Um verdadeiro show de bola oferecido pelas duas melhores equipas da actualidade do futebol alemão

Gelsenkirchen Deutschland 19 09 2017 1 Bundesliga 5 Spieltag FC Schalke 04 FC Bayern Muenche

Feliz e de barriga cheia deverá ter ficado aquele que, de toda a generosa oferta existente durante a noite de hoje, escolheu ver a partida disputada (a contar para 2ª ronda da DFB Pokal, para infelicidade do Leipzig, equipa que poderia ter outro destino na prova se não tivesse que enfrentar numa fase tão precoce da competição o poderoso Bayern) entre o RasenBallsport Leipzig e o Bayern de Munique. A partida foi muito mais do que unanimemente foi declarado pelos comentadores da Sky Sports Deutschland no final dos 90 minutos regulares quando exclamaram: “bem, não vimos o tempo a passar nestes 90 minutos de puro e expressivo momento de futebol, daquele futebol sem amarras que gostaríamos de ver mais vezes no nosso campeonato” – a partida foi um verdadeiro momento de afirmação, um momento de declaração de interesses quiçá tão solene quão solene foi em 1987 aquele célebre discurso no qual, à frente do muro de Berlim, em 4 actos, o presidente norte-americano pediu ao seu congénere soviético e ao seu camarada Erich Honecker para que a cortina de ferro fosse derrubada: “Mr Gorbatchov, open this cage. Mr Gorbatchov, tear down this wall”. 

Foi mesmo disso que se tratou toda a atitude positiva de entrega, espírito de combate, espírito de superação dos homens da casa: este Leipzig de Ralph Hassenhuttl, projecto bem ambicioso que está a ser extraordinariamente bem coordenado pela Red Bull, quer mesmo contribuir para o derrube do muro que separa o Bayern das restantes equipas alemães. E quer derrubá-lo pela força, ciente que só uma desrespeituosa atitude (ousada e irreverente mas ao mesmo tempo ciente das adversidades que lhe esperam quando os seus principais craques forem naturalmente seduzidos pelos milhões de outras paragens mais atractivas; Naby Keita, por exemplo, rumará a Liverpool na próxima temporada) pode efectivamente ajudá-los à concretização deste objectivo. Quando todos os clubes (até o próprio Borussia de Dortmund) têm olhado para o solo no momento de prestar vassalagem a este Bayern, os Saxões perderam completamente o medo e olharam de frente o pentacampeão.  Continuar a ler “Um verdadeiro show de bola oferecido pelas duas melhores equipas da actualidade do futebol alemão”

Os golos da Champions

Uma aposta de risco de Rui Vitória. Um par de notas sobre a estreia ao mais alto nível de Mile Svilar

Incontornável assunto colocado à discussão na ordem deste 19 de Outubro foi o ridículo golo sofrido por Mile Svilar na derrota caseira averbada pelo Benfica por 1-0 frente ao Manchester United. Assim que Bruno Varela deixou entrar (por manifesto excesso de confiança) aquela bola saída dos pés de Renato Santos na derrota dos encarnados no Estádio do Bessa, creio que seria lógica e natural a possibilidade de Rui Vitória vir a trocar de guarda-redes nos jogos seguintes, para, numa fase mais adiantada da temporada, promover, na altura certa, quando o jogador já se encontrasse totalmente adaptado à sua nova realidade e às rotinas trabalhadas na equipa, o jovem talento Mile Svilar. O ridículo golo sofrido na noite de ontem em nada beliscou aquilo que penso sobre o jovem guardião belga: Svilar tem um potencial infinito por explorar, talento no qual sobressai um estilo muito peculiar (é um guarda-redes que gosta de actuar ligeiramente mais subido no terreno; característica clássica dos guarda-redes belgas), uma boa capacidade de recuperação na baliza, felino no voo, bastante ágil e flexível, e muito rápido a sair aos pés dos adversários – como ponto fraco parece-me ter somente a saída ao cruzamento por questões meramente posicionais, como pudemos reparar no lance do golo. Svilar não me parece ser aquele tipo de guarda-redes incisivo, agressivo e decidido a sair a cruzamentos, mas, os seus 18 anos, e as 2 temporadas que passará certamente na Luz (podem vir a ser mais ou até menos consoante o grau de evolução) conferem ao treinador de guarda-redes dos encarnados Luís Esteves algum tempo para poder calmamente lapidar os pontos fracos deste diamante em bruto.

