Nós é que agradecemos, Imperador!

Corria o ano de 2010 quando todos acreditámos que eras imbatível, tal era a quantidade de defesas inacreditáveis que fazias jogo após jogo. Independentemente da nossa cor clubística e do facto de teres alinhado pelos rivais, nós é que nos sentimos impelidos a agradecer-te esse teu esforço, esses teus reflexos incríveis, essa tua agilidade felina, essa tua enorme presença na baliza. O teu país também será obrigado a agradecer-te. Deixa-me que te diga que, no meu entendimento, não foste o melhor “São” (os brasileiros tratam os seus “goleiros” como Santos) da história do seu futebol (pessoalmente defendo que o melhor guarda-redes da história do Brasil foi Marcos do Palmeiras; a esse, o cosmos deu-lhe o raro dom do milagre) nem tão pouco o mais carismático porque efectivamente os mais carismáticos foram Claudio Taffarel e Rogério Ceni. No entanto, creio que terás o teu pedaço na história da posição no teu país, porque, em conjunto com tantos outros (Jefferson, Cássio, Hélton, Carlos Germano, Norberto Neto, Alisson, Heurelho Gomes, Doni, Diego Alves, Victor, Taffarel, Ceni) ajudaram à superação daquilo a que eu denomino como “o estigma de Barbosa” (Moacir Barbosa era o guarda-redes da selecção que perdeu o título mundial de 1950 no Maracanã frente aos Uruguaios; o golo apontado por Alcides Ghiggia viria a transformar o pobre Barbosa numa espécie de vilão nacional até ao fim da sua vida, votando-o a um inexplicável ostracismo social) – “o estigma de Barbosa” afectou durante várias décadas o relevo que era dado pelo futebol brasileiro à posição e treino específico da posição, menosprezando-a por completo. Foram os feitos dos guarda-redes das gerações de 90 e dos anos 2000 que alteraram essa visão. A primeira internacionalização em massa do guarda-redes brasileiro alterou por completo esse paradigma. Embora esta ainda seja uma das raras posições que o Brasil não produziu um dos 3 melhores jogadores de uma posição numa determinada geração (Ederson tem todo o potencial para se tornar), o país tem vindo a trabalhar os seus talentos com muito mais qualidade.

Breve passagem de olhos sobre alguns dos highlights do suplício australiano em Murrayfield

kepu

A 129ª e última selecção de Stephen Moore pelos Wallabies (53-26; a maior derrota registada pelos australianos nas 30 partidas realizadas contra os escoceses; os escoceses nunca tinham conseguido alcançar em toda a sua história duas vitórias seguidas sobre a selecção australiana), merecia outro nível de respeito por parte do pilar Sekope Kepu. Aos 39 minutos de jogo, numa fase do encontro em que os Wallabies estavam claramente por cima, galvanizados pelos dois ensaios “cavados” ao pé pelo abertura Bernard Foley na ressaca de um demoníaco arranque de partida protagonizado pela selecção da casa nos primeiros 20, o pilar dos Waratahs de Sydney decidiu cometer uma acção completamente infantil, despropositada e anti-desportiva (que pode ser vista a partir do minuto 49:45 até ao minuto 52:30 deste vídeo), que, para além do consequente e merecido castigo de que decerto será alvo nos próximos dias por parte da World Rugby, porque no rugby não há lugar para este tipo de atitudes irracionais que podem colocar em risco a integridade física do adversário, decerto o envergonhará. Ao largo da bela ilha de Tonga, entre daikiris e pinacoladas, Kepu terá certamente um mês de férias para reflectir sobre a borrada que manchou um jogo já de si extraordinariamente complicado para a sua selecção em virtude do pace elevadíssimo que foi colocado na partida pelos escoceses (aproveitando aquele que era à partida o seu maior trunfo frente aos australianos: a maior frescura física) e da incisividade e agressividade colocada pelos Scots nos seus carries e no seu desempenho defensivo. Continuar a ler “Breve passagem de olhos sobre alguns dos highlights do suplício australiano em Murrayfield”

O momento da semana – Nuno Sousa Guedes

No esclarecedor triunfo (45-12) alcançado pela selecção portuguesa frente à sua congénere Checa no desafio disputado na tarde de sábado no Campo de Honra do Estádio Nacional do Jamor, em jogo a contar em simultâneo para a primeira jornada do Europe Rugby Trophy (3º escalão) da temporada 2017\2018 e para a ronda de qualificação Europeia para o Mundial 2019. Quanto a esta última, com esta vitória, ficamos agora à espera do desfecho classificativo da presente edição do Rugby Europe Championship para conhecermos o adversário que iremos defrontar em playoff durante o próximo mês de Abril, sabendo de antemão que não poderemos defrontar a Geórgia porque os “Lelos” de Milton Haig já se encontram apurados para a prova.

