Estaremos perante uma nova e inovadora forma de organização sectorial da linha defensiva?

setubal

Creditos da imagem: Pedro Sousa

Se me permitem exprimir livremente todos os meus sentimentos para qualificar isto, bem, isto, esta coisa abjecta, esta autêntica cagada, extrapola por completo o limiar da sarjeta. Este comportamento é digno do esgoto, futebolisticamente falando. Quando vi esta imagem, preparei-me para escrever que isto está ao nível de alguns treinadores dos distritais (a verdade é que ainda ontem, no final de um jogo do Campeonato de Portugal disse a um treinador, cara-a-cara, que face ao que vi até agora das prestações da sua equipa, um futebol medonho de chutão para a frente e combate corpo-a-corpo, se eu fosse o responsável da empresa da formação que lhe vendeu o Nível I nos cereais do chocapic, devolvia-lhe imediatamente o valor da inscrição porque sentir-me-ia completamente envergonhado com a qualidade da formação ministrada pela minha empresa) mas antes de o escrever, lembrei-me que por falta de oportunidades (uns por falta de contactos; outros por manifesta falta de padrinhos; outros porque ainda acreditam no lado romântico da coisa, ou seja, ainda acreditam que este país está assente num sistema meritocrata) existem por aí, nos distritais, treinadores que conseguem realizar, com uma “mão-de-obra” menos qualificada que a que possui José Couceiro, melhores trabalhos ao nível de organização sectorial da linha defensiva. Pior que a falta de organização daquele sector é ver dois médios completamente encavalitados em cima de uma defesa já de si desorientada e dois jogadores à entrada da área a observar tudo como se estivessem sentados cómodamente na esplanada do café…. Por falar em esplanada do café, vamos ao próximo post.

O Aves de Lito Vidigal

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Ao longo da vida, é natural ou pelo menos deve ser considerado como natural a simpatia ou a preferência por determinadas pessoas ou personagens em detrimento de outras, cuja personalidade, carácter ou feitio choca directamente com a nossa(o), ou com aquelas cujas atitudes ou comportamentos praticados não se enquadram nos moldes dos valores éticos ou nos comportamentos que acreditamos, defendemos, ensinamos e praticamos. No entanto, o facto de não gostar da personalidade de determinada pessoa ou dos comportamentos que esta pratica, não me tolda ao ponto de não reconhecer a grandeza dos seus feitos, o luminoso brilho do seu pensamento ou a grandeza da sua obra. Ao contrário do português comum, o sucesso alheio não me cria qualquer espécie de confusão nem sequer uma pontinha de inveja. Infelizmente sei que vivo em completa contra-corrente em relação à realidade do país. Os portugueses têm uma certa tendência para idolatrar deuses com pés de barro que nada de útil tem para oferecer à sociedade e para ferrar o seu mesquinho bico naqueles que realmente tem conteúdo para oferecer. O português tem uma natural tendência para querer ter em igual marca e espécie o carro que o vizinho comprou. Se não consegue igualar o seu fato ou o seu feito, o português não descansa enquanto não descer o vizinho ao seu nível de mediocridade. A propósito disto um dia escreveu Torga nos seus diários:   “Só há uma solução quando se vive num ambiente medíocre, entre medíocres: recusar a mediocridade” – ao longo destes últimos meses, tenho-a recusado insistentemente, “afastando de mim esse cálice” – como um dia cantaram Milton e Chico Buarque. Continuar a ler “O Aves de Lito Vidigal”

Euforia, apogeu, modificação, retracção e declínio em 15 minutos – a crítica travessa a uma espinha entalada na garganta

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No capítulo da gestão de uma vantagem magra (de um golo, suponhamos), um treinador pode optar (e trabalhar; porque efectivamente estas situações tem forçosamente que ser bem trabalhadas, bem operacionalizadas) por 3 caminhos estratégicos:

  • A manutenção da estrutura táctica e da “exibição ofensiva” exibida até aquele momento pela equipa, pedindo portanto aos jogadores para não travar o ímpeto ofensivo e defensivo verificado até ao momento para poderem ampliar rapidamente a vantagem. Esta opção deve ser tomada quando as pernas dos jogadores ainda se encontram frescas. É portanto uma opção suicída para os minutos finais de uma partida.
  • A manutenção ou alteração da estrutura da equipa através da realização de uma ou mais substituições que possam conferir pernas frescas ao jogo que não contenha qualquer mudança de índole estrutural de ordem táctic (posicionamento das linhas de pressão, intensidade na reacção à perda) desde que a equipa seja capaz de efectuar correctamente a gestão do ritmo de jogo, baixando-o, enquanto executa em simultâneo uma rigorosa e segura gestão de posse de bola, preferencialmente no meio-campo adversário, de maneira a, inteligentemente, retirar essa mesma posse ao adversário nos minutos seguintes à obtenção da vantagem (reduzindo portanto o grau de exposição à mais que previsível reacção adversária), factor que obviamente o impedirá de ter posse e aproximar-se da sua baliza.
  • A alteração drástica da estrutura táctica da equipa, modificando a atitude até aí exibida pelos jogadores, os posicionamentos, as funções, a organização defensiva e por aí adiante.

A segunda opção é na minha opinião a opção mais efectiva (se os jogadores tiverem a noção perfeita de como baixar o ritmo de jogo e controlar a posse; evitando ter que se submeter ao tempo e à pressão da iniciativa adversária, pressão que naturalmente tenderá a ser maior após a concessão de um golo), a opção que comporta menos riscos (se os jogadores procurarem fazer circular a bola entre si com segurança, privilegiando em primeiro lugar opções seguras de passe que lhes são oferecidas pelos companheiros em detrimento de opções de passe mais tentadoras ao nível de progressão e ataque ao espaço\baliza adversária, mas ao mesmo tempo, de maior susceptibilidade de vir a provocar risco defensivo em caso de perda do esférico) e a mais correcta para gerir vantagens porque cria na psíque do adversário um conjunto de efeitos perversos que são benéficos para a equipa que está a gerir a vantagem. Entre alguns desses efeitos perversos criados pela gestão do jogo através de controlo do ritmo de jogo e da posse de bola está por exemplo o aumento dos índices de nervosismo nos jogadores adversários, aumento que se reflecte obviamente no nível da impetuosidade com que procuram recuperar a bola (cometendo mais faltas, faltas essas que consequentemente quebram o ritmo de jogo, fazendo, como se diz na gíria futebolística “fazendo correr o marfim” para a equipa que está em vantagem) e na diminuição do discernimento com que os seus jogadores constroem jogo, subfactor que advém obviamente da maior limitação íntrinseca ao próprio jogo: o factor tempo. Quando uma equipa cheira a bola, enerva-se. Quando uma equipa passa minutos a cheirar a bola, a reacção mais natural que se dá ao nível da psique dos jogadores é o que eu chamo de fenómeno de 1 contra todos – ou seja, acções nas quais, o jogador, limitado pelo tempo e pela pressão, tenta resolver individualmente acabando por perder a bola.

Jorge Jesus não partilha da mesma opinião. Para Jorge Jesus, a gestão de uma vantagem magra realiza-se, através de uma alteração drástica da estrutura táctica da equipa e da sua atitude, oferecendo a posse ao adversário ao mesmo tempo em que o bloco defensivo recua drasticamente até às imediações da área (deixando portanto de pressionar em terrenos adiantados; a verdade é que um dos méritos alcançados pela formação leonina residiu na voracidade com que esta pressionou o Braga em terrenos adiantados nos momentos de saída ou recuperação do esférico) e os jogadores revelam comportamentos estranhíssimos (quase que como se desligando do jogo) estratégia que só não resultou numa sequência de dissabores nos minutos finais das partidas contra o Feirense e Estoril porque a formação leonina foi literalmente salva pelo gongo (pelo videoárbitro, no caso do jogo contra o Estoril) mas, que por outro lado, foi efectivamente uma das razões que ajudou a explicar os “desaires” sofridos nos minutos finais frente à Juventus.

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Rio Ave vs Sporting – Um conjunto de situações que ajudam a compreender a partida

Nota prévia: Perdõem-me a utilização de caps lock nas palavras com acentos circunflexos. Tais erros devem-se aos caprichos estranhos do meu teclado nesta harmoniosa noite de sábado.