A aposta de Rui Vitória no jovem guardião belga, jogador que cumpriu ontem o seu segundo jogo no escalão sénior e o primeiro na principal prova do futebol europeu, tornando-se o mais jovem guardião a alinhar num jogo a contar para a Champions, para um jogo no qual o Benfica teria obrigatoriamente que marcar pontos para continuar a acalentar o sonho de poder discutir o acesso aos quartos-de-final foi por motivos óbvios uma aposta de risco. Mesmo sabendo que estava a submeter o miúdo a um ambiente de extrema complexidade de pressão, frente a uma das mais poderosas equipas do futebol mundial, numa competição onde cada falha é aproveitada pelo adversário e cada falha comprometedora é obviamente sentida de maneira diferente por um jovem em início de carreira, o treinador do Benfica quis obviamente aproveitar a ocasião para correr o risco, ou seja, para dar estaleca ao miúdo, consciente que o belga “saíria em ombros da Luz” se fizesse uma monumental e galvanizadora exibição (exibição que efectivamente realizou até sofrer aquele golo) e muito dificilmente seria criticado ou até gozado (pelos adeptos do clube) se cometesse uma falha grave. Os adeptos dos rivais obviamente passaram o dia a capitalizar sobre a falha, mas isso é uma questão tão antiga quanto a origem do vento e não deverá influir com a psique do jogador. Pelo que tenho visto, confiança não faltará ao jogador para dar a volta por cima nas cenas dos próximos capítulos. Quando, em 2006, nos primeiros jogos de leão ao peito, Rui Patrício falhou, os adeptos dos clubes rivais também cairam sobre o pobre keeper sportinguista. Rui Patrício teve na altura, força mental para aprender com os erros cometidos, para superar os seus próprios fracassos, para se sedimentar como titular da baliza leonina naquela temporada (na altura, o Sporting vivia uma situação muito idêntica à que vivia o Benfica; mesmo apesar das falhas esporádicas que o jovem guardião ia cometendo aqui e ali, Paulo Bento continuou a segurá-lo e a dar-lhe a sua confiança) e acima de tudo para trabalhar com confiança, tornando-se o assombro de guarda-redes que hoje efectivamente é.  Continuar a ler “Os golos da Champions”

A arte da técnica

Quando algum miúdo ou adolescente me pergunta qual é o nível de habilidade técnica individual que deve atingir para vingar no mundo do futebol, tenho sempre a resposta na ponta da língua: deves praticar o máximo que puderes para conseguires tratar a bola tão bem quanto o Robben a trata. Deves acariciá-la tão bem quanto o holandês a acaricia na recepção para que a dita não te fuja, deves ter aquele drible miudinho, curtinho curtinho que te permita teres a bola coladinha “debaixo da tua asa” enquanto levantas a cabeça para ler todo o jogo que corre à tua frente, e para impedir que o adversário te tire a bola enquanto lês o jogo para melhores decidires o destino que lhe vais dar, deves ter aquele toque de midas que te permita a qualquer momento ludibriar o adversário que está à tua frente com uma mudança de direcção, deves passar com a maior eficácia possível e sempre em segurança para todos aqueles que não tiverem um adversário na ilharga ou para todos os companheiros que te ofereçam uma desmarcação para vir receber o teu passe ou para a tua equipa progredir no terreno, e no remate deves, preferencialmente, acertar bem com a parte de dentro do pé para tornares a missão mais complicada ao guarda-redes. Contudo só há uma forma de conseguires aperfeiçoar tudo isso: praticando. Praticando Muito. Contra a parede lá de casa. Na clássica dureza do cimento polido, contra os amigos. No relvado do jardim público e na quadra lá da escola. Excusado será dizer que jogadores como Arjen Robben aperfeiçoaram a sua técnica na rua. Antes de serem jogadores de relvado, foram jogadores de muita peladinha na rua. A rua explica muito do talento técnico de um futebolista. Só o futebol de rua pode oferecer ao futuro jogador a capacidade de criar situações em espaços reduzidos de terreno e sob intensa pressão do adversário, a noção de como fintar um adversário sem ir ao chão (ninguém gosta de queimar as pernas no cimento ou no barro, não é?) e a noção de como fazer uma tabela com um companheiro, a força que se deve empregar em cada passe que se faz… Algumas destas qualidades não são pura e simplesmente edificáveis nos relvados, por mais exercícios que sejam imaginados, desenhados e testados por treinadores ou por pedagogos.