Numa partida em que vários foram os jogadores que estiveram em bom plano (eu gostei particularmente das exibições do estreante José Rodrigues, médio de abertura nascido na África do Sul que actualmente representa a Agronomia, da voracidade demonstrada pelo meu amigo Sebastião Villax em todas as acções que praticou – quer no ataque ao breakdown quer nas penetrações realizadas  da exibição muito sólida do 8 Vasco Fragoso Mendes e dos bons ataques à linha do 2º centro José Lima) o momento do jogo pertenceu ao defesa flanqueador do GD Direito Nuno Sousa Guedes, com esta esplendorosa, confiante e técnica arrancada sobre a defensiva checa, arrancada na qual o jogador dos “advogados” tirou 2 adversários do caminho com 2 sidesteps perfeitos, antes de servir o apoio oferecido pelo “ponta” (centro de raiz adaptado a ponta pelo seleccionador Martim Aguiar) do CDUL Tomás Appleton

Ler bem o posicionamento da defesa adversária para “pensar fora da caixa” – o médio de abertura da selecção irlandesa Joey Carbery

O seleccionador irlandês Joe Schmidt tem aproveitado a janela de testes de Outono para promover a introdução gradual de alguns jogadores jovens que se tem destacado nos últimos meses no rugby daquele país, com o objectivo expresso de ganhar profundidade no seu lote de escolhas para a próxima edição do Torneio das 6 Nações e para o Mundial de 2019. Frente à prometedora e aguerrida selecção das Fiji, selecção que foi a Dublin, ao Aviva Stadium vender bem cara a derrota (23-20) uma semana depois de ter feito uma razoável exibição em Itália (19-10), a honra de substituir o intocável Johnny Sexton, jogador que é na minha opinião, o melhor médio de abertura do rugby mundial, coube ao médio de abertura do Leinster Joey Carbery.

Apesar de ter tremido imenso no capítulo dos pontapés aos postes (Carbery falhou 2 conversões na primeira parte), o jovem de 22 anos, jogador que ao longo da sua semana foi muito elogiado pelos seus companheiros, em especial pelo novo capitão irlandês, o flanqueador Rhys Ruddock (para ler as declarações proferidas pelo asa na conferência de imprensa que antecedeu a partida, desça a página até ao seu início), conseguiu, à 2ª selecção pela formação do Trevo, alcançar os propósitos de Schmidt, mostrando ser uma opção muito consistente para a posição caso aconteça um infortúnio a Sexton. Com uma extraordinária leitura de jogo, em especial, do posicionamento da defesa adversária, Carbery magicou, em dois lances (a jogada do primeiro é de uma leitura de jogo e de uma tomada de decisão fenomenal) dois ensaios para os irlandeses.

A asneira colossal de Kurtley Beale na asquerosa exibição dos Wallabies em Twickenham

Na ressaca do categórico triunfo alcançado no passado sábado, dia 11, no Millenium de Cardiff frente à brava selecção galesa de Warren Gatland, a visita dos Wallabies até ao monstruoso estádio de Twickenham, catedral do rugby inglês, revestia-se por vários motivos, da maior importância para os comandados de Michael Cheika. Para além da histórica e intensa rivalidade existente entre as duas selecções, do extraordinário momento de forma colectivo que havia permitido uma série de 5 vitórias e 2 empates aos Wallabies nos 7 testes anteriormente realizados e do histórico de confrontos profundamente negativo (0-4) registado nos confrontos entre as duas selecções desde que Eddie Jones assumiu em 2015 o comando técnico da selecção inglesa, cabia aos forasteiros a possibilidade de poderem exercer, na “toca do leão”, o ónus da prova, ou seja, provarem que tem capacidade para derrubar aquela que é na minha opinião, a par com a Nova Zelândia, em função da sua fantástica performance defensiva, a principal candidata ao ceptro mundial.

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Mike Brown – a elegância do gesto técnico de recepção no ar a um pontapé adversário.

A posição de fullback (embora a língua portuguesa disponha de uma tradução para a posição – defesa flanqueador -os portugueses prefiram utilizar com mais regularidade o termo francês “arrière”) parece a quem assiste a um jogo de rugby em função fácil e até cómoda de desempenhar por qualquer jogador em virtude da sua posição recuada no terreno de jogo e da aparente facilidade das acções que este tem de desempenhar em campo, mas não é de facto, uma posição nada fácil. Continuar a ler “Mike Brown – a elegância do gesto técnico de recepção no ar a um pontapé adversário.”

