Dois puros momentos de rock and roll!

Continuo ainda debruçado em alguns dos pormenores da vitória alcançada pelo City na noite de ontem frente ao Southampton. Como fiz questão de referir no post anterior, os lances de bola parada, em especial os pontapés de canto (na defesa aos livres laterais que o Southampton dispôs a mais de 30 metros da baliza, livres em que a equipa aproveita naturalmente para tentar criar situações de finalização para os seus 3 centrais, todos eles bons cabeceadores, Pep voltou a pedir à equipa para se posicionar em linha, subida, no exterior da área; executando uma estratégia cujos objectivos eram, em primeiro lugar, como não poderia deixar de ser, impedir situações de finalização e promover a recuperação da posse\iniciativa de jogo, e em segundo lugar, caso não fosse possível impedir a finalização adversária, dificultá-la ao máximo ou seja, assegurar que o adversário nunca dispusesse de situações de finalização demasiado próximas da baliza e flagrantes. Como Ederson é um guarda-redes que sabe medir muito tempo o tempo de saída a um cruzamento, o catalão confia ao brasileiro a rectaguarda da sua defesa caso o jogador que vai cobrar a falta tente bombear a bola para além do ponto até onde a defesa poderá previsivelmente descer) foram uns dos vários problemas colocados para formação orientada por Maurizio Pellegrino. Posso até afirmar, com conhecimento de causa que esta fase do jogo tem sido o verdadeiro tendão de aquiles da equipa de Manchester na presente temporada.

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Fieis à identidade construída do primeiro ao último minuto – o Manchester City de Guardiola é de outra galáxia!

Brian Clough em 1978:  “Se Deus quisesse que nós jogássemos no céu, Ele tinha colocado relva lá em cima.”

Poucas são as equipas que, ao minuto 95 de uma partida disputada contra um adversário difícil que soube contrariar defensivamente ao longo dos 90 minutos uma fatia generosa dos processos magicados pelos citizens (quando digo grande parte é mesmo grande parte; quem viu a partida terá forçosamente que atribuir os devidos créditos à exímia organização defensiva perpetrada pela formação orientada por Mauricio Pellegrino na partida disputada no City of Manchester) e que teve o condão de criar muitas dificuldades defensivas à formação da casa quer nas venenosas saídas executadas para o contra-ataque, quer no ataque aos lances de bola parada, conseguem ter disponibilidade física e psíquica para continuar a almejar a baliza adversária de acordo com os preceitos pedidos e trabalhados pelo treinador. A maior limitação intrínseca ao jogo, aquela que de facto mais pressão sob o discernimento dos jogadores (o factor tempo) quando aliada ao cansaço físico e psíquico sentido pelos jogadores e às dificuldades criadas por um comportamento defensivo eficaz por parte do adversária, cria na cabeça destes uma verdadeira mistura explosiva composta por falta de discernimento (remeto-vos para o fantástico post que foi escrito aqui pelo Pedro Bouças) descrença, e desvarios individuais.

É essa mistura explosiva que leva 99% das equipas a tentar o assalto final à baliza adversária através de um estilo mais directo e pragmático, ou seja, de um futebol em que para tentar criar uma tentativa de finalização a equipa opta por sucessivos despejos para a área ao invés da continuação de um futebol combinativo, que procure continuar a enganar o adversário (e a invadir os seus espaços, manobrando-o para o efeito) até alcançar aquele prometedor momento de finalização.

Várias acções realizadas pelos jogadores do City neste lance transpiram os princípios de jogo de Guardiola. Ao invés de bater longo na frente como ditava a necessidade, Ederson jogou curto, respeitando a identidade construída: um jogo apoiado onde é expressamente proibido bater longo na frente. Otamendi foi avançando pacientemente (provocando com bola o adversário; considera-se provocar com bola o ataque ao espaço em condução para atrair o adversário, de forma a procurar o homem livre que ao receber a bola vai provocar instabilidade no bloco adversário porque obrigará os jogadores adversários a ter que efectuar deslocamentos; se este os atrair para si, poderá libertar para outro homem livre, nos espaços em que tendencialmente estariam os defensores atraídos; isto foi precisamente o que Otamendi, Silva e DeBruyne fizeram) libertando apenas quando deixou o colega livre com espaço para criar. O espanhol rodou, fixou o adversário que lhe saiu ao caminho e libertou para a ala na tentativa de proporcionar a Raheem Sterling (o homem livre) um cruzamento para a área. A ideia do extremo sempre passou por flectir para dentro para executar um remate. Como 3 jogadores lhe saíram ao caminho, o extremo foi obrigado a procurar DeBruyne, que, num momento de inspiração de enorme brilhantismo técnico que não me passou despercebido…

debruyne 1debruyne 2

inverte novamente o sentido de jogo com uma recepção orientada que lhe faz permitir passar o esférico do pé esquerdo para o pé direito, antes de criar o espaço que Sterling vai aproveitar para finalizar com aquela técnica de remate que todo o mundo lhe reconhece.

