Os golos da jornada (1ª parte)

Começo este post pela derrota do Real Madrid na deslocação à Catalunha, mais concretamente ao terreno do recém-promovido Girona, emblema que é actualmente presidido pelo antigo lateral direito internacional Delfi Geli (jogador que se celebrizou nos anos 90 ao serviço do Atlético de Madrid de Radomir Antic) e que como se sabe foi adquirido recentemente pelos emires do City Football Group, a holding que controla, entre outros clubes, o Manchester City. Frente ao actual campeão espanhol e bicampeão europeu, a formação catalã fez um “partidazo” incrível (em suma, o jogo foi provavelmente um dos melhores jogos de 2017 da Liga Espanhola) no qual, no frenético (disputado a uma velocidade altíssima que me levou sinceramente a crer, in loco, que os catalães não teriam pernas para mais de 60 minutos; enganei-me redondamente; foi precisamente a partir dos 60 minutos que os merengues não tiveram pernas para aguentar o verdadeiro rolo compressor exercido pela formação da casa) e entrecortado carácter que o jogo foi proporcionando (de bola cá, bola lá) criou várias situações de perigo (enviando inclusive duas bolas aos ferros da baliza defendida por Kiko Casilla, titular em função da ausência de Keylor Navas) e beneficiou de uma rara (nada normal) falta de compostura de Ronaldo no capítulo da finalização.  Continuar a ler “Os golos da jornada (1ª parte)”

Atlético 1-1 Barcelona – Um mero e breve conjunto de apontamentos

Entrada prometedora dos catalães na partida.

O guião, vulgo, plano de jogo, de entrega total,, ditado por Diego Pablo Simeone aos seus jogadores já é ou pelo menos já deveria ser sobejamente conhecidos por todos aqueles que tem estado minimamente atentos ao percurso da formação colchonera desde o momento em que argentino assumiu o seu comando técnico. No que concerne às suas ideias de jogo, às dinâmicas e aos processos que compõem o seu modelo de jogo, o treinador argentino raramente altera o quer que seja em função do potencial do adversário que vai defrontar. A equipa mantém-se fiel às matrizes da histórica identidade construída pelo técnico argentino nas últimas 4 temporadas, alterando apenas o nível de intensidade e de agressividade com que a equipa pressiona o adversário logo nos primeiros minutos (porque efectivamente estes jogos dão “muito mais ganas” aos jogadores) – ainda há duas semanas, na partida disputada contra o Leganés a formação colchonera entrou à sua imagem e semelhança – a pressionar alto a saída adversária para condicionar a sua construção (obrigando a equipa adversária a reciclar o jogo para os espaços para os quais o Atleti quer que ela saia – para os corredores – para efectuar a rápida recuperação), nunca permitindo que a equipa adversária consiga estar confortável no jogo (leia-se: em posse durante longos períodos de tempo, no seu meio-campo), recuando as suas linhas quando a equipa sente que a pressão alta não está a surtir o devido efeito (não está a permitir a recuperação de bolas) e\ou que a disposição num bloco baixo extremamente bem organizado do ponto de vista de cobertura posicional e apoios (sectores bem preenchidos – sempre com superioridade nas zonas onde está a bola) é a disposição no terreno mais profícua para fechar a sua baliza, encurtar os espaços para a equipa adversária circular (negando-lhe sempre a possibilidade de entrar no jogo interior; linhas muito próximas) e capitalizar cada recuperação nas saídas para o contra-ataque, aproveitando claro está, neste capítulo, o maior adiantamento do adversário no terreno. Continuar a ler “Atlético 1-1 Barcelona – Um mero e breve conjunto de apontamentos”

Atlético vs Barça (1ª parte)

A jogada do único golo da partida. Transição simples e tão bem elaborada. Abertura para o flanco esquerdo onde Felipe Luis aparece bem projectado no terreno. O brasileiro apercebe-se que Ferreira-Carrasco, mais pelo interior tem espaço para receber porque Semedo lhe concedeu esse mesmo espaço. O brasileiro devolve para o interior.

yannick

O belga foi extremamente inteligente na sua acção. Em vez de receber, deixa passar a bola para tirar Semedo em definitivo do lance. Como podemos ver, Saúl também já ganhou a frente ao seu opositor, existindo espaço entre Rakitic e os defesas.

yannick 2

Yannick só precisa de colocar portanto a bola naquele espaço vazio que vai ser aproveitado por Saúl para executar aquele belíssimo remate em arco que beijou as redes da baliza de Ter Stegen.