Muitos foram os miúdos que à posteriori me vieram dizer: “João, você tinha razão – Robben é de uma enorme mestria técnica ” Efectivamente. Arjen Robben pertence a uma cada vez mais rara classe de profissionais que trata o seu “ganha-pão”, o seu utensílio de trabalho, como se estivesse a fazer amor com uma bela e inesquecível mulher.

O gesto do holandês é tão importante e tão reconfortante que a bola deverá decerto, no final de cada partida, suplicar insistentemente ao holandês para que a leve para casa para sua casa de modo a poder descansar das pancadas e do maltrato que sofreu de outros pés, menos qualificados, ao longo dos 90 minutos. Num mundo em que o trabalho vale tanto como lixo (e é cada vez mais inflexível, pesado, desgastante e desqualificador para o trabalhador) haja no mundo quem tenha a noção da necessidade de retribuir, com bons gestos, os milhões que recebe pelo exercício da sua profissão. Há 15 anos que Robben exerce a sua com uma mestria técnica ímpar, denominador comum daqueles que se eternizaram neste mundo do futebol.

Os golos da Champions

Contra todas as opiniões que tenho ouvido sobre o valor do jogador nos últimos anos, depois de ter feito sensacionais temporadas no Everton no qual foi “um pau para toda a obra de 80 metros de comprimento” para David Moyes, eu compreendo as declarações de Mourinho quando afirmou que o belga Marouane Fellaini é um jogador com uma importância superior na equipa (e nos seus processos; quer nos ofensivos, quer nos defensivos) aquela que tanto a imprensa como os adeptos lhe tem atribuído.

Contra o jogador belga incorrem as justas críticas que lhe apontam os defeitos do seu jogo: o belga é lento a pensar e a executar (critério que faz toda a diferença no frenético pace do futebol inglês) erra muitos passes fáceis, não toma as melhores decisões, é muito perdulário e perdeu ao longo dos anos aquela que era a sua principal característica ofensiva: o remate de meia distância. No entanto, creio que José Mourinho fez um belíssimo trabalho de remodelação do jogador ao seu pragmático modelo de jogo. O belga é hoje um jogador híbrido (um médio que entra muito bem em zona de finalização) que cumpre as funções que lhe são requeridas pelo treinador português quer no plano ofensivo, quer no plano ofensivo.  Continuar a ler “Os golos da Champions”

O golo do dia

Na primeira parte do jogo inaugural da Bundesliga na nova temporada, o Bayern venceu por 3-1. O futebol dos bávaros não foi o melhor, e até viveu, na 1ª parte, das facilidades concedidas pela estratégia de jogo montada pelo treinador dos farmacêuticos Heiko Herrlich. Nos primeiros 45 minutos, creio que a equipa de Leverkusen cometeu um erro estratégico que deu imenso conforto ao Bayern na partida ao pressionar (pouco e mal) à entrada do seu meio-campo. O plano de jogo idealizado por Herrlich permitiu a uma equipa que já por si gosta de sair a jogar com toda a segurança (a verdade é que tem imensos jogadores para o fazer; começando pelos seus centrais; no entanto, em cada transição, Vidal ou Rudy baixavam até aos centrais para receber a bola e iniciar o momento de construção) o domínio das acções a meio-campo. Aplicando a habitual circulação de bola de pé para pé (aliada à extrema mobilidade de todo o sector ofensivo) no corredor central à procura do espaço livre para entrar dentro do bloco adversário de maneira a poder flanquear o jogo para a projecção dos laterais (por vezes com o auxílio em terrenos interiores de Franck Ribèry e Thomas Muller) a formação bávara manietou o meio-campo da formação de Leverkusen. Não foram muitas as situações de perigo criadas pela formação de Ancelotti na primeira meia hora, mas, a progressão no terreno concedeu as oportunidades que os bávaros precisaram para construir a vantagem de 2-0. Em dois lances de bola parada aqui retratados ao segundo. Continuar a ler “O golo do dia”

Arturo Vidal!