 

O futebol de altíssimo quilate praticado pelo Manchester City frente ao Burnley

Para preencher as horas mortas dos aficionados que visitam diariamente este blog, (o meu obrigado!) deixo-vos aqui alguns momentos do meu “atípico” sábado (confesso que neste sábado só vi “partida e meia”; felizmente, pude ver, na íntegra, os 90 minutos da partida disputada entre o Manchester City e o Burnley e a primeira parte do FC Porto frente ao Paços de Ferreira) pouco desportivo:

Jogada 1

No meu humilde entendimento esta foi a jogada que melhor resume a filosofia de jogo  operacionalizada por Pep Guardiola nos Citizens. Em 22 segundos, 4 passes e 16 toques na bola (contando com os 9 toques dados por Bernardo Silva naquela admirável arrancada na qual o internacional português meteu a linha média do Burnley no bolso) os citizens fizeram chegar a bola da entrada da sua área à área adversária? Futebol minimalista? Não. Este futebol muito que se lhe diga ao nível de dinâmicas:  Continuar a ler “O futebol de altíssimo quilate praticado pelo Manchester City frente ao Burnley”

Os golos do dia (1ªparte)

Um auspicioso início de temporada para Romelu Lukaku

Ultrapassada que está, creio, a ligeira incongruência cometida por José Mourinho relativa à contratação de um jogador, por 75 milhões de euros, duas épocas depois de o ter dispensado quando era treinador de um adversário directo do United, num processo que conduziu à sua contratação por parte do clube que vendeu o jogador à posteriori para o clube de Manchester, a cada vez mais influência do jogador no futebol do United está à vista.

Eu não sou muito fã de estatísticas, reconheço. No entanto sei reconhecer a sua preciosa utilidade para avaliar determinados aspectos de evolução técnica ou táctica de um jogador e utilizo-as de vez em quando para esse efeito quando as estatísticas desse jogador combinam com uma ou mais observações nas quais vislumbro qualidade nas acções. Ao contrário do que vejo por aí em alguns jornais, sites e blogs de especialidade não as utilizo de forma abundante para explicar o quer que seja porque não sou, de todo, adepto de modelos de observação tecnocratas mas sim de modelos de observação qualitativos, modelos nos quais os aspectos matemáticos do jogo são meros exemplos complementares para reforçar essa mesma qualidade. Não me adiantam portanto os milhares de quadros estatísticos disponíveis em vários sites para perceber se um rendimento de um jogador traz qualidade ao futebol de uma equipa porque a qualidade nas várias vertentes do jogo só pode ser aferida qualitativamente através dos proveitos que o seu rendimento traz para o futebol dessa equipa, mediante a satisfação de um conjunto de factores de aferição nos quais devem estar sempre presentes o sistema táctico e modelo de jogo utilizado\operacionalizado pelo seu treinador, a interacção com os companheiros de equipa no terreno jogo e o benefício ofensivo ou defensivo que certa acção praticada oferece ao jogo da equipa.  Continuar a ler “Os golos do dia (1ªparte)”

Notas soltas sobre a goleada do City ao Real Madrid

Manchester City

  • Pressão alta eficaz no meio-campo adversário. Regra de ouro da filosofia de jogo de Guardiola. Pressionar para recuperar. Pressionar e recuperar para conter, controlar, dominar ou até asfixiar o adversário.
  • Processos de jogo ofensivos altamente verticalizados. Assim que a equipa recupera a bola, o jogador que recupera procura passar a bola imediatamente para o acelerador de jogo que estiver em campo (neste jogo foi Kevin DeBruyne) para que este possa acelerar rapidamente o jogo ou criar progressão através do passe. Assim que o belga recebia, os avançados procuram imediatamente desmarcar-se para o espaço vazio.
  • Outro dos processos de jogo verticalizados consiste na colocação de bolas nas antecipações aos centrais dos avançados. Tanto Gabriel Jesus como Aguero descem para vir buscar jogo. Quando um desce para vir buscar o jogo entre a linha média e a linha defensiva, o outro inicia automaticamente a desmarcação para a área. Se o avançado não ceder imediatamente a desmarcação, ambos os jogadores dispõem de uma útil ferramenta: o seu remate de meia distância. A recepção longe dos centrais permite-lhes a preparação do remate sem muita pressão.
  • Excelente dinâmica nas bolas paradas para libertar o (os) jogador(es)-alvo. Os jogadores-alvo deste City nas bolas paradas são por norma os centrais.
  • Facilidade na retirada da bola de zonas de pressão. Veja-se por exemplo, o lance exibido ao minuto 9:15 do vídeo. A bola não só é retirada com facilidade da zona de pressão por Kyle Walker, Sterling e DeBruyne como até culminará (através do passe do belga e da desmarcação do extremo pelo meio de dois adversários) numa situação de muito perigo para a baliza de Navas.
  • Dois avançados muito dinâmicos, muito laboriosos e muito empreendedores, com carta branca para atirar de qualquer distância, lado ou feitio.