1- A verticalidade dos processos de jogo do Rio Ave de Miguel Cardoso. 

Logo no minuto inaugural, o Rio Ave “mostrou ao que vinha”, aplicando um dos processos de jogo que compoem o modelo de jogo (a identidade colectiva da equipa) que está a ser idealizada, trabalhada e operacionalizada pelo seu treinador desde o primeiro dia desta temporada. Como já referi noutras ocasiões, a palavra Fidelidade (À identidade que está a ser construída) é a palavra de ordem no seio do grupo de trabalho vilacondense. Cardoso (vale a pena ler esta apresentação do próprio no slideshare e convido-vos se tiverem tempo a ler as outras que o próprio disponibilizou sobre outros temas) é, como também já pude referir neste espaço, um treinador que trabalha a equipa de forma a que esta possa jogar À Imagem do modelo de jogo por si idealizado.

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Miguel Cardoso, slides 12 e 13, “A Construção de uma Dinâmica” – Curso de treinadores UEFA B – Braga 2010

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O lance inicia-se com a tradicional disposição dos vilacondenses no terreno de jogo neste capítulo. Pelé recua até aos centrais para ali poder exercer o seu magistério sobre trÊs situações muito específicas: o trinco auxilia a saída de jogo (jogando o esférico preferencialmente para o meio-campo, onde Tarantini sai da marcação para vir receber o jogo, aproveitando a distÂncia de 20 metros existente entre a linha ofensiva e a linha defensiva leonina), permite a projecção dos dois laterais no terreno e confere estabilidade defensiva À equipa caso exista uma perda de bola.

Tarantini destaca-se de William para receber e logo que recebe procura rodar para tentar perceber o posicionamento das referÊncias criativas da equipa. Ao perceber a desmarcação de Barreto pelo meio de Mathieu e de Coentrão, o experiente médio apercebe-se que tem a possibilidade de matar as duas linhas do Sporting de uma só cajadada, isolando o colega.

barreto

Eis a verticalidade pretendida por Cardoso. Em poucos toques\acções a equipa consegue transformar uma saída de jogo num lance de perigo.

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O Mantra de Manta Santos

Da primeira parte do Benfica vs Feirense, ficou-me na retina a tranquilidade (e o rigor; táctico; na desenvoltura dos processos trabalhados pelo treinador, em especial no capítulo da saída de jogo) com que a equipa de Nuno Manta Santos está a encarar a partida na Luz. O “pato” oferecido por Caio (o único jogador que me pareceu intranquilo) aos 11 minutos (na melhor fase dos encarnados na primeira parte) foi para já a única situação que estragou o bem urdido plano de jogo traçado pelo jovem treinador.

Da exibição do Billas na primeira parte saliento 3 aspectos que me pareceram muito positivos:

  1. O seu bom comportamento defensivo – num bloco defensivo recuado estendido a toda a largura do terreno, com boa cobertura posicional em todos os sectores, com jogadores altamente pressionantes quer nas pontas (onde os laterais acompanham quase sempre as movimentações dos extremos adversários para os condicionar) quer no corredor central, corredor onde Etebo tem dado apoio a Tiago Silva e a Babanco (chamado por vezes a recuar mais no terreno para patrulhar as entradas de Jonas, Seferovic ou Salvio entre a linha média e a linha defensiva). Os dois tem recuperado imensas bolas no seu meio-campo.
  2. A clarividência de Etebo e Tiago Silva nos momentos de recuperação e na primeira fase de construção quando a equipa consegue atacar em ataque organizado. Com Luis Machado mais aberto pelo lado esquerdo, Edson inserido em zona interior e Jean Sony a projectar-se pelo flanco direito, mais aberto junto à linha lateral, quando a equipa recupera a posse do esférico, a ideia passa verticalizar o jogo para as entradas de Edson ao meio, para que este possa acelerar a transição tanto em velocidade como através do passe, abrindo para Jean Sony. Perante situações de pressão alta montadas pelo adversário no seu meio-campo para provocar o erro, tanto Tiago Silva como Etebo não caem na tentação de armar rapidamente o ataque, preferindo por vezes contemporizar, segurando o esférico na sua posse, até encontrar (retirar a bola da zona de maior pressão dos encarnados) a melhor solução para a equipa sair em segurança.
  3. Esta equipa do Feirense é uma equipa muito rápida a reagir à perda da bola.

