito Rodriguez, a Eslováquia de Peter Sagan, a Suíça de Fabian Cancellara, a Colômbia de Sérgio Henao e Rigoberto Uran, e a Grã-Bretanha de Christopher Froome (o ciclista britânico viria a desistir ainda antes da entrada no circuito final em virtude de uma estrondosa queda) tentariam contrariar ao máximo o favoritismo evidente da formação da casa.

A prova que se seguiu nas estradas da Toscânia foi, do princípio ao fim, um enorme e pujante vendaval de emoções para nós, portugueses, em virtude do memorável desempenho que estava a ser realizado por Rui Costa no decurso da etapa. A poucos quilómetros da meta, foram vários os sentimentos que me assaltaram a mente. Estávamos tão próximos de conquistar o mundial ou de conquistar, no pior dos cenários, uma medalha inédita. Rui Costa haveria de conquistar em cima da linha de chegada um feito histórico, feito que muitos trataram de vender, nos dias seguintes, como um resultado irrevogavelmente irrepetível nos “próximos 50 anos” (o fait divers político realizado por Paulo Portas nesse verão colocara a palavra na ponta da língua do povo). 4 anos depois (a vida dá efectivamente muitas voltas) poderemos voltar a repetir este feito, Rui?

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Vroom, vroom! Deixem a mota passar – A grande imagem da última etapa do Binckbank Tour

Com licença, com licença – deixem o maior passar! A aceleração de Peter Sagan no Muur KapelMuur, icónico santuário que serve de amuleto para todos aqueles que pretendam ali atacam com o objectivo de vencer a Ronde Van Vlaanderen. Foi precisamente ali, naquele duríssimo (8,2% de inclinação média) sector de empedrado de 1100 metros que Philippe Gilbert projectou o ataque que viria a derrear toda a concorrência na última edição da Volta à Flandres.

Peter Sagan não venceu nem a etapa nem a geral (pese embora o facto de ter sido o ciclista que mais animou a prova, conjuntamente com a sua sombra Greg Van Avermaet) mas deixou apontamentos de sonho. Se não tivesse furado na 6ª etapa, o eslovaco poderia ter vencido a geral no muro de Geraardsbergen.

Como referi aqui, no post relativo à 6ª etapa, foi Tom Dumoulin quem aproveitou o “azar valão” do bicampeão do mundo de estrada. Na última etapa, o holandês só teve que realizar uma corrida à medida das suas necessidades, ou seja, no controlo total às movimentações de Tim Wellens. Quando Wellens tentou “sair a jogar” com Sagan no final do Kapel Muur, o holandês foi obrigado a assumir o esforço de perseguição. O belga da Lotto ainda conseguiu recuperar 2 dos 8 segundos que possuía de desvantagem em relação ao holandês da Sunweb num dos 3 sprints bonificados fixados pela organização no quilómetro dourado, mas não conseguiu ter a força necessária para tentar recuperar os restantes 6 na exigente rampa final de Geraardsbergen.

Binckbank Tour – Etapa 6 – Tim Wellens atinge o estado de graça nas ardenas

Nos metros finais, o belga da Lotto-Soudal puxou e o holandês nem se importou muito de perder a etapa (e os inerentes segundos de bonificação reservados para o primeiro a cruzar a linha de meta) porque tinha a plena consciência que acabara de dar um passo importante para a vitória na geral. Este é o mais breve resumo da parte menos importante de uma corrida (nas ardenas; na região de Bastogne; em certos, a corrida cruzou-se com alguns dos trilhos da mítica clássica disputada durante a primavera) que espremeu um apetecível e saboroso sumo de clássica da primavera em pleno verão.

Dois grandes obstáculos marcavam os últimos 35 km de corrida na fantástica região da Valónia. Se o conhecido Côte de Saint-Roch (800 metros a uma pendente média de 12%), muro eternizado na mítica clássica integrante dos 5 monumentos que tem o seu término no icónico bairro de Ans, seria o ponto de partida para a discussão pela etapa, o Cote Boins des Moines acabou por fazer toda a diferença. Nos Boins des Moines, Oliver Naesen (AG2R) entrou na frente com alguma vantagem sobre um reduzido grupo de ciclistas, Peter Sagan arriscou tudo para poder vencer a prova, Tim Wellens foi inteligente na forma em como soube responder a Sagan mas Tom Dumoulin acabou por fazer toda a diferença em virtude do azar ocorrido ao eslovaco da Bora.

