Euforia, apogeu, modificação, retracção e declínio em 15 minutos – a crítica travessa a uma espinha entalada na garganta

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No capítulo da gestão de uma vantagem magra (de um golo, suponhamos), um treinador pode optar (e trabalhar; porque efectivamente estas situações tem forçosamente que ser bem trabalhadas, bem operacionalizadas) por 3 caminhos estratégicos:

  • A manutenção da estrutura táctica e da “exibição ofensiva” exibida até aquele momento pela equipa, pedindo portanto aos jogadores para não travar o ímpeto ofensivo e defensivo verificado até ao momento para poderem ampliar rapidamente a vantagem. Esta opção deve ser tomada quando as pernas dos jogadores ainda se encontram frescas. É portanto uma opção suicída para os minutos finais de uma partida.
  • A manutenção ou alteração da estrutura da equipa através da realização de uma ou mais substituições que possam conferir pernas frescas ao jogo que não contenha qualquer mudança de índole estrutural de ordem táctic (posicionamento das linhas de pressão, intensidade na reacção à perda) desde que a equipa seja capaz de efectuar correctamente a gestão do ritmo de jogo, baixando-o, enquanto executa em simultâneo uma rigorosa e segura gestão de posse de bola, preferencialmente no meio-campo adversário, de maneira a, inteligentemente, retirar essa mesma posse ao adversário nos minutos seguintes à obtenção da vantagem (reduzindo portanto o grau de exposição à mais que previsível reacção adversária), factor que obviamente o impedirá de ter posse e aproximar-se da sua baliza.
  • A alteração drástica da estrutura táctica da equipa, modificando a atitude até aí exibida pelos jogadores, os posicionamentos, as funções, a organização defensiva e por aí adiante.

A segunda opção é na minha opinião a opção mais efectiva (se os jogadores tiverem a noção perfeita de como baixar o ritmo de jogo e controlar a posse; evitando ter que se submeter ao tempo e à pressão da iniciativa adversária, pressão que naturalmente tenderá a ser maior após a concessão de um golo), a opção que comporta menos riscos (se os jogadores procurarem fazer circular a bola entre si com segurança, privilegiando em primeiro lugar opções seguras de passe que lhes são oferecidas pelos companheiros em detrimento de opções de passe mais tentadoras ao nível de progressão e ataque ao espaço\baliza adversária, mas ao mesmo tempo, de maior susceptibilidade de vir a provocar risco defensivo em caso de perda do esférico) e a mais correcta para gerir vantagens porque cria na psíque do adversário um conjunto de efeitos perversos que são benéficos para a equipa que está a gerir a vantagem. Entre alguns desses efeitos perversos criados pela gestão do jogo através de controlo do ritmo de jogo e da posse de bola está por exemplo o aumento dos índices de nervosismo nos jogadores adversários, aumento que se reflecte obviamente no nível da impetuosidade com que procuram recuperar a bola (cometendo mais faltas, faltas essas que consequentemente quebram o ritmo de jogo, fazendo, como se diz na gíria futebolística “fazendo correr o marfim” para a equipa que está em vantagem) e na diminuição do discernimento com que os seus jogadores constroem jogo, subfactor que advém obviamente da maior limitação íntrinseca ao próprio jogo: o factor tempo. Quando uma equipa cheira a bola, enerva-se. Quando uma equipa passa minutos a cheirar a bola, a reacção mais natural que se dá ao nível da psique dos jogadores é o que eu chamo de fenómeno de 1 contra todos – ou seja, acções nas quais, o jogador, limitado pelo tempo e pela pressão, tenta resolver individualmente acabando por perder a bola.

Jorge Jesus não partilha da mesma opinião. Para Jorge Jesus, a gestão de uma vantagem magra realiza-se, através de uma alteração drástica da estrutura táctica da equipa e da sua atitude, oferecendo a posse ao adversário ao mesmo tempo em que o bloco defensivo recua drasticamente até às imediações da área (deixando portanto de pressionar em terrenos adiantados; a verdade é que um dos méritos alcançados pela formação leonina residiu na voracidade com que esta pressionou o Braga em terrenos adiantados nos momentos de saída ou recuperação do esférico) e os jogadores revelam comportamentos estranhíssimos (quase que como se desligando do jogo) estratégia que só não resultou numa sequência de dissabores nos minutos finais das partidas contra o Feirense e Estoril porque a formação leonina foi literalmente salva pelo gongo (pelo videoárbitro, no caso do jogo contra o Estoril) mas, que por outro lado, foi efectivamente uma das razões que ajudou a explicar os “desaires” sofridos nos minutos finais frente à Juventus.

