Kylian Mbappé bem como tantos outros, foram o corolário de uma aposta trilhada pelo português na juventude, quando os sonhos milionários incutidos pela direcção de Dmitry Rybolovlev se finaram. O português conseguiu, a pulso, alterar as novas ideias e estratégias trazidas pelos novos oligarcas para o futebol ao apostar no desenvolvimento de jovens com potencial em detrimento de estratégias que visam dotar as equipas de nomes sonantes contratados e pagos a peso de ouro.
Leonardo Jardim chega finalmente ao topo do futebol europeu. Suspeito que este título não marcará o topo da carreira do treinador português: Jardim provou-se ao longo dos anos como um treinador capaz de vingar, de atingir sucesso em todo o tipo de realidades: desde o clube mais modesto ao milionário Mónaco, o madeirense tornou-se capaz de transformar em ouro toda a matéria prima em que tocou, colocando equipas a jogar um excelente futebol com os recursos possuídos, atingindo sempre óptimos desempenhos e resultados. Creio portanto que o treinador tem todas as capacidades para finalmente dar o salto para um tubarão europeu.
A carreira português no Mónaco realçou-lhe todas as características que um grande treinador deve possuir para o ser. Todas: capacidade metodológica para trabalhar uma equipa de acordo com os seus princípios de jogo, adequação táctica personalizada a todos os adversários sem violar os princípios colectivos construídos, um excelente trabalho na optimização dos pontos fortes de todos os jogadores com quem trabalha, reconhecendo-lhes valor, um excelente trabalho no desenvolvimento de jogadores jovens e um discurso humilde assente no trabalho, sem floreados nem qualquer tipo de showoff. Neste último ponto, é correcto afirmar que ao longo destes anos nunca vimos o treinador perder, em qualquer momento, aquela postura de seriedade de quem, confiante, humilde e pacientemente trabalha para o sucesso e sabe que vai alcançá-lo mais dia menos dia, mostrando outra face diante dos jogadores.
Este título, tem ainda mais sabor se pensarmos que o treinador português conseguiu inverter o pensamento estratégico dos dirigentes do clube. Quando chegou em 2014 à turma monegasca, adquirida na altura por um excêntrico multimilionário russo, o paradigma oferecido a Leonardo Jardim era efectivamente um paradigma de luxo. As contratações pagas a peso de ouro acabaram por surtir algum efeito a curto prazo com a conquista de uma vaga na Liga dos Campeões mas não conquistaram títulos de maior. Por outro lado, os nomes sonantes levaram o treinador português a exacerbar a sua veia pragmática e excessivamente resultadista, facto completamente antagónico à atitude que o pode içar desde o excelente trabalho desenvolvido pelo Beira-Mar, Braga e Sporting até ao principado do Mónaco. A venda dos nomes sonantes teve um efeito destruidor nos sonhos incutidos quando Jardim assinou pelo Mónaco, levando o treinador português a inverter a estratégia seguida pelo clube quando decidiu, em conjunto com o director desportivo Antonio Cordon, convencer a direcção monegasca a voltar a desenvolver a estratégia que tantos triunfos deu no passado ao clube do principado: uma aposta vincada na formação e no desenvolvimento de jovens talentos.
Este foi portanto o fruto dessa aposta, libertando o treinador português das amarras do pragmatismo para uma maior liberdade criativa. Essa liberdade criativa permitiu-lhe construir a equipa que hoje foi campeã de França, 17 anos depois de uma equipa que curiosamente também tinha um conjunto de jogadores formados ou desenvolvidos no clube como David Trezeguet, Phillipe Christanval, Julian Rodriguez, Tony Sylva (formados) ou Ludovic Giuly, Dado Prso, Fabien Barthez, Rafa Marquez, John Arne Riise e Willy Sagnol (desenvolvidos).