O Barça tem efectivamente tido mais bola, mais iniciativa ofensiva e mais posse territorial no meio-campo adversário, frente a uma equipa que como se tem visto é capaz de pressionar muito bem em terrenos adiantados (já tendo conquistado várias bolas em erros de Jordi Alba, Piqué e Umtiti na saída de jogo) como de baixar rapidamente as suas linhas até aos seus últimos 30 metros, juntando linhas, sempre que pressente que a execução de um sistema pressão alta no meio-campo adversário não trará conquistas e prejudicará o equilíbrio defensivo pretendido pelo seu treinador Os últimos 30 metros do Barça tem sido o busílis da paciente mas conservadora exibição ofensiva dos culé – pouco criativa (variações de flanco a flanco – esteréis, porque Simeone consegue ter igualdade numérica na esquerda e superioridade 4×2 ou 4×3 na direita, mesmo nos lances em que Suarez tenta cair mais perto da esquerda para facilitar a missão de Inieste e Alba) pouco móvel (à excepção dos últimos 5 minutos do primeiro tempo, fase da partida na qual os centrais subiram até ao meio-campo adversário para permitir um certo adiantamento a Rakitic – só vi mobilidade em Messi e na dupla Semedo\André Gomes – ora entrando um por dentro, ora um por fora) incapaz de de circular rapidamente e de acelerar as transições para o contragolpe nos raros momentos em que a equipa madrilena perde a bola a meio-campo.

 

Os sons do Barcelona vs Las Palmas

Um momento tão raro para o telespectador, proporcionado pela ausência de público em Nou Camp.

A conversa que se gerou entre Suárez e o árbitro da partida no lance em que o uruguaio caiu na área dos Las Palmas, faz-me lembrar a moral da história de Pedro e o Lobo – o uruguaio já não consegue enganar nenhum árbitro em Espanha, nem mesmo nos lances em que sofre pequenos toques, tantas que foram as vezes nas quais, nos últimos anos, o uruguaio ludibriou a arbitragem com recurso às suas simulações de nota artística. “O que te pedi eu?” – perguntou o uruguaio ao juiz da partida, depois de se ter queixado de ter sido empurrado pelo adversário. 

Barcelona 3-0 Las Palmas – 5 breves apontamentos

1- A organização defensiva dos Las Palmas em Nou Camp. 

Esta deverá ter sido a primeira vez (não me recordo alguma vez ter acontecido tal coisa em Nou Camp nos últimos 20 anos) que os catalães jogaram em casa sem a presença de público nas bancadas do seu estádio. Os graves tumultos ocorridos nas ruas de Barcelona a propósito do referendo independentista proposto ao povo catalão pelo elenco directivo da Generalitat que actualmente governa aquela comunidade autónoma (?) do Estado Espanhol, região que certamente, ao que tudo indica passará ao estatuto de estado soberano nos próximos meses\anos, levaram o Barcelona, primeiro, durante a manhã, a pedir o adiamento do jogo marcado para a tarde de domingo, solução que foi prontamente rejeitada pela Liga Espanhola. A 30 minutos do início da partida, temendo a perda de 3 pontos em caso de desobediência à instrução da Liga Espanhola (entretanto a organização dirigida por Javier Tebas decidiu consultar a polícia; os mossos de esquadra avisaram que não teriam meios suficientes para garantir a segurança de todos os espectadores), a direcção culé lançou um comunicado no qual explicava as razões que motivaram a decisão de interdição do terreno à participação popular. Enquanto que cá fora, junto aos portões de acesso ao estádio milhares de pessoas tentavam entrar no recinto, no terreno de jogo gerou-se uma situação algo insólita: os comentadores e os telespectadores puderam ouvir com alguma clareza as várias comunicações que foram realizadas ao longo dos 90 minutos pelos jogadores de ambas as equipas, acontecimento muitos raros nos dias que correm.

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A imagem do dia

nou camp

O ambiente vivido nos portões de entrada de Nou Camp, poucos minutos antes do arranque à porta fechada do jogo contra o Las Palmas, decisão que foi deliberada pelo clube catalão na sequência da recusa que foi dada pela Federação Espanhola em relação ao adiamento do jogo. 

O patrão Battaglia revelou aos seus compatriotas a experiência que foi marcar Lionel Messi

Quando o Sporting decidiu avançar para a contratação do argentino, disse para mim mesmo que face ao que tinha visto do rendimento do jogador quer ao serviço do Chaves na primeira metade da temporada quer ao serviço do Braga na segunda metade da temporada 2016\2017, estaríamos a realizar a melhor contratação da presente temporada, numa transferência que só pecava, no meu entendimento, pelo empréstimo de Jefferson aos bracarenses. Não posso ser de todo hipócrita neste aspecto em particular: sempre fui apreciador das qualidades ofensivas (a forma como se projecta no terreno, a sua capacidade de cruzamento, a sua evidente capacidade de carregar o jogo para a frente) do lateral esquerdo brasileiro (apesar de também reconhecer que Jefferson tem efectivamente muitas deficiências quer no plano defensivo, designadamente de âmbito posicional, quer na vertente ofensiva como a incapacidade de conseguir jogar com o interior) mas, por outro também sei depreendi, que as pequenas lesões sofridas no último ano (que efectivamente levaram Jorge Jesus a preteri-lo por um cepo com duas rodas para a frente chamado Marvin Zeegelaar) desmotivaram imenso o jogador. Quando era chamado por Jorge Jesus para cumprir um par de minutos, Jefferson já não demonstrava de todo aquela “fome de vencer” que o caracterizou nas primeiras três temporadas ao serviço da formação de Alvalade.  Continuar a ler “O patrão Battaglia revelou aos seus compatriotas a experiência que foi marcar Lionel Messi”

A melhor exibição colectiva e táctica da temporada não resultou em mais porque houve falta de qualidade na definição e um ligeirinho complexo de inferioridade nos momentos-chave

barcelona

Um turbilhão de emoções. Quem viu no estádio deverá ter decerto sentido que o Sporting poderia ter retirado muito mais daquela segunda-parte. Não foi um verdadeiro “encostar do adversário” às cordas porque os catalães também defenderam bem (chegando a ter 8 unidades no interior ou nas imediações da área) e conseguiram a espaços, nos momentos de maior pressão adversária com muita classe, melhor, com a classe que estratifica jogadores como Jordi Alba, Andrés Iniesta, Sérgio Busquets e Lionel Messi como jogadores de 1ª linha mundial, ter mecanismos (os tais que faltaram ao Sporting para ser criterioso na saída para o contragolpe) para levar a bola para o meio-campo adversário, cumprindo a mais ortodoxa das estratégias de gestão da vantagem. Aquelas que nos faltaram cumprir por exemplos nos jogos contra o Feirense, Estoril e Olympiacos.

No entanto, o Sporting no 2º tempo fez o que 99% das equipas europeias não conseguiram fazer nos últimos 15 anos contra este Barça: encostar a equipa catalã ao seu último reduto, aplicar uma pressão altíssima e de certa forma asfixiante que não deixava os catalães sair “à lagardère” em construção (a defesa subida até perto da linha de meio-campo comportava os riscos e consequências depreendidas na primeira parte quando o Barça começou a explorar a profundidade devido à falta de alternativas concedida pela excelente organização defensiva do adversário) e roubar muitas bolas passíveis de se constituírem como contra-ataques bastante promissores.Nesses contra-ataques faltou-nos critério (bloco a subir rapidamente, falta de linhas de passe para dar continuidade às arrancadas de Bruno e Gelson; é certo que a cada recuperações caiam logo uma data de jogadores sobre o portador, a começar por Sergio Busquets, estacando imediatamente a transição com um desarme ou com uma falta cirúrgica; passes certeiros), faltou um certo apoio dos laterais às investidas nas alas e alguma qualidade no momento da definição das jogadas.

A melhor exibição colectiva e táctica da temporada (quase perfeita no primeiro tempo; arrojada e suicida no 2, mas que ao mesmo tempo nos encheu de tanto orgulho; cumprindo à risca o plano de jogo que já vinha desde há algumas semanas a antever) poderia ter sido selada com um tiro de glória se Bas Dost (a atravessar uma clara crise de confiança) tivesse optado por atacar aquela apetitosa bola com a fé que o caracteriza, ao invés da infrutífera decisão tomada com a assistência para o lado para a entrada o remate de Bruno Fernandes. Estivemos tão próximos de um resultado positivo susceptível de nos abrir a porta do sonho num verdadeiro mar de espinhos. Contudo, fiquei ciente de

  • se no domingo fizermos uma exibição deste quilate de pureza contra o Porto (creio que não é preciso alterar nada no onze titular e no plano de jogo; a melhor forma de respondermos à estratégia que Conceição apresentará em Alvalade será baixar linhas e dar-lhes toda a iniciativa no nosso meio-campo; temos suficiente estabilidade, segurança e organização defensiva para enfrentar qualquer equipa ) venceremos;
  • se formos um bocado mais organizados e menos temerários ofensivamente poderemos bater a Juventus.
  • A terceiro e não menos importante: este estádio atingido frente ao Barcelona ainda não é na minha opinião o nível de evolução máxima que esta equipa pode vir a atingir no decurso desta temporada.

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Os golos do dia

Cada vez mais importante na mecânica do Barcelona de Ernesto Valverde é Nelson Semedo. O “novo-velho” Barça, equipa que de novo no seu modelo de jogo pouco tem (à excepção da forma em como defende, em 4x4x2, das movimentações sem bola, e da reactivação do flanco direito, ultrapassado que parece estar o “barrete” da adaptação de Sergi Roberto à posição; nos últimos 5 anos, creio que a única invenção, quer ao nível táctico, quer ao nível das movimentações e dos processos de jogo ofensivos e defensivos, só ocorreu quando Luis Enrique mudou o sistema para 3x4x3; a organização defensiva dos seus mais recentes adversários, em blocos ultra recuados até à entrada da área é um bocado “mais do mesmo” daquilo que temos assistido da equipa nos últimos anos, ou seja, uma equipa que passa uma vida inteira a circular a bola com paciência no meio-campo adversário, à procura da solução ideal para entrar no bloco do adversário usando para o efeito uma multimodal panóplia de processos, nos quais a ideia passa sempre por libertar Messi; tornando Messi tão preponderante como sempre foi desde que começou a calçar as suas brilhantes Total 90; há que contrariar todos aqueles que afirmam categoricamente “que Messi está mais decisivo do que aquilo que era”, em todos os capítulos do jogo; basta ver a quantidade de vezes em que o argentino desce no meio-campo para pegar no jogo e organizá-lo; não está, exactamente tão decisivo quanto antes; a única coisa que verdadeiramente mudou neste aspecto foi a dependência da equipa em relação a Messi; prova disso mesmo são os 9 golos em 5 jogos) pode agora contar finalmente (até Iniesta cresce no jogo com a entrada de um bom lateral direito) com uma ala direita funcional com um lateral capaz de ligar o jogo (do exterior para o interior), atrevido quando tem a bola nos pés (Valverde gosta de dar liberdade a todos os jogadores para expressarem toda a sua criatividade) e capaz de identificar espaços e soluções (à imagem do que aconteceu neste lance, tabelando com Iniesta para entrar no espaço concedido pelo adversário) que granjeiem conquistas à equipa.

Já agora, o gesto técnico de Messi na cobrança do penalty é fenomenal!

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Dois erros dois golos

No Coliseum Alfonso Perez em Getafe, o Barcelona teve algumas dificuldades para contrariar a boa organização defensiva da formação orientada por José Bordalás. Com um bloco recuado de 4 linhas em 4x1x4x1, a formação dos arredores de Madrid não foi excepcionalmente pressionante à saída a jogar dos centrais catalães, preferindo esperar a entrada da bola nos médios (Busquets e Rakitic, sobretudo) para tentar controlar o “melhor de quatro mundos” , com recurso a uma estratégia de proximidade entre linhas, congestionamento do corredor central e marcação cerrada de várias unidades: o jogo interior entre linhas (sobretudo as entradas de Andrés Iniesta entre a linha média e a linha defensiva e os movimentos de antecipação de Luis Suárez, impedindo portanto as tabelas que usualmente são realizadas entre o avançado uruguaio e Lionel Messi; tabelas que permitem ao argentino rasgar pelo meio e entrar com a bola na área; congestionar o corredor central contra este Barça é uma virtude que poucas equipas conseguem realizar) a profundidade (não dando espaço aos médios catalães para tentar servir com recurso ao passe longo qualquer entrada de um jogador catalão nas costas da defesa; várias foram as situações de ataque nas quais os catalães colocavam 3\4 jogadores junto à linha defensiva contrária para tentar explorar a profundidade), a cobertura posicional nas alas, não dando azo a situações de inferioridade numérica sempre que Busquets procurava variar o centro de jogo para as alas e as movimentações de Leo Messi, movimentações (para o flanco direito essencialmente) que o argentino realizou em maior quantidade na 2ª parte face ao congestionamento no corredor central provocado pelo adversário. Quando tentou cair para os flancos, o argentino procurou desfazer o “congestionamento” do corredor central feito pelo adversário, convidando a equipa da casa a movimentar-se também para os flancos de forma a criar mais espaço para a equipa voltar a jogar no miolo.  Com um sistema de marcação cerrada (à zona) ao craque argentino sempre que este pegava na bola apareciam logo dois jogadores da formação da casa a fechar-lhe as portas às suas clássicas penetrações em drible para o interior. Continuar a ler “Dois erros dois golos”

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