Sporting 5-1 Chaves – Uma vitória categórica.

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O quão importante para nós sportinguistas foi ver, nesta altura tão sensível do ponto de vista ofensivo da temporada (onde a equipa demonstrou, quer nos jogos realizados para a Champions, quer nos jogos realizados contra FC Porto, Marítimo ou Tondela, ter enormes dificuldades para decidir bem no último terço do adversário) um sorridente, afinado e lutador Bas Dost de regresso ao exemplar despacho do seu expediente? Estou certo que para todos os sportinguistas foi demasiado importante, foi uma verdadeira catárse em relação a tudo o que nos tem acontecido nos últimos jogos! Está tudo bem, o nosso “flying dutchman” está de volta, VAMOS COM TUDO PARA SERMOS CAMPEÕES, CARALHO! Para mim, verdadeiro apaixonado da cabeça aos pés deste clube há 30 anos, 132 dias, 16 horas e 56 minutos, (que fique bem sublinhado para que não restem dúvidas), e aficionado do futebol do ponta-de-lança desde o primeiro minuto em que o vi jogar no Heerenveen, foi um momento emocionante. Nestas coisas do desporto eu emociono-me com muita facilidade. Só Deus ou qualquer outra dividade sabe o quanto custa a um ponta-de-lança passar jogos inteiros a seco e digerir estas mesmas prestações na semana seguinte de trabalho –  sem golos e sem oportunidades para exercer o seu nobre mister, a confiança vai-se esvaindo. Por outro lado só Deus ou outra divindade qualquer sabe o quanto custa a um adepto ver que a sua equipa defende bem, transita bem, circula bem, movimenta-se bem, sabe como tornear correctamente a organização defensiva do adversário, faz chegar a bola à bica da área adversária mas, nesse momento não aborda correctamente o momento da decisão. Só Deus ou outra divindade qualquer (eu cá actualmente só acredito no Deus Acuña; isto é, antes do Deus Acuña também acreditava em Ala por obra e graça do Espírito Santo Slimani; um gajo por golos, títulos e bom futebol vende-se ao primeiro que o faça sonhar!) 

Bas Dost soube, no final, na flash interview reconhecer que o seu jogo (e que jogo! 3 golos, 1 formidável assistência para calar todos os “sábios da sinagoga” que o acusam de ser “uma parede sem retorno” e de não saber ligar o jogo quando é preciso; em dois dos cinco golos, Dost sai da marcação para vir receber o jogo, ligando-o com uma pinta, desculpem-me o uso do calão, do caralho!;) também dependeu da prestação do seu pequenino compincha, do génio de Daniel Podence. Aproveito esta transição para passar da primeira para a segunda de várias notas que tenho aqui projectadas para este post.  Continuar a ler “Sporting 5-1 Chaves – Uma vitória categórica.”

Os elementos da direcção dos Belenenses desconhecem o país real

tondela

O Estádio Municipal João Cardoso, visto a 250 metros, na madrugada de domingo para segunda.

Por mais que tente compreender, e juro que intelectualmente estou a fazer um enorme exercício de imaginação, para tentar colocar-me na pele dos dirigentes da SAD dos Belenenses de forma a compreender, não consigo entender as razões invocadas pela SAD dos Belenenses (não devemos confundir a direcção dos Belenenses com os quezilentos dirigentes da SAD dos Belenenses; gente que certamente não gosta do futebol nem respeita os mais basilares elementos que consubstanciam o desporto) para não anuir o adiamento do jogo de domingo para uma altura em que nos seja mais favorável.