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Binckbank Tour – 5ª etapa – Lars Boom vence uma corrida com uma multiplicidade de equações em jogo

Nota prévia: Em primeiro lugar, cumpre-me saudar e elogiar o desenho escolhido pela organização da prova para a etapa corrida à volta da cidade de Sittard. O traçado desenhado para a etapa bem como aquele quilómetro dourado (3 sprints intermédios bonificados colocados no reduzido espaço de um quilómetro) que foi “inventado” pela organização a seguir à passagem dos ciclistas pela subida ao Schatzberg (800 metros com uma pendente média de 5%) era prometedor, à partida, de espectacularidade. Nesse quilómetro dourado, se um ciclista conseguisse passar na frente dos 3 sprints bonificados, conquistaria a preciosa vantagem de 18 segundos. A colocação dos 3 sprints intermédios à saída da ascensão para a última dificuldade do dia não foram colocados à toa pela organização. Se a corrida decorresse de acordo com os moldes previstos pela organização, os ciclistas com interesse à geral sentir-se-iam aliciados a atacar na subida final para ir buscar os segundos de bonificação.

A 5ª etapa da Binckbank Tour (antigo ENECO Tour) foi uma tirada de 1000 contornos estratégicos. Nos 163,7 km de corrida, os ciclistas teriam de enfrentar um complexo conjunto de 20 colinas até chegarem à recta da meta no Autódromo da Cidade de Sittard. À primeira vista, o traçado oferecia muitas oportunidades para puncheurs e afigurava-se como algo penoso para alguns roladores, pese embora o facto de terem chegado alguns no grupo que desde cedo tomou a dianteira da corrida. Continuar a ler “Binckbank Tour – 5ª etapa – Lars Boom vence uma corrida com uma multiplicidade de equações em jogo”

Tour de France – Stage 14 – O potente Michael Matthews; Em Rodez, a camisola amarela voltou ao corpo de Chris Froome

Phillip Gilbert entrou extraordinariamente bem no lançado. O belga conseguiu engajar-se muito bem na tentativa de lançamento que o seu compatriota, o actual campeão belga, Oliver Naesen (AG2R) tentou realizar para Romain Bardet e Jan Bakelants. Contudo, os esforços do icónico ciclista da Quickstep acabaram por ser algo precipitados. O belga lançou muito cedo o sprint, sendo verdadeiramente “comido de cebolada” nos metros finais pelo seu compatriota Greg Van Avermaet e por Michael Matthews, ciclistas que conseguiram seguir na sua roda. 

Ao 14º dia, Michael Matthews pode finalmente saborear novamente o paladar da vitória no Tour! A difícil chegada (em ligeira ascensão) a Rodez era à partida uma das etapas onde o explosivo ciclista australiano da Sunweb poderia fazer a diferença visto que Matthews é, em conjunto com outros ciclistas como Peter Sagan, Greg Van Avermaet, Alejandro Valverde, Philip Gilbert, Michal Kwiatkowski, Rui Costa, Vincenzo Nibali ou Enrico Gasparotto, um dos ciclistas que mais ATP consegue sintetizar neste tipo particular de chegadas, gerando por conseguinte a energia necessária para poder aplicar imensa potência no seu sprint.

Sem a presença de Marcel Kittel no sprint final (a chegada era completamente antagónica às suas características; a probabilidade do alemão chegar aos metros finais em condições de disputar a etapa eram diminutas; acabou por sucumbir a cerca de 40 km da meta devido ao imenso vento lateral que se fez sentir na última hora de corrida) no sprint final (a etapa veio a revelar-se mais complicada do que inicialmente aparentava) o australiano pode garantir a 2ª vitória consecutiva de etapa para a sua equipa ao bater Greg Van Avermaet e Edvald Boasson Hagen nos metros finais. A Sunweb atingiu a plenitude dos objectivos traçados para a prova francesa. Matthews conquistou hoje a sua 2ª vitória da carreira na Grand Boucle.

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Tour de France – Lilian Calmejane colocou a cereja no topo do bolo na chegada a Station des Rousses

Lilian Calmejane deu à Direct Energie a vitória de etapa (objectivo principal da formação francesa para a maior prova da temporada) que os franceses tanto procuraram nesta primeira metade de corrida. A formação francesa não pode estar mais contente da opção que foi tomada quando deixou o seu principal corredor, o sprinter Bryan Coquard em casa para apostar seriamente na possibilidade de ganhar uma etapa na prova através da prossecução de uma fuga. As hipóteses de Coquard ganhar uma etapa ao sprinte, eram, dada a quantidade de sprinters de maior nomeada presentes no evento, reduzidas a uma probabilidade diminuta. Com ciclistas como Calmejane, Voeckler, Perrig Quemeneur, Romain Sicard, Sylvain Chavanel, ou Adrien Petit as hipóteses de vir a conquistar uma etapa eram maiores porque todos estes corredores apresentam um denominador comum: são todos excelentes baroudeurs. Para quem não está familiarizado com o termo que acabei de escrever, um baroudeur é um ciclista aventureiro que corre muito bem quer em fugas, quer em solitário em todos os terrenos.