Momentos gloriosos no campo de batalha – a selecção irlandesa

De uma ferocidade ímpar na vitória sobre os springbook por 38-3. Na placagem. Na luta pela conquista da bola. Nas acções de maul dinâmico. No tempo de entrada e na limpeza de ruck. Nas formações ordenadas.

O nome é estranho (Aki é um Irlandês d´além mares) e não é, se me permitem fazer uma piadinha sem teor jocoso e sem qualquer ponta de ofensividade, nada católico para um irlandês, mas a vontade do centro é muita. Aki tem força, vontade e potência para dar e vender ao jogo da selecção orientada por Joe Schmidt. O pilar Coenie Oosthuizen é, para terem uma ideia, um bichinho nada simpático de 129 kg. A sua queda em cima da vossa mão é o suficiente para vos fazer estalar uma ou mais falangetas dos vossos dedos. Aki “virou” o poderoso pilar com o prestoso auxílio do abertura Johnny Sexton e ainda se foi, deleitosamente embrenhar na selvática batalha pela conquista da posse da oval no ruck. Finda a gloriosa acção, fez aquele grito moralizador de dever cumprido, grito que consubstancia num só sentimento todos os valores desta modalidade.  Continuar a ler “Momentos gloriosos no campo de batalha – a selecção irlandesa”

Um fulgurante início de digressão europeia para os Wallabies

O presente ano de 2017 não está certamente a ser um ano fácil para o seleccionador australiano Michael Cheika e para alguns dos pilares da estrutura da modalidade naquele país. Aos problemas de fundo já identificados aqui neste post, problemas para os quais as respostas que tem sido dadas pelas entidades oficiais que tutelam a prática da modalidade no país ainda não tem sido minimamente satisfatórias para combater de forma eficaz esses mesmos problemas, aos maus resultados acompanhados pelas más exibições que a selecção realizou nos testes de Junho frente à “equipa B” da Escócia (derrota copiosa sofrida em casa por 19-24) e frente à selecção italiana (vitória magra por 40-27) e na partida da primeira jornada do Rugby Championship frente aos neozelandeses (copiosa derrota caseira por 34-54), aos maus resultados somados pelas equipas australianas na edição de 2017 Super Rugby (das 5 selecções provinciais, apenas uma, os ACT Brumbies se qualificaram para os quartos-de-final da competição, convindo referir neste ponto que a formação de Camberra só se qualificou porque o actual sistema em que está organizada classificativamente a competição, sistema que promove a divisão das equipas em 3 divisões de circunscrição nacional, oferece ao primeiro classificado da sua divisão nacional a passagem directa para os quartos-de-final da prova indiferentemente do score pontual registado na fase regular) acresceu a lastimável decisão que veio a ser tomada no Verão pela Sanzar, a empresa que actualmente organiza a principal competição de selecções provinciais (agora transformadas em franquias de gestão privada) do Hemisfério Sul, quando decidiu, na sequência dos baixos índices de competitividade demonstrados pelas formações australianas nos últimos anos, cortar a participação em 2018 a uma das cinco equipas daquele país, mais concretamente à franquia da 3ª potência formadora do país: a Western Force de Perth, franquia que foi no passado responsável pela formação de alguns dos melhores jogadores da história do país como David Pocock (histórico asa da selecção australiana) Digby Ioane (36 internacionalizações somadas pelos Wallabies)ou Ben McCalman (50) e desenvolvimento de outros como Matt Giteau, Nathan Sharpe ou Drew Mitchell. A decisão, escolha que foi extremamente influenciada por motivos estratégicos de ordem comercial que são ambicionados pela própria empresa (os responsáveis da Sanzaar consideram que a cidade de Melbourne pode vir a transformar-se no futuro como um mercado de altíssima rentabilidade) e pela pressão que foi exercida durante meses exercida pelo lobby de investidores da franquia dos Rebels – poderá vir a ter os seus custos para o futuro da modalidade do país, em função da distinta esfera de influência que a modalidade goza junto das populações dos dois estados. Em Perth, o rugby union é a 2ª modalidade mais praticada logo a seguir ao ciclismo; no Estádio de Victoria, a modalidade deverá ser talvez a 6ª ou a 7ª mais praticada no Estado, tendo efectivamente menos atletas federados do que modalidades como o Aussie Rules, o Rugby League (variante de 13; jogado de acordo com regras ligeiramente diferentes), o futebol, o ténis, o cricket e o ciclismo. Continuar a ler “Um fulgurante início de digressão europeia para os Wallabies”