Perdõem a crítica de um pobre beirão adoptado por uma terra de gente boa, de gente, honesta, simples mas acolhedora, sofredora, gente que faz do arreganho a sua escola de vida. Sei, pelas estatísticas que vou recebendo que uma generosa fatia dos leitores que recebo neste humilde espaço residem na área de Lisboa. Não vos vou tomar como um todo, porque sei que nessa falange de leitores, muitos são, como eu, “lisboetas” adoptados. Lisboetas provenientes dos sete ventos deste nosso Portugal. Não gosto também de embarcar em generalizações radicais ou bacocas, porque a utilização de generalizações é, na maioria das vezes, uma redundância argumentativa falaciosa, que visa somente causar dano em outrém, preterindo a discussão do essencial.

Nós, beirões, visitamos regularmente e conhecemos minimamente Lisboa. Gostamos de visitar Lisboa porque a capital é efectivamente o expoente da nossa nação. Por outro lado, somos quase que impelidos a conhecer a realidade de Lisboa, porque efectivamente uma generosa fatia das notícias que diariamente conhecemos e dos problemas deste país versam sobre as incidências e os problemas Lisboa. Ainda há bem pouco tempo, fomos obrigados a seguir a par e passo, nas televisões que pagamos (com os nossos impostos ou com as nossas subscrições de televisão por cabo) in loco, toda a campanha eleitoral para as câmaras municipais da área de Lisboa. Estou certo que a corrida eleitoral para a Câmara Municipal de Tondela, por exemplo, não teve, nos órgãos de comunicação social 1\100 avos da exposição mediática que por exemplo teve a corrida eleitoral para a autarquia de Loures, nem 1\1000 avos da exposição mediática que foi atribuída à corrida autárquica para a Câmara Municipal de Lisboa. Como referi no início deste parágrafo, nós conhecemos bem a realidade de Lisboa e conhecemos bem uma boa parte dos problemas das suas pessoas. Nós visitamos Lisboa quase todos os anos. Dúvido é que alguns dos lisboetas (dos alfacinhas puros) nos visitem com tanta regularidade, e conheçam tão bem, a fundo, os nossos problemas locais. Nós fazemos parte de um país que não interessa a uma boa percentagem dos alfacinhas. De um país onde não há nada, como diria outrora um ministro das obras públicas. De um país de gente feia. De um país onde, para uma boa parte, ignorante, vivemos do ferro e da madeira.

Quero com isto dizer que muitos lisboetas nunca viram um fogo a consumir mato à sua frente. Nunca viram a sua casa ameaçada por um fenómeno incontrolável. Nunca foram obrigados a pegar de uma mangueira para proteger o que é seu. Nunca viram o seu trabalho de uma vida ameaçado por um designio criminoso ao qual são profundamente alheios. Nunca sentiram o que é perder familiares e amigos num incêndio. Nunca viram o pânico que se instala numa pobre vila, ou numa pobre cidade (curiosamente eu sou natural da cidade que milita orgulhosa e galhardamente do outro lado da serra do caramulo: Águeda) quando o fogo desce, vertiginiosamente, a levar tudo por onde passa naquelas encostas. Estou certo que grande parte dos lisboetas, nunca sentiram o que é passar um verão inteiro de coração nas mãos. Sim, de coração nas mãos. Noites e noites sem dormir. Noites muito mal dormidas, porque o perigo espreita a qualquer momento.

Só para que os dirigentes dos Belenenses saibam, em Tondela perderam-se ou ficaram parcialmente destruídas 140 habitações e cerca de duas dezenas de empresas. Cerca de sensivelmente 300 concidadãos do concelho estão neste momento sem tecto, a deitar contas à vida. Outras tantas centenas perderam temporariamente os seus postos de trabalho. O estádio onde vós quereis jogar a toda a força no domingo esteve a um pequeno passo de ser consumido pelas chamas. O ar estava profundamente irrespirável naquele dia. Mesmo assim, os nossos bravos jogadores, esqueceram toda a miséria que lhes estava envolta naquele dia para se prepararem o melhor que podiam para vos receber… Vejam aqui…

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Sim, o treino de segunda feira do plantel sénior do Tondela foi feito nos corredores do Estádio Municipal. Foi, digamos, o possível, para não quebrar a forma física dos nossos bravos guerreiros. Achais portanto que estamos em condições iguais para competir? Não creio que estejamos em pé de igualdade.