Lilian Calmejane tem tudo para ser um dos melhores baroudeurs da próxima geração. Aos 23 anos, o ciclista colocou a cereja do topo do bolo ao juntar o fantástico palmarés que já construiu em diversas provas (venceu a geral da Settimana Coppa e Bartali, prova onde também conquistou a camisola dos pontos e uma etapa; venceu a Etoile de Bessèges, prova onde também conquistou uma etapa; venceu a geral do Circuit de La Sarthe, conquistando aí uma vitória de etapa; venceu o Prémio de Montanha da Paris-Nice; conquistou o pódio no GP de Ouverture de Marseille, foi 5º na geral do Tour de Haut Var; no ano passado já tinha vencido uma etapa na Vuelta;) à sua primeira grande vitória no Tour, logo no seu ano de estreia.

E que vitória! O jovem corredor da Direct Energie teve que suar para poder erguer os braços na linha de chegada à Station des Rousses.

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Tour de France – 3ª etapa – Sagan colocou a roda no ar na chegada a Longwy

A 3ª etapa da presente edição do Tour marcou a transição entre países. Da Bélgica a França, mais concretamente à pacata comuna de Longwy ( departamento de Meurthe-et-Moselle), passando pelo território luxemburguês numa  parte do percurso, o Tour chegou ao seu natural berço. Numa etapa que teve como ex libris a passagem dos ciclistas pelo histórico circuito de Spa Francochamps no seu preâmbulo, o bicampeão do mundo de estrada Peter Sagan pode arrancar (a ferros) a vitória na etapa na chegada à complexa subida do Côte de de Religieuses. Continuar a ler “Tour de France – 3ª etapa – Sagan colocou a roda no ar na chegada a Longwy”

Volta à Suiça – Etapas 1 e 2

A 81ª edição da Volta à Suiça arrancou no passado sábado. A sobreposição de provas (as primeiras duas etapas da prova helvética sobrepuseram-se ao momento de todas as decisões no Criterium Dauphiné)  levou-me a demonstrar alguma preferência pela cobertura da parte final da prova francesa para depois me dedicar em exclusivo até ao próximo domingo na cobertura da outra grande prova de preparação para o Tour.

A Volta à Suíça é desde há muitos anos uma das principais antecâmaras de preparação para a Grande Boucle pelo carácter exigente do seu traçado (2 contra-relógios e 4 etapas de média e alta montanha) em conjunto com o Criterium Dauphiné e com a Route Du Sud. Estabelecida como o último balão de ensaio para todos aqueles precisam de melhorar a sua condição antes da prova francesa, a prova helvética reserva a todos os participantes um grau de dificuldade alto na montanha. Com um historial de vencedores muito rico (o nosso Rui Costa já venceu a geral individual da prova em 3 ocasiões nos anos 2012, 2013 e 2014) vários foram os nomes sonantes da história do ciclismo que já ergueram a camisola amarela no final dos 9 dias de corrida de prova. Entre os vencedores absolutos da prova helvética podemos encontrar nomes históricos do ciclismo como de Gino Bartali, Eddy Merckx, Roger de Vlaeminck, Giuseppe Saronni, Sean Kelly, Pavel Tonkov, Stefano Garzelli, Alex Zulle, Alexandre Vinokourov, Jan Ullrich, Roman Kreuziger, Fabian Cancellara, Frank Schleck, Levi Leipheimer ou Rui Costa. Continuar a ler “Volta à Suiça – Etapas 1 e 2”

Amanhã há Amstel Gold Race

Como não poderia deixar de ser, a nossa aposta será no nosso ídolo Rui Costa, o dorsal 151 na prova holandesa. Esperemos que o Rui traga a vitória no icónico muro do Cauberg porque bem merece depois de vários anos em que a prova lhe foi madrasta. Vamos ver quais serão as “sensações” do português na prova após a paragem que lhe foi ditada pelo calendário de provas traçado pela equipa e pela necessidade de realizar um estágio de altitude, estágio que foi realizado quiçá já a pensar na preparação para as provas de 3 semanas.

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O auge de Greg Van Avermaet no velódromo de Roubaix!

Que ponta final surpreendente! Que prova! Que temporada dos diabos para o campeão olímpico! Depois de um 3º e um 4º lugar na prova em 2013 e 2015, Greg Van Avermaet subiu literalmente ao Olimpo do Paris-Roubaix. O belga está a viver neste preciso momento o seu grande momento de glória. Bem o mereceu na verdade depois de tantos anos a morrer na praia nas grandes clássicas e acima de tudo, depois de tantas críticas de que foi alvo por parte da imprensa da especialidade. Promissor desde sempre, GVA foi durante muitos anos votado a severas críticas que o acusavam de ser o maior flop da actual geração do ciclismo. O ciclista da BMC nunca esmoreceu e está a colher agora os louros do seu árduo trabalho. No momento da verdade, a verdade é que ele não falha!

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