Não batemos em Mourinho pelo desporto da coisa

Mais uma vez ficaram à vista as debilidades defensivas deste Manchester United. Uma cagada em 5 actos:

basileia

  1. Irracionalidade na distribuição de unidades no terreno, deixando o flanco direito em inferioridade numérica, sem que no meio haja qualquer jogador que possa obstruir eventuais linhas de passe para os jogadores que se encontram momentaneamente fora do centro de jogo onde se está a disputar a bola. Se o jogador que tem a posse neste momento quisesse receber, virar-se e abrir o jogo para o flanco, poderia fazê-lo sem grande problema, criando uma extraordinária plataforma de ataque em virtude da superioridade numérica existente e do distanciamento (espaço existente) entre o lateral e central.
  2. 3 jogadores no centro da bola não evitam a entrada da bola entre linhas no jogador que se solta da marcação.

basileia 2

3. Deficiente ataque à bola do jogador que está a fazer a acção de contenção, não tendo qualquer iniciativa de combate para parar a acção do portador. Deixa rodar para servir a situação de superioridade numérica que se mantém no flanco.

4. Assinalado a azul. Como podemos ver, no ângulo inferior direito, aquele que viria a ser o autor do golo, Michael Lang, movimenta-se no sentido de oferecer apoio ao portador dado o posicionamento interior de Daley Blind, posicionamento que lhe abre totalmente o flanco. O jogador que deve acompanhar a sua subida, Anthony Martial marimba-se completamente para a situação, não acompanhando a subida. Já no jogo do fim-de-semana contra o Newcastle, Martial descurou por completo o acompanhamento às subidas do lateral DeAndre Yedlin.

Dá-se a abertura para o flanco e a natural acção de sobreposição resultante da situação de superioridade existente. Sai o cruzamento para a área.

manchester united 7

5. Marcos Rojo perde a frente do lance para Dimitri Oberlin.

Os golos da jornada (1ª parte)

Face à muralha de jogadores que o adversário colocou na área, Wijnaldum foi obrigado a sacar dos galões para encontrar espaço para disparar aquela bomba. No entanto, no início da jogada, com aquele pequenino toque de excelência técnica, o holandês teve o mérito de desmontar por completo a linha média adversária, abrindo espaço para a saída para o contra-ataque.

Depois de um arranque algo irregular na Premier, arranque no qual, pesem os interessantes e bem trabalhados pormenores demonstrados pela equipa no capítulo da organização da pressão (“a menina dos olhos de Jurgen Klopp”) e da transição para o contra-ataque (pormenores que permitiam à equipa passar rapidamente de uma mentalidade defensiva para uma mentalidade ofensiva, procurando servir, com pragmatismo em profundidade, em cada recuperação, as velozes investidas dos seus homens da frente, em especial as de Sadio Mane e Mohammed Salah) acabou por sobressair (pela negativa) a fragilidade defensiva do quarteto defensivo orientado pelo técnico alemão, o Liverpool vai começando a “despertar” para uma fase de maior regularidade quer em termos de resultados, quer em termos exibicionais, embora os 12 pontos de diferença para o City e a mais que evidente diferença de qualidade entre os planteis e o futebol das duas equipas, não permitam aos reds dizer que estão em condições de atacar o quer que seja pelo menos na presente temporada. Para reforçar esta ideia, sirvo-me da miserável exibição realizada por Dejan Lovren frente ao Tottenham, exibição no qual o croata e o seu colega de sector, o camaronês Joel Matip demonstraram possuir muitas dificuldades no controlo à profundidade adversária.  Continuar a ler “Os golos da jornada (1ª parte)”

Bloco de Notas da História #37 – Obrigado e até sempre Grande Regista! (1ª parte)

Definição de “Regista” –  Segundo os teóricos do pensamento futebolístico da escola italiana, um Regista é um médio construtor de jogo recuado criativo (um dos dois criativos de uma equipa; o outro é o trequartista, o jogador que joga nas costas dos avançados; vulgo o nosso 10 ou o engancm he argentino) que actua no espaço existente entre os defesas e os médios interiores com a missão específica de garantir à equipa qualidade e progressão na saída de jogo ou na fase de construção através de uma apurada e eficaz capacidade de passe e da sua visão estratégica, visão que lhe permite, a partir da sua posição recuada no terreno, tentar encontrar, em cada acção, a melhor forma para a equipa invadir os espaços adversários.  Continuar a ler “Bloco de Notas da História #37 – Obrigado e até sempre Grande Regista! (1ª parte)”

