No capítulo da gestão de uma vantagem magra (de um golo, suponhamos), um treinador pode optar (e trabalhar; porque efectivamente estas situações tem forçosamente que ser bem trabalhadas, bem operacionalizadas) por 3 caminhos estratégicos:
- A manutenção da estrutura táctica e da “exibição ofensiva” exibida até aquele momento pela equipa, pedindo portanto aos jogadores para não travar o ímpeto ofensivo e defensivo verificado até ao momento para poderem ampliar rapidamente a vantagem. Esta opção deve ser tomada quando as pernas dos jogadores ainda se encontram frescas. É portanto uma opção suicída para os minutos finais de uma partida.
- A manutenção ou alteração da estrutura da equipa através da realização de uma ou mais substituições que possam conferir pernas frescas ao jogo que não contenha qualquer mudança de índole estrutural de ordem táctic (posicionamento das linhas de pressão, intensidade na reacção à perda) desde que a equipa seja capaz de efectuar correctamente a gestão do ritmo de jogo, baixando-o, enquanto executa em simultâneo uma rigorosa e segura gestão de posse de bola, preferencialmente no meio-campo adversário, de maneira a, inteligentemente, retirar essa mesma posse ao adversário nos minutos seguintes à obtenção da vantagem (reduzindo portanto o grau de exposição à mais que previsível reacção adversária), factor que obviamente o impedirá de ter posse e aproximar-se da sua baliza.
- A alteração drástica da estrutura táctica da equipa, modificando a atitude até aí exibida pelos jogadores, os posicionamentos, as funções, a organização defensiva e por aí adiante.
A segunda opção é na minha opinião a opção mais efectiva (se os jogadores tiverem a noção perfeita de como baixar o ritmo de jogo e controlar a posse; evitando ter que se submeter ao tempo e à pressão da iniciativa adversária, pressão que naturalmente tenderá a ser maior após a concessão de um golo), a opção que comporta menos riscos (se os jogadores procurarem fazer circular a bola entre si com segurança, privilegiando em primeiro lugar opções seguras de passe que lhes são oferecidas pelos companheiros em detrimento de opções de passe mais tentadoras ao nível de progressão e ataque ao espaço\baliza adversária, mas ao mesmo tempo, de maior susceptibilidade de vir a provocar risco defensivo em caso de perda do esférico) e a mais correcta para gerir vantagens porque cria na psíque do adversário um conjunto de efeitos perversos que são benéficos para a equipa que está a gerir a vantagem. Entre alguns desses efeitos perversos criados pela gestão do jogo através de controlo do ritmo de jogo e da posse de bola está por exemplo o aumento dos índices de nervosismo nos jogadores adversários, aumento que se reflecte obviamente no nível da impetuosidade com que procuram recuperar a bola (cometendo mais faltas, faltas essas que consequentemente quebram o ritmo de jogo, fazendo, como se diz na gíria futebolística “fazendo correr o marfim” para a equipa que está em vantagem) e na diminuição do discernimento com que os seus jogadores constroem jogo, subfactor que advém obviamente da maior limitação íntrinseca ao próprio jogo: o factor tempo. Quando uma equipa cheira a bola, enerva-se. Quando uma equipa passa minutos a cheirar a bola, a reacção mais natural que se dá ao nível da psique dos jogadores é o que eu chamo de fenómeno de 1 contra todos – ou seja, acções nas quais, o jogador, limitado pelo tempo e pela pressão, tenta resolver individualmente acabando por perder a bola.
Jorge Jesus não partilha da mesma opinião. Para Jorge Jesus, a gestão de uma vantagem magra realiza-se, através de uma alteração drástica da estrutura táctica da equipa e da sua atitude, oferecendo a posse ao adversário ao mesmo tempo em que o bloco defensivo recua drasticamente até às imediações da área (deixando portanto de pressionar em terrenos adiantados; a verdade é que um dos méritos alcançados pela formação leonina residiu na voracidade com que esta pressionou o Braga em terrenos adiantados nos momentos de saída ou recuperação do esférico) e os jogadores revelam comportamentos estranhíssimos (quase que como se desligando do jogo) estratégia que só não resultou numa sequência de dissabores nos minutos finais das partidas contra o Feirense e Estoril porque a formação leonina foi literalmente salva pelo gongo (pelo videoárbitro, no caso do jogo contra o Estoril) mas, que por outro lado, foi efectivamente uma das razões que ajudou a explicar os “desaires” sofridos nos minutos finais frente à Juventus.