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Sporting – Findo o segundo ciclo, o que é que se perspectiva?

Por Miguel Condessa*

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Findo o segundo ciclo, o que se viu, o que se perspectiva…

Depois de 2 jogos, em casa, de enorme grau de dificuldade, creio que a maioria dos adeptos conscientes ainda não terá percebido bem se temos realmente uma equipa para ganhar títulos este ano ou não. Todos nós, sportinguistas, temos essa esperança mas uns acharão que ainda nos falta algo e outros já pensam que estão reunidas todas as condições – ainda por cima com o VAR! – para ser este ano o nosso ano!

Eu, confesso, inicialmente pensei que sim, contrariando até a minha ideia inicial que nunca seremos campeões com o Jesus, mas agora penso que ainda nos faltam algumas coisas… Tivemos já dois grandes ciclos de jogos – entre o início da temporada e os jogos da selecção. No primeiro ciclo, em Agosto, fizemos 6 jogos – Aves (f), Setúbal (c), Steaua (c), Guimarães (f), Steaua (f) e Estoril (c) – com 5 vitórias e 1 empate. Neste segundo ciclo, em Setembro, em 7 jogos – Feirense (f), Olympiacos (f), Tondela (c), Marítimo (c), Moreirense (f), Barcelona (c) e Porto (c) – conseguimos 3 vitórias, 3 empates e 1 derrota, sendo que nos últimos 4 jogos não vencemos nenhum!

É da minha opinião que temos um bom plantel, o melhor das 5 épocas do Bruno de Carvalho, com algumas lacunas, que nos dá uma boa base para trabalhar daqui para a frente. Este ano as aquisições foram bastante assertivas – a excepção será o Matheus Oliveira que não tem, nunca teve, e acho que dificilmente terá, andamento para jogar num clube como o Sporting – e tivessem sido assim nos dois anos anteriores de certeza que não tínhamos as limitações que temos e seriamos muito mais fortes. Continuar a ler “Sporting – Findo o segundo ciclo, o que é que se perspectiva?”

Tudo errado! – Uma dúzia de pensamentos soltos e factos sobre o empate do Sporting em Moreira de Cónegos

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Estava profundamente enganado. Quando há algumas semanas atrás escrevi neste preciso espaço a ideia de que Jorge Jesus estaria, na presente temporada, mais consciente e mais criterioso na gestão que faz do seu plantel, escolhendo com prudência e mestria as soluções ideais para cada “tipo de adversário” estava profundamente enganado: os erros básicos de percepção e análise dos pontos fortes e fracos do adversário e a incapacidade evidente que o treinador do Sporting possui para “pensar um jogo de cada vez”, leva-o a cometer erros desnecessários (dados os objectivos traçados para a temporada e ao contexto do grupo de Champions no qual está inserido) que custam pontos e que custam, acima de tudo, títulos ao clube. Sempre que Jesus inventa, o Sporting perde pontos. Sempre que a equipa vem de um jogo contra um grande europeu, a equipa perde pontos. Só um treinador com uma enorme (inabalável) fé na(s) (falta de) qualidades de um jogador cuja prática (ou falta dela), perdoem-me a expressão, mete, a cada dia que passa, os adeptos leoninos à beira de um ataque de nervos, leva o treinador leonino a prescindir (num jogo em que era mais que “certo e sabido” que o adversário iria tentar complicar ao máximo a circulação leonina com uma boa prestação defensiva, com um enorme espírito de combate e com processos de jogo essencialmente formatados para a saída em contra-ataque) de um jogador de combate, colocando no seu lugar um jogador que não acrescenta nada a esta equipa. Nada. Volto a repetir. Nada.  Continuar a ler “Tudo errado! – Uma dúzia de pensamentos soltos e factos sobre o empate do Sporting em Moreira de Cónegos”

Empate merecido num jogo de teste em que Jorge Jesus ganhou algumas opções

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De todas as alternativas ao plano principal que Jorge Jesus fez subir ao tapete de Alvalade os únicos que me convenceram verdadeiramente foram Ristovski, Petrovic e André Pinto. Jonathan fez um jogo interessante, sem muitas falhas. Já Iuri e Matheus Oliveira destacaram-se pela negativa. Ao brasileiro, Jorge Jesus passou até um atestado de incompetência para a sua posição quando o passou para o flanco esquerdo a meio da primeira parte, colocando Bruno César no miolo. O macedónio provou mesmo que está disponível para lutar pela titularidade com Piccini ao longo da temporada. Veloz na condução (imprimindo velocidade ao jogo sempre que é chamado a participar) e nos momentos de recuperação defensiva, o combativo macedónio é dono de um óptimo posicionamento (foram várias as bolas que interceptou ao longo do jogo), é bastante raçudo na abordagem às acções 1×1 do adversário e nas divididas, projecta-se bem no terreno (dando profundidade ao jogo) e arrisca o 1×1 sempre que pode. 

