Este post surge na sequência do post anterior, para explicar as razões pelas quais defendo que a organização defensiva do Atlético de Madrid de Simeone deveria ser objecto de estudo nas universidades pelo seu carácter extraordinário e fascinante. Como cheguei hoje a um número de visualizações jamais equacionado no momento em que criei este blogue, decidi brindar-vos com um pouco de conhecimento sobre a modalidade que tanto amamos.
Antes de passar aos habituais exemplos práticos, retirados da partida realizada na noite de ontem frente ao Real, permitam-me que vos escreva umas linhas sobre princípios tácticos de um jogo de futebol, mais concretamente sobre princípios defensivos.
Os objectivos gerais da acção sem bola, vulgo acção defensiva são:
- Impedir ao máximo a progressão (invasão) do adversário no terreno (nos seus espaços defensivos)
- Reduzir ao máximo o “espaço jogo do adversário”.
- Recuperar a posse de bola, preferencialmente em terrenos adiantados para poder concretizar imediatamente uma acção de contragolpe que possa apanhar a equipa adversária descompensada.
- Proteger a baliza.
- Anular ao máximo as situações de finalização do adversário.
Para a realizar destes objectivos, a equipa deverá cumprir certos princípios de jogo. Entre os quais:
- O princípio de contenção
- – A equipa deve diminuir o espaço e o tempo de acção ofensiva do portador da bola. (limitação de espaço e tempo para pensar e executar)
- A equipa deve orientar a progressão do portador da bola para uma zona onde possa ser mais fácil roubar-lhe a posse, desarmando-o, fechando-lhe linhas de passe, obrigando-o portanto a cometer erros. (Restrição da acção de passe)
- A equipa ou os jogadores de determinada zona devem organizar-se de forma a parar ou atrasar o ataque ou contra-ataque adversário, propiciando em simultÂneo mais tempo para se organizar adequadamente no terreno de forma a complicar a acção ofensiva adversária e facilitar a intervenção.
- Os jogadores devem evitar a possibilidade do adversário colocar um drible que permita progressão no terreno e seja um elemento criador de uma situação de desequilíbrio, vulgo, inferioridade ou incapacidade de intervenção.
- Impedir a finalização.
- O princípio da cobertura defensiva.
- Determinado jogador deve servir de novo obstáculo ao portador da bola, caso este passe pelo jogador de contenção.
- Determinado jogador deve transmitir confiança e segurança ao jogador de contenção para que ele tenha iniciativa de combate Às acções ofensivas do portador da bola.
- O princípio do equilíbrio defensivo
- A equipa deve assegurar estabilidade defensiva nas várias zonas em que a bola está a ser disputada.
- Determinados jogadores devem apoiar os companheiros que executam as acções de contenção e cobertura defensiva.
- Cobrir linhas de passe.
- Marcar potenciais jogadores que possam receber o esférico.
- Fazer recuperação defensiva sobre o portador da bola.
- Recuperar ou afastar a bola da zona onde ela se encontra.
- O princípio da Concentração
- Aumentar a protecção À sua baliza.
- Condicionar o jogo ofensivo adversário para zonas de menor risco do terreno.
- Propiciar o aumento da intensidade e agressividade da pressão no centro de jogo onde se disputa a bola.
- O princípio da Unidade defensiva
- A equipa deve defender unida em bloco.
- A equipa deve garantir estabilidade espacial e sincronia de movimentos entre linhas, tanto longitudinalmente como transversalmente, tentando ao máximo fechar os espaços para o adversário jogar.
- A equipa deve diminuir a amplitude defensiva da equipa adversária, em termos de largura e profundidade.
- A equipa deve assegurar linhas orientadoras básicas que influenciem os comportamentos técnicos e tácticos dos jogadores que se posicionem fora do centro de jogo onde se está a disputar a bola.
- A equipa deve racionalizar ou equilibrar ou reequilibrar constantemente a repartição de unidades (forças) na organização, consoante as situações momentÂneas de jogo, de forma a reduzir o espaço de jogo do adversário.
- A equipa deve obstruir linhas de passe para jogadores que se encontrem fora do centro de jogo, para evitar que o portador possa almejar a progressão, através do passe para esses mesmos jogadores.
- A equipa deve propiciar a obtenção de superioridade numérica no centro de jogo.
Continuar a ler “A organização defensiva e a entrega ao jogo do Atlético de Madrid (parte 2)”