Destruir lendas

jose mourinho

Nos últimos anos confesso que tenho sentido algumas dificuldades para criticar com abertura, frontalidade e sinceridade (sem que ter correr o risco de assistir à rápida lapidação ou delapidação e opressão da minha opinião pelos mais básicos argumentos dos bandeirinhas ou pelas frases feitas dos imberbes que à falta de conhecimento ou de tempo para investigar e conhecer a fundo o trabalho do treinador português, optam por colar habitualmente a sua opinião à opinião que é dita ou escrita pelos pretensos jornalistas especializados, alguns deles pagos a peso de ouro para escrever bem do português) os “trabalhos” que têm vindo a ser realizados nas últimas temporadas por José Mourinho, “um pouco” em virtude da maré de desconhecimento futebolístico generalizado que grassa no seio dos portugueses e do comportamento de manada que explora inteligente e activamente esse mesmo desconhecimento generalizado instalado, comportamento que deriva, em grande parte, da boa imprensa (do fino corte jornalístico, pago a peso de ouro para promover a lenda e o seu legado) que secularmente se atrelou ao técnico desde o dia em que aportou a Londres vindo do Porto. Enquanto perdurar a sua carreira, José Mourinho sempre será uma vaca sagrada do futebol deste país, indiferentemente dos resultados e da excelência do futebol praticado pelas equipas que este venha a orientar no futuro. Continuar a ler “Destruir lendas”

Os golos da Champions

Uma aposta de risco de Rui Vitória. Um par de notas sobre a estreia ao mais alto nível de Mile Svilar

Incontornável assunto colocado à discussão na ordem deste 19 de Outubro foi o ridículo golo sofrido por Mile Svilar na derrota caseira averbada pelo Benfica por 1-0 frente ao Manchester United. Assim que Bruno Varela deixou entrar (por manifesto excesso de confiança) aquela bola saída dos pés de Renato Santos na derrota dos encarnados no Estádio do Bessa, creio que seria lógica e natural a possibilidade de Rui Vitória vir a trocar de guarda-redes nos jogos seguintes, para, numa fase mais adiantada da temporada, promover, na altura certa, quando o jogador já se encontrasse totalmente adaptado à sua nova realidade e às rotinas trabalhadas na equipa, o jovem talento Mile Svilar. O ridículo golo sofrido na noite de ontem em nada beliscou aquilo que penso sobre o jovem guardião belga: Svilar tem um potencial infinito por explorar, talento no qual sobressai um estilo muito peculiar (é um guarda-redes que gosta de actuar ligeiramente mais subido no terreno; característica clássica dos guarda-redes belgas), uma boa capacidade de recuperação na baliza, felino no voo, bastante ágil e flexível, e muito rápido a sair aos pés dos adversários – como ponto fraco parece-me ter somente a saída ao cruzamento por questões meramente posicionais, como pudemos reparar no lance do golo. Svilar não me parece ser aquele tipo de guarda-redes incisivo, agressivo e decidido a sair a cruzamentos, mas, os seus 18 anos, e as 2 temporadas que passará certamente na Luz (podem vir a ser mais ou até menos consoante o grau de evolução) conferem ao treinador de guarda-redes dos encarnados Luís Esteves algum tempo para poder calmamente lapidar os pontos fracos deste diamante em bruto.

A aposta de Rui Vitória no jovem guardião belga, jogador que cumpriu ontem o seu segundo jogo no escalão sénior e o primeiro na principal prova do futebol europeu, tornando-se o mais jovem guardião a alinhar num jogo a contar para a Champions, para um jogo no qual o Benfica teria obrigatoriamente que marcar pontos para continuar a acalentar o sonho de poder discutir o acesso aos quartos-de-final foi por motivos óbvios uma aposta de risco. Mesmo sabendo que estava a submeter o miúdo a um ambiente de extrema complexidade de pressão, frente a uma das mais poderosas equipas do futebol mundial, numa competição onde cada falha é aproveitada pelo adversário e cada falha comprometedora é obviamente sentida de maneira diferente por um jovem em início de carreira, o treinador do Benfica quis obviamente aproveitar a ocasião para correr o risco, ou seja, para dar estaleca ao miúdo, consciente que o belga “saíria em ombros da Luz” se fizesse uma monumental e galvanizadora exibição (exibição que efectivamente realizou até sofrer aquele golo) e muito dificilmente seria criticado ou até gozado (pelos adeptos do clube) se cometesse uma falha grave. Os adeptos dos rivais obviamente passaram o dia a capitalizar sobre a falha, mas isso é uma questão tão antiga quanto a origem do vento e não deverá influir com a psique do jogador. Pelo que tenho visto, confiança não faltará ao jogador para dar a volta por cima nas cenas dos próximos capítulos. Quando, em 2006, nos primeiros jogos de leão ao peito, Rui Patrício falhou, os adeptos dos clubes rivais também cairam sobre o pobre keeper sportinguista. Rui Patrício teve na altura, força mental para aprender com os erros cometidos, para superar os seus próprios fracassos, para se sedimentar como titular da baliza leonina naquela temporada (na altura, o Sporting vivia uma situação muito idêntica à que vivia o Benfica; mesmo apesar das falhas esporádicas que o jovem guardião ia cometendo aqui e ali, Paulo Bento continuou a segurá-lo e a dar-lhe a sua confiança) e acima de tudo para trabalhar com confiança, tornando-se o assombro de guarda-redes que hoje efectivamente é.  Continuar a ler “Os golos da Champions”