Se este lance acontecesse há 5 anos atrás, o médio chileno “stickava” de primeira contra os adversários que tinha à sua frente. No Bayern, Arturo Vidal ganhou claramente a “inteligência germânica” que faltava ao seu jogo. Em vez de executar um remate de primeira que não lhe iria garantir proveitos, no curtíssimo espaço de tempo que teve para pensar, levantou a cabeça, leu todo o frame que se encontrava diante de si e tomou a opção mais correcta. Nem todos os jogadores são capazes de fazer. Arrisco-me até a dizer que poucos são capazes de fazer isto na grande área da irracionalidade. 

Que estreia! Comprar bem, com critério, no mercado interno

10 minutos de jogo. The Hoffenheim Connection. Sempre que pesca no mercado interno, o Bayern compra bem.

Verticalidade, Pragmatismo e Finesse na Finalização

Como construir um golo em 8 toques. A verdadeira essência do futebol alemão resume-se a isto: cada falha do adversário é capitalizada com frieza e eficácia.

O golo do dia

O trabalho em drible de Franck Ribèry sobre o defesa para a linha de fundo foi mais uma amostra daquele movimento patenteado a que o francês nos habituou na última década. Aos 34 anos, o veterano jogador gaulês aparece com um enorme fulgor físico nesta pré-temporada.  A acção técnica de cruzamento foi deslumbrante.

Bom ataque à bola de James ao primeiro poste. Com o seu movimento de antecipação, o colombiano (jogador que ao longo da pré-temporada tem ganho outra dimensão neste Bayern; aparece mais vezes em zona de finalização) bloqueou a acção de Gary Cahill (poderia ter saído para interceptar o cruzamento) e criou a oportunidade para Muller finalizar a jogada.

 

 

 

O golo do dia

Mbaye Niang! Eu sou deveras suspeito para escrever o quer que seja sobre o poderoso extremo do Milan porque sou um enorme admirador das suas características. Não poderei dizer o mesmo da sua forma de jogar, das más decisões que toma em infindáveis lances por jogo, do seu carácter perdulário, do seu horrível profissionalismo (consta em Itália que o francês é muito dado aos “assuntos da noite”), da sua atitude e do grau de empenho que coloca em campo (por vezes nenhum), mas tenho plena consciência que Vincenzo Montella é o treinador certo para “lhe deitar a mão” em tempo útil de maneira a extrair-lhe (correctamente) todo o potencial que tem para oferecer ao futebol do Milan.

O portento atlético e o altíssimo grau de habilidade técnica que o francês possui torna-o um jogador fantástico para qualquer equipa que queira baixar o seu bloco defensivo e sair em velocidade para o contragolpe com poucas unidades. Se conseguirem colocar 10 bolas no extremo na intersecção entre a linha de meio-campo e a linha lateral, com ou sem espaço (sem espaço, o jogador faz questão de adiantar a bola para “papar” o defesa na corrida sem lhe dar hipótese sequer de fazer a cirúrgica falta sem bola) estou certo que o francês cria desequilíbrios capitais em 9 desses 10 lances. Contudo, sempre que se aproxima da área sem qualquer oposição, o francês parece que se deslumbra por completo. Urge melhorar portanto a qualidade das decisões que toma no terreno.

Montella parece estar disposto a sacar o melhor do panzer. No jogo de ontem frente ao Bayern já se denotaram melhorias no seu comportamento defensivo (no passado, em determinados momentos do jogo, o francês desligava-se por completo dos momentos defensivos da equipa) bem como melhorias na sua tomada de decisão. Veja-se este frame

Assim que sai da sequência de dribles, causando o enorme desequilíbrio que “atarantou” por completo a defesa bávara, o francês abre o jogo correctamente para a desmarcação de Cutrone.

 Em vez de entrar no raio de acção de Hummels e esperar a devolução do avançado, Niang espera que a defesa do Bayern se restabeleça (e fique presa na movimentação do colega que vem de trás) para voltar a receber.

Com os 4 jogadores concentrados num curto espaço de terreno…

(…) o francês só teve que esperar pela subida de Giacomo Bonaventura para lhe garantir a oportunidade para entrar na área e assistir o corte de Patrick Cutrone para as costas da defesa. 

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