O jogo de estreia na Taça da Liga serviu para Jorge Jesus rodar jogadores. Sem pressão (creio que Jesus terá dado de barato o resultado ao adversário em detrimento do crescimento do colectivo; do conjunto de soluções de banco que podem dar uma resposta imediata em caso de impedimento de qualquer um dos titulares) o treinador do Sporting aproveitou a ocasião para dar minutos aos jogadores menos utilizados com o intuito expresso de perceber se estes tem entrega suficiente para merecer a sua confiança num futuro próximo e se conseguem entrar nas dinâmicas exigidas pelo seu modelo de jogo. Se alguns jogadores responderam afirmativamente à chamada, aproveitando a oportunidade para dar novas opções ao seu treinador, outros não. Matheus é, como já pude referir no início do post, uma carta cada vez mais fora do baralho. O brasileiro não tem nada de Sporting: não tem intensidade, não é rápido a pensar e a executar, não é eficaz no passe, não pressiona. Nada. Depois do que vi da exibição do jogador, se fosse presidente do Sporting, mandava a factura dos ordenados e das comissões de transferência do jogador para o Bebeto pagar ou então pedia-lhe encarecidamente, em troca de uma compensação financeira, a sua presença em Alcochete para ensinar o filho a jogar e para ensinar ao Doumbia os movimentos que um avançado deve fazer na área para facilitar a vida de quem está nas linhas a cruzar.

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À lei da bomba – 5 breves notas sobre a vitória do Sporting

1 – Os problemas criados pela boa organização defensiva do adversário – O Tondela de Pepa sabia muito bem o que vinha buscar a Alvalade e estava ciente do estilo de jogo que tinha que realizar para alcançar o resultado pretendido: o empate. A estratégia de jogo executada pelos tondelenses desde cedo revelou a carta de intenções para o jogo de Alvalade.

Com um bloco recuado no seu meio-campo em 4x4x2, sistema desdobrável no plano ofensivo para um 4x2x3x1 com Tomané solto na frente de ataque (a estratégia ofensiva delineada pecou em parte por falta de apoio ao avançado; por outro lado, sempre que recuperava a bola, a equipa não conseguiu ter algum critério na construção de jogadas), Pepa montou um bloco recuado e compacto com 3 linhas de pressão bastante activas e funcionais que visavam sobretudo contrariar a 1ª fase de construção do Sporting e anular o jogo interior entre as suas linhas.

Deixando os centrais de fora, a pressão de Pedro Nuno e Tomané activou-se sempre que William pegou no jogo. A equipa tondelense recusou portanto o convite que habitualmente é feito pelos centrais do Sporting quando saem a jogar a partir de trás. Tanto Coates como Mathieu tentaram em várias saídas chamar a equipa contraria à pressão, processo que visa abrir, a partir do adiantamento das linhas adversárias, espaço para Bruno Fernandes e William construir jogo com espaço e sem grande pressão adversária.

Com linhas muito próximas, pensadas para encurtar espaços e para ter sempre jogadores próximos para intervir (para pressionar e roubar para depois poder ter bola nos pés de forma a lançar o contra-ataque) em todas as zonas do terreno, muito bem orientadas e coordenadas pelos dois médios de cariz mais defensivo, sem saídas precipitadas de qualquer jogador para pressionar à toa (qualquer falha poderia libertar o espaço necessário para os leões praticarem outro tipo de futebol) a equipa tondelense esforçou-se para tentar limitar a construção de Bruno Fernandes (impedindo o médio de se virar de frente para o jogo) e para impedir que Alan Ruiz pudesse receber entre a linha média e a linha defensiva.  Continuar a ler “À lei da bomba – 5 breves notas sobre a vitória do Sporting”

Muito desconforto e muito nervosismo na Feira

Fortíssimos nas transições e pouco mais. Ao dar apoio à acção de Gelson Martins, Alan Ruiz (jogador que finalmente começou a movimentar-se mais para as alas na 2ª parte, contrariando o estaticismo que enunciei no post anterior desde o momento em que entrou para dentro do terreno de jogo) permitiu a continuidade da acção a Gelson (no momento em que o argentino faz o movimento divergente para o lado direito para oferecer apoio ao companheiro, o jogador que o acompanha decide parar a sua acção para eventualmente esperar o 1×1 de Gelson; o jogador da Feira não acreditava na possibilidade do extremo colocar um cruzamento daquele sector do terreno).