Manchester United vs Crystal Palace

Acredito que, para vir a Old Trafford realizar este espectáculo deprimente, mais valia aos jogadores do Crystal Palace terem ficado no jardim anexo ao estádio a tratar das belas roseiras que por lá se encontram em viva flor. A primeira parte da exibição dos palacianos em Manchester atesta e corrobora bem a razão pela qual a equipa do conservador e arcaico Roy Hodgson ocupa o último lugar da tabela sem ter marcado qualquer ponto e sem ter somado qualquer golo em 6 jornadas. Continuar a ler “Manchester United vs Crystal Palace”

Os golos do dia (1ªparte)

Um auspicioso início de temporada para Romelu Lukaku

Ultrapassada que está, creio, a ligeira incongruência cometida por José Mourinho relativa à contratação de um jogador, por 75 milhões de euros, duas épocas depois de o ter dispensado quando era treinador de um adversário directo do United, num processo que conduziu à sua contratação por parte do clube que vendeu o jogador à posteriori para o clube de Manchester, a cada vez mais influência do jogador no futebol do United está à vista.

Eu não sou muito fã de estatísticas, reconheço. No entanto sei reconhecer a sua preciosa utilidade para avaliar determinados aspectos de evolução técnica ou táctica de um jogador e utilizo-as de vez em quando para esse efeito quando as estatísticas desse jogador combinam com uma ou mais observações nas quais vislumbro qualidade nas acções. Ao contrário do que vejo por aí em alguns jornais, sites e blogs de especialidade não as utilizo de forma abundante para explicar o quer que seja porque não sou, de todo, adepto de modelos de observação tecnocratas mas sim de modelos de observação qualitativos, modelos nos quais os aspectos matemáticos do jogo são meros exemplos complementares para reforçar essa mesma qualidade. Não me adiantam portanto os milhares de quadros estatísticos disponíveis em vários sites para perceber se um rendimento de um jogador traz qualidade ao futebol de uma equipa porque a qualidade nas várias vertentes do jogo só pode ser aferida qualitativamente através dos proveitos que o seu rendimento traz para o futebol dessa equipa, mediante a satisfação de um conjunto de factores de aferição nos quais devem estar sempre presentes o sistema táctico e modelo de jogo utilizado\operacionalizado pelo seu treinador, a interacção com os companheiros de equipa no terreno jogo e o benefício ofensivo ou defensivo que certa acção praticada oferece ao jogo da equipa.  Continuar a ler “Os golos do dia (1ªparte)”

A arte de um bom médio

Receber o esférico, levantar a cabeça para ler o cenário de jogo na sua totalidade (o posicionamento adversário e o mar de movimentações dos seus companheiros na abertura de linhas de passe) e procurar sempre a melhor solução de passe (a que acrescente progressão no terreno, criação de situações de desequilíbrio ou a que permita à equipa continuar a ter a posse de bola) nem que para o efeito tenha que contemporizar, guardando a bola nos seus pés (mesmo que a pressão adversária chegue, Matic tem mecanismos para a suplantar) até ao momento em que um companheiro oferece a solução ideal, ou seja, a solução que proporciona ganhos à equipa.

O sérvio cumpre as mais elementares regras da “boa definição de lances” quando tem a bola nos seus pés. A circulação de bola do United ganhou imenso com a chegada do sérvio. É ele que liga o jogo entre sectores, que faz a bola circular de flanco a flanco (processo tão necessário contra equipas bem organizadas num bloco recuado; caso do Everton na primeira meia-hora do jogo de domingo) e que liberta todos os jogadores que jogam à sua frente para funções mais criativas, sem nunca, se expor muito no terreno para não prejudicar o equilíbrio defensivo da equipa de Mourinho. Se a equipa perde o esférico (mesmo nas situações em que o sérvio falha um passe) Matic está lá rapidamente para tentar matar a transição adversária.

Antonio Valencia

Sensacional patada do equatoriano numa jogada extraordinariamente pensada (completamente fora da decisão clássica que é tomada pelos jogadores naquela situação concreta; o cruzamento para a área) por Nemanja Matic.

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