O desporto é acima de tudo, uma escola de vida. É a vida que o consubstancia, que o consolida. Quando um lote de jogadores sente que a vida que os rodeia, perdeu efectivamente qualidade de vida, digam-me lá vocês, que vontade tem esses jogadores de competir? Que vontade tem este concelho para vos receber? Este concelho adora o desporto, mas, perante tamanha catástrofe estou certo que este concelho só terá nos próximos meses, uma única vontade colectiva: reconstruir o que foi destruído. Reconstruir a paz social.

Vós, dirigentes do Belenenses, não conheceis o país real. Estais muito longe de conhecer o país real. Como cantou Sérgio Godinho:

Andas aí a partir corações
como quem parte um baralho de cartas
cartas de amor
escrevi-te eu tantas
às tantas, aos poucos
eu fui percebendo
às tantas eu lá fui tacteando
às cegas eu lá fui conseguindo
às cegas eu lá fui abrindo os olhos

E nos teus olhos como espelhos partidos
quis inventar uma outra narrativa
até que um ai me chegou aos ouvidos
e era só eu a vogar à deriva
e um animal sempre foge do fogo
e mal eu gritei: fogo!
mal eu gritei: água!
que morro de sede
achei-me encostado à parede
gritando: Livrai-me da sede!
e o mar inteiro entrou na minha casa

E nos teus olhos inundados do mar
eu naveguei contra minha vontade
mas deixa lá, que este barco a viajar
há-de chegar à gare da sua cidade
e ao desembarque a terra será mais firme
há quem afirme
há quem assegure
que é depois da vida
que a gente encontra a paz prometida
por mim marquei-lhe encontro na vida
marquei-lhe encontro ao fim da tempestade

Da tempestade, o que se teve em comum
é aquilo que nos separa depois
e os barcos passam a ser um e um
onde uma vez quiseram quase ser dois
e a tempestade deixa o mar encrespado
por isso cuidado
mesmo muito cuidado
que é frágil o pano
que veste as velas do desengano
que nos empurra em novo oceano
frágil e resistente ao mesmo tempo

Mas isto é um canto
e não um lamento
já disse o que sinto
agora façamos o ponto
e mudemos de assunto
sim?

Mudemos de assunto – editado nos álbuns Campolide (1979)e Irmão do Meio (dueto com Jorge Palma) em 2003

Sporting – Findo o segundo ciclo, o que é que se perspectiva?

Por Miguel Condessa*

sporting 101

Findo o segundo ciclo, o que se viu, o que se perspectiva…

Depois de 2 jogos, em casa, de enorme grau de dificuldade, creio que a maioria dos adeptos conscientes ainda não terá percebido bem se temos realmente uma equipa para ganhar títulos este ano ou não. Todos nós, sportinguistas, temos essa esperança mas uns acharão que ainda nos falta algo e outros já pensam que estão reunidas todas as condições – ainda por cima com o VAR! – para ser este ano o nosso ano!

Eu, confesso, inicialmente pensei que sim, contrariando até a minha ideia inicial que nunca seremos campeões com o Jesus, mas agora penso que ainda nos faltam algumas coisas… Tivemos já dois grandes ciclos de jogos – entre o início da temporada e os jogos da selecção. No primeiro ciclo, em Agosto, fizemos 6 jogos – Aves (f), Setúbal (c), Steaua (c), Guimarães (f), Steaua (f) e Estoril (c) – com 5 vitórias e 1 empate. Neste segundo ciclo, em Setembro, em 7 jogos – Feirense (f), Olympiacos (f), Tondela (c), Marítimo (c), Moreirense (f), Barcelona (c) e Porto (c) – conseguimos 3 vitórias, 3 empates e 1 derrota, sendo que nos últimos 4 jogos não vencemos nenhum!

É da minha opinião que temos um bom plantel, o melhor das 5 épocas do Bruno de Carvalho, com algumas lacunas, que nos dá uma boa base para trabalhar daqui para a frente. Este ano as aquisições foram bastante assertivas – a excepção será o Matheus Oliveira que não tem, nunca teve, e acho que dificilmente terá, andamento para jogar num clube como o Sporting – e tivessem sido assim nos dois anos anteriores de certeza que não tínhamos as limitações que temos e seriamos muito mais fortes. Continuar a ler “Sporting – Findo o segundo ciclo, o que é que se perspectiva?”