As imagens da vitória do CDUL em Itália

Já noticiada aqui durante o dia de ontem. Durante o dia de hoje nas redes sociais, a vitória obtida pelos campeões nacionais no terreno da poderosa equipa do Viadana por 14-19, equipa que actualmente ocupa o 2º lugar da tabela do seu campeonato (uma das principais ligas profissionais do velho continente europeu) tem sido qualificada por muitos entusiastas ou pessoas ligadas à modalidade, como a vitória mais importante do rugby português nos últimos 7\8 anos. No post escrito ontem já tinha qualificado a vitória dos universitários como uma excelente notícia (muito galvanizadora) para a fase menos positiva pela qual tem estado a passar o nosso rugby nos últimos anos. São estas vitórias (juntando talvez a esta vitória o fenomenal percurso trilhado da selecção nacional de sub-20 durante a campanha de 2017 – campeã europeia de sub-20, vice-campeã mundial do Trophy do campeonato do mundo do escalão e a vitória obtida pela selecção de séniores no Rugby Europe C – vitória que a meu ver não deve ser tão desvalorizada quanto foi em virtude da derrota sofrida contra os belgas em Bruxelas no playoff de apuramento para o Grupo B porque uma derrota contra uma selecção de um país cujo rugby está a ser palco para um forte investimento na modalidade, de forma a aproximá-la do poderio das principais selecções do Grupo B – Roménia e Geórgia – não mancha a campanha de ressurreição coroada com 7 vitórias consecutivas que foi trilhada desde que a dupla Martim Aguiar\João Pedro Varela assumiu os destinos desta selecção) que nos fazem acreditar que, com trabalho e união, podemos paulatinamente recuperar do coma profundo no qual estivemos durante a última década, para finalmente começar a percorrer um caminho de sucesso. Sinto-me impelido a dizer que esta vitória provou que o jogador português não deve sentir qualquer complexo de inferioridade quando vai jogar à casa das formações de nações evoluídas. Quando o português entra em campo com o objectivo de deixar a sua pele no relvado, em nada se deve considerar inferior ao seu adversário.

O rugby português precisa deste tipo de vitórias, precisa cada vez mais deste misto de empenho, concentração, criatividade, força, segurança e espírito de união e precisa de gente capaz de se entregar ao trabalho. Podia aqui aproveitar a deixa para fantasiar e verbalizar sobre as fantásticas exibições individuais que pude ver nos 2 resumos (um mais curto – o que postei no início do post – e outro mais longo, apanhado num canal de televisão premium daquele país) mas prefiro atribuir os louros desta vitória ao enorme esforço colectivo da formação lisboeta – porque o rugby nacional necessita cada vez mais de agentes que prefiram a união à cisão, que prefiram o trabalho aos abjectos golpes palacianos que nada acrescentam ao rugby português, que prefiram uma atitude inclusiva a uma perigosa atitude elitista, e que se deixem de lutas tribais para se sentarem à mesa para pensar e operacionalizar uma coerente estratégia de crescimento e desenvolvimento que possa vir a beneficiar todos os clubes e não um conjunto deles (bem sei que para alguns galifões que por aí andam, é muito difícil vislumbrar o rugby português para além das fronteiras da Tapada da Ajuda, das Olaias, do Estádio Universitário de Lisboa ou de Monsanto), que possa apoiar a criação sustentada de novos clubes (em especial, nas zonas mais periféricas do país) e que possa aumentar a visibilidade e a exposição mediática desta modalidade no nosso país. O rugby português será, na minha opinião, tão ou mais forte, quando a união entre todos os agentes, proporcionar um aumento significativo do número de praticantes (aumento que se traduzirá obviamente no aumento da visibilidade e da exposição mediática da modalidade em todo o país) e o aumento da profundidade de escolhas ao dispor de cada seleccionador regional e de cada seleccionador nacional.

CDUL vence em Itália na 1ª jornada da Shield

Da Lombardia, mais concretamente de Viadana tomei conhecimento de uma óptima notícia para o Rugby português: na sua estreia na presente edição da Continental Shield (prova que é disputada na sua fase de grupos por clubes italianos, um romeno, uma formação alemã e um georgiano – o vencedor terá acesso no próximo ano à fase de grupos da Taça Challenge), o CDUL, actual detentor do título nacional, venceu a formação local (a equipa que actualmente ocupa o 2º lugar da poderosa liga italiana) por 14-19 com 3 ensaios (2 convertidos pelo Lobinho sub20 Jorge Abecassis) somados por Hamish Graham e pelos internacionais portugueses Tomás Noronha e Tomás Appleton.

O CDUL está efectivamente de parabéns! Triunfos desta categoria servem não só para espantar todos os fantasmas que tem assombrado o rugby português nos últimos como se constituem efectivamente como tónicos de galvanização para todos os agentes do rugby nacional – se continuarmos a trabalhar com qualidade no limite, podemos finalmente trilhar um caminho de evolução que permita reduzir as assimetrias que foram sido cavadas pelos nossos adversários na última década.

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