O corte de Bas Dost é importantíssimo. Ao dar a entender ao central que tenciona atacar aquela bola, o ponta-de-lança do Sporting prende por completo o central, ou seja, não permite que este recue para estorvar a acção de quem vai realmente receber: Bruno Fernandes.

Inteligência do médio no timing de entrada nas costas, aproveitando a ausência do lateral direito Jean Sony.

O meu coração não aguenta. Depois do frenético final frente ao Setúbal, daquela cardíaca ponta final de partida frente ao Estoril (na qual esta equipa deu os primeiros indícios daquilo que viemos a confirmar na 2ª parte do jogo desta noite: uma equipa que tem muita dificuldade para gerir vantagens) e de uma salutar pausa de 2 semanas para recarregar baterias, na Feira, o alívio só veio mesmo no último minuto e veio porque um dos centrais da dupla de “paus-de-virar tripa” de Nuno Manta, o elo mais fraco desta galharda formação da Feira, cometeu um daqueles erros que vulgarmente designo como “erro provocado por desgaste e fadiga”

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Uma entrada de leão, uma saída de gatinho – cansaço, má gestão da vantagem, nervosismo e a apoteose final – por mim, isto não deve ser sempre assim

Quando Luís Godinho apitou para o final da partida, o estado de apoteose registado no Estádio José de Alvalade mostrou indicadores muito precisos: o primeiro, foi o alívio da tensão e do nervosismo latente que a equipa leonina fez ascender desde o terreno de jogo até às bancadas nos últimos 10 minutos. Pode-se até mesmo dizer que o primeiro golo e o golo anulado aos canarinhos no último minuto deve ter feito reviver, em alguns corações, os fantasmas de épocas anteriores, desde o golo que nos ceifou a possibilidade de conquistar o campeonato em 2004\2005 aos mais recentes dissabores frente ao Guimarães e Belenenses. O segundo foi claro e conciso: a luta travada pelo presidente do Sporting nos últimos anos está a dar (pelo menos para nós; para os outros nem tanto; parece até que as entidades não estão a nomear videoárbitros para as suas partidas) os seus respectivos frutos. Em condições normais, sem videoárbitro, o Sporting perderia naquele lance 2 pontos que poderiam ser, como pudemos ver nos campeonatos de 2007\2008 (aquele golo com a mão de Ronny em Alvalade) e no malogrado campeonato da temporada 2015\2016 essenciais para a conquista do título.

O cansaço sentido pelos jogadores a partir da meia-hora pode explicar o baixar de forma (e de guarda) da equipa leonina, mas não pode explicar tudo o que passou durante uma parte significativa (45\50 minutos) da partida. Não posso de forma alguma menosprezar ou ignorar a onda de cansaço que se poderá ter abatido no seio da equipa, porque, uma equipa que é obrigada a realizar 6 jogos em 21 dias, 2 dos quais debaixo de uma pressão imensa, e de duas viagens desgastantes, tem que estar naturalmente cansada. No entanto, a gestão dos jogos contra equipas que demonstram capacidade de reacção à adversidade (como é o caso do Estoril de Pedro Emanuel) não pode iniciar-se, com um resultado de 2-0, a partir dos 15 minutos de jogo.

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Por mim, deveria ser sempre isto!

Entrada fortíssima, a mandar no jogo e a retirar proveito de todos os processos de jogo executados, quer nos lançamentos promovidos em profundidade para os homens dos corredores, quer na aposta ao jogo interior, com Alan Ruiz a posicionar-se sempre muito bem entre as duas linhas atrasadas do adversário, quer nas combinações que são feitas na esquerda entre Coentrão e Marcos Acuña. 

Sporting 1-0 Fiorentina – aspectos positivos e aspectos negativos da exibição do Sporting

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Sporting 2-1 Mónaco: os aspectos positivos e os aspectos negativos da exibição dos leões no seu jogo de apresentação

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