Frente a uma equipa extremamente competente, o empate foi um mal menor

gelson

Confesso que estive aqui meia hora a sistematizar o jogo na minha cabeça para que nenhum pormenor me pudesse escraver na altura de escrever este post. O meu exercício acarreta porém, quase sempre uma inevitabilidade. Por mais que a tente fintar, o meu exercício acaba sempre gorado: a multiplicidade quase milionária de acções, posicionamentos, processos, situações, frames muito específicos nos quais virtudes e forças, erros e fraquezas, impedem-me de conseguir escarrapachar tudo no teclado.  A minha sistematização ajudou-me porém a compreender que o Sporting não fez contra o Porto um jogo tão bom quanto o que foi realizado contra o Barcelona. Já o FC Porto fez um jogo tão bom quanto o que fez no Mónaco, claudicando apenas na hora de finalizar. Muito mais fortes e mais competentes que os leões no primeiro tempo (no segundo tempo padeceram do estado físico que acompanhou a formação leonina durante os 90 minutos), a exibição do onze portista faz-me lembrar aquelas partidas de bilhar nas quais, em 7 tacadas, um jogador limpa o bolo de uma assentada mas não consegue finalizar a partida por falta de engenho para meter a bola preta à tabela.

Ao contrário do que aconteceu na partida realizada na quarta-feira frente aos culés, o Sporting não se exibiu a um nível tão eficiente no quadro da fase de organização defensiva (razão que explica em parte as 3 ou 4 situações de golo que os portistas tiveram no primeiro tempo) e ofensivamente voltou a padecer de vários males, males que de resto têm atormentado as exibições da equipa nos últimos jogos: os erros cometidos na transição ofensiva (uma amálgama de passes falhados e de decisões mal tomadas na hora de sair a jogar), indefinição na criação ofensiva (mais uma vez, o Sporting criou poucos lances de perigo real junto à área adversária) e dois matchpoints capitais desperdiçados por falta de engenho dos respectivos intervenientes. Se Bruno Fernandes… Se Bas Dost… Se William… se se se – uma equipa que quer praticar um futebol mais cínico nos jogos contra equipas grandes não se pode dar ao luxo de perder oferta que seja nem pode viver do se nos poucos lances que constrói. Tem que ser eficaz, segura e mais ousada do que aquilo que foi.

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O golo do dia

Capeta! Sempre Capeta! Jogadora talismã desta equipa feminina do Sporting, cuja influências nas vitórias desta equipa faz-me lembrar, perdoem-me os sportinguistas mais sensíveis, a bizarra influência que Pedro Mantorras teve no título conquistado pelo Benfica de Giovanni Trapattoni na temporada 2004\2005. Nessa temporada, sempre que os encarnados estavam literalmente aflitos para bater um adversário, a velha raposa do futebol fazia saltar o avançado angolano do banco. Mantorras estava naturalmente acabado para o futebol. Toda a gente o sabia. Inclusive os colegas, como veio a revelar há uns anos atrás Simão Sabrosa aos microfones da Sportv. No entanto, mesmo acabado para o futebol profissional e tosco (muito tosco; creio que finalmente existe um certo distanciamento em relação ao fanatismo de temporada e às falsas ilusões que alimentavam esse fanatismo para afirmar abertamente, sem correr o risco de levar com uma laranja na cabeça que Pedro Mantorras era só e somente um poço de força, sendo a sua técnica individual inversamente proporcional ao elevadíssimo grau da sua natureza possante), o angolano tinha uma característica, conquistada nas primeiras épocas enquanto profissional que lhe facilitava a missão nos minutos finais das partidas: assim que viam a sua presença nos relvados, os defesas adversários ficavam completamente desconcertados. A verdade é que no auge físico dos atleta, todos os centrais da Liga Portuguesa sentiram, com maior ou menor intensidade, a dificuldade que era lidar com a velocidade e com a pujança do drible do avançado angolano.  Continuar a ler “O golo do dia”

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