Adenda prévia para situar os leitores: eu não concordei com grande parte dos pontos do artigo de Nicolau Santos. O facto de não ter concordado com grande parte das ilações tomadas pelo sub-director do Expresso no seu mais recente artigo sobre o Sporting, não me dá o direito de o censurar, de o limitar ou de o encaminhar para a escrita da opinião que quero ler. A reflexão e o pensamento, desde que trilhado segundo uma lógica de racionalidade, é, indiferentemente da concordância ou não concordância em relação aos argumentos construídos e expressados, um exercício que deveria ser praticado por todos.
Nuno Saraiva não acrescentou nada à comunicação do Sporting desde o momento em que foi convidado pelo presidente para assumir tão espinhoso departamento do clube. Saraiva é, e esse facto veio a acentuar-se ainda mais quando o presidente decidiu abandonar as redes sociais, um veículo de transmissão do pensamento do presidente. Uma espécie de marionete que Bruno de Carvalho usa e abusa para poder emitir opinião sem ser queimado vivo em praça pública e sem ser sancionado nos órgãos competentes. A um assessor ou director de comunicação não se pede, por ofício, o mister de alinhar sistematicamente pelo diapasão do pensamento do presidente. Se todos os clubes funcionassem nos mesmos moldes em que funciona actualmente o Sporting, estou certo que não precisariam de pagar mais um salário a um agente: os presidentes assumiriam simplesmente a função. A um director de comunicação compete acima de tudo gerir os momentos de comunicação dos agentes do clube – quem fala, como fala, quando fala, com quem fala, com que tom de voz e com que argumentos ou justificações. O que vemos no Sporting é total inversão desse modus operandi: toda a gente fala (o presidente é o que mais fala, nos momentos mais despropositados com os argumentos mais despropositados e com tom mais despropositado em cada momento; prejudicando na maior parte das vezes o clube), o director de comunicação deixa que toda a gente fale à vontade, e em vez de colocar alguma água na fervura, também ele serve de veículo à produção de declarações.
Segundo Saraiva, “o presidente” (Saraiva jamais fala na primeira pessoa, limitando-se a dactilografar aquilo que o presidente lhe vai ditando) “jamais coloca em causa a legitimidade ou o direito à crítica” e “não persegue o pensamento divergente”, que deve ser apresentado e “produzido nos locais próprios”, ou seja, nas Assembleias Gerais do clube. O presidente, pessoa que tanto utiliza os direitos, liberdades e garantias plasmados na Constituição da República Portuguesa para salvaguardar o seu direito à liberdade de expressão e opinião, quer que todos os sócios e os adeptos não se possam expressar livremente da forma que mais lhes aprouver e sejam obrigados a produzir as suas críticas nos sítios onde habitualmente só vão aqueles que são apaniguados do regime. Sim. As Assembleias Gerais do Sporting são quase exclusivamente frequentadas por meia dúzia de apaniguados do regime ou por um bando de “reformados sonecas” que papam toda a informação que lhes é transmitida. Só assim se explicam por exemplo, as eleições de Dias da Cunha, Filipe Soares Franco, José Eduardo Bettencourt ou do diabólico Godinho Lopes.
Por outro lado, se o “pensamento divergente” não é perseguido, não vejo portanto a necessidade de “vir tantas vezes a terreiro” responder ao autor da divergência. Nem vejo qualquer necessidade de, no acto de resposta, tentar encaminhar o divergente para os locais ditos “adequados” para a produção de crítica. Há portanto aqui uma enorme incongruência. Se o presidente lidasse bem com a crítica, não teria de vir tantas vezes a público responder à crítica. Quando uma crítica é má, costuma-se dizer que os “cães ladram mas a caravana passa” – no Sporting, todos os “cães” são merecedores de uma resposta. A caravana não passa disso mesmo: refém de todos os “cães” que “publicam opinião sem o efeito de apoucar os dirigentes, treinadores e atletas”.