Real Madrid

  • A ausência da principal referência de ataque, Cristiano Ronaldo, torna a equipa menos objectiva e mais errática. Benzema é naturalmente mais individualista do que costuma ser com o português em campo
  • Falta de intensidade na pressão.
  • Indefinição das zonas de pressão (já era um dos defeitos da equipa na temporada passada) de cada jogador a meio-campo. Nos momentos defensivos, os jogadores não assumem o mesmo posicionamento do princípio ao fim do jogo nem fazem uma ocupação inteligente e direccionada de todos os espaços necessários para pressionar e roubar a bola ao adversário.
  • Algum espaço entre a linha média e a linha defensiva para o adversário colocar a bola (os movimentos de antecipação do City foram frutos desse espaço).
  • Linha defensiva algo errática ao longo da partida.

Análise: Manchester City 0-0 Manchester United

Ao 3º encontro, o empate! Mourinho jogou para o empate e a equipa deu-lhe o empate. Depois de 2 jogos em que cada um dos treinadores pode sorrir, ao 3º, veio um empate que deixa tudo na mesma no que respeita à luta directa pelos lugares de qualificação directa e indirecta para a Champions League. O empate foi o resultado que mais castigou a única equipa que quis vencer a partida, o Manchester City de Pep Guardiola.

Com baixas de vulto registadas em ambas as equipas (Zlatan, Rojo e Pogba no lado do United; John Stones, David Silva e Nolito na equipa de Guardiola) ambas as equipas apresentaram-se com os melhores onzes disponíveis para atacar ester derby. Para colmatar a ausência do avançado sueco, José Mourinho decidiu fazer ascender ao onze titular para a esquerda do ataque Anthony Martial, movendo Marcus Rashford para a frente de ataque. Foram precisamente estas as duas unidades que conseguiram trabalhar os raros lances que a equipa dispôs no último terço do City. Com um começo de jogo muito agitado, tanto Martial como Rashford deram muita água pela barba aos seus marcadores directos (Pablo Zabaleta e Nicolás Otamendi) nos lances em que conseguiram isoladamente (muito isoladamente em contra-ataque) criar desequilíbrios através do seu fortíssimo drible e da sua velocidade. Em alguns dos lances, os dois homens mais adiantados do United obrigaram os seus marcadores directos a ter que cometer algumas faltas para os travar bem como Vincent Kompany a ter que fazer dobras aos seus companheiros para travar as suas incursões. Fora isso, o United criou apenas 2 ocasiões de perigo no jogo, uma delas flagrante quando Ander Herrera não conseguiu bater Cláudio Bravo com um cabeceamento ao 2º poste no final da primeira parte. Estas linhas resumem o parco comportamento ofensivo do United em toda a partida, numa partida em que os médios e avançados serviram essencialmente para defender e “perder bolas atrás de bolas na transição”.

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O Manchester City foi ao Mónaco passar umas férias e esqueceu-se dos quartos.

Resumidamente. O golo de Leroy Sané ainda disfarçou a passividade, a atitude desleixada e a falta de capacidade que a equipa demonstrou ao longo de 90% da partida e ao longo de 70% da eliminatória. O resto, bem, o resto foi uma lição de humildade e luta aplicada por uma equipa muito bem montada e muito bem organizada como é apanágio das equipas de Leonardo Jardim. O português e o principado do Mónaco estão de parabéns: o seu clube volta, 13 anos depois, ao convívio dos grandes da Europa e pode não ficar por aqui a viagem dos monegascos se a atitude competitiva demonstrada nesta eliminatória se prolongar nos quartos-de-final.

Ao contrário do que eu previa, o Manchester City não se apresentou de acordo com a identidade de jogo que sempre acompanhou Pep Guardiola ao longo do seu percurso como treinador. Com as linhas recuadas, ao invés de contrariar a estratégia que foi novamente montada por Leonardo Jardim (pressão altíssima) com linhas mais subidas e pressão mais alta, para recuperar a bola em terrenos mais altos e assim aniquilar o ímpeto inicial que era expectável por parte dos monegascos, assistimos a um City muito expectante que se deixou adormecer na sua própria teia. A equipa per si já revela muitas dificuldades a sair a jogar a partir de trás. Mais dificuldades revela quando tem a central um jogador sem rotinas para a posição de central como o é Kolarov e um jogador ineficaz a realizar transições, por clara falta de recursos, como é Fernandinho. Os monegascos trataram portanto de capitalizar todos os erros que foram cometidos pelos citizens. Aplicando uma pressão altíssima, no qual sobressaiu o posicionamento exímio das duas linhas (sempre muito próximas; sempre a dar “no osso” do adversário) e um jogador (Bakayoko; foi para mim o Homem do Jogo pela forma abnegada com que pressionou, correu, recuperou bolas, iniciou transições; enfim, encheu verdadeiramente o meio-campo), os monegascos repetiram a dose que já lhes tinha granjeado uma excelente exibição (pese embora o resultado) no